Gerard Byrne. Imagens ou Sombras

Festival Temps d'Images

Exposição temporária e itinerante do artista irlandês Gerard Byrne (1969), organizada pelo Irish Museum of Modern Art em colaboração com o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian. Em Lisboa, a exposição foi inserida no Festival Temps d’Images, apresentando trabalhos em filme, vídeo, fotografia e instalação.
Temporary travelling exhibition of work by Irish artist Gerard Byrne (1969) organised by the Irish Museum of Modern Art in collaboration with the Calouste Gulbenkian Foundation’s Modern Art Centre. In Lisbon, the exhibition was included in the Festival Temps d’Images, and presented film, video, photographic and installation works.

Iniciativa do Irish Museum of Modern Art, de Dublin, a exposição «Gerard Byrne. Imagens ou Sombras» foi apresentada primeiramente neste museu, de 26 de julho a 31 de outubro de 2011, sendo depois apresentada em Lisboa, no Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), de 20 de setembro de 2012 a 6 de janeiro de 2013, e, posteriormente, na Whitechapel Gallery, de Londres, na primavera de 2013. Foram apresentados projetos de Gerard Byrne (1969) produzidos entre 2003 e 2010, que incluíam filme, vídeo, fotografia e instalação, frequentemente a partir de texto, que por vezes surge no formato de guiões utilizados por atores, com o objetivo de recriar situações culturalmente codificadas, em tom de crítica à sociedade burguesa. Em Lisboa, a exposição foi inserida no «Festival Temps d'Images».

Apesar de todas as apresentações partirem do projeto curatorial estabelecido por Enrique Juncosa, diretor do Irish Museum of Modern Art, pretendeu-se que a mostra, ao invés de se limitar a uma remontagem nos três espaços expositivos, se tornasse o resultado de uma colaboração entre o artista e as instituições onde foi apresentada. Assim, Isabel Carlos, diretora do CAM, e Achim Borchardt-Hume, coordenador de curadoria da Whitechapel Gallery, assumiram a curadoria associada neste projeto, que sofreu algumas alterações, nomeadamente ao nível do número de trabalhos expostos: se inicialmente, foram apresentados no Irish Museum of Modern Art os projetos New Sexual Lifestyles (2003), Subject (2009), A Thing is a hole in a thing it is not (2010), 1984 and beyond (2005-2007) e Case Study: Loch Ness (2001-contínuo), apenas três destes – A Thing is a hole in a thing it is not, 1984 and beyond e Case Study: Loch Ness – ocuparam o Hall, a Sala de Exposições Temporárias e a Sala Polivalente do CAM. Segundo o curador da exposição, todos os projetos, apesar de explorarem diferentes temas, partilhavam entre si um mesmo vocabulário estético e uma autoria imediatamente reconhecível: «The visual aesthetic of the pieces and Gerard Byrne's multilayered approach to his work create an exhibition that is both complex in its subject matter and recognizable in its imaginary reconstructions of the ongoing debates between the present soon to be past and the project future.» (Gerard Byrne. Images or Shadows, 2011, p. 217)

Tal como explicou Isabel Carlos, mais do que aludir à alegoria da caverna de Platão, «Imagens ou Sombras» remetia para «uma síntese do que interessa a Byrne, a realidade e a ficção, a verdade e a fantasia, não como categorias opostas mas porosas, que se contaminam e instabilizam» (Gerad Byrne. Imagens ou Sombras, 2012, p. 5).

O percurso expositivo iniciava-se no Hall e visava traçar uma relação entre o espaço arquitetónico do CAM, construído em 1983, e a instalação 1984 and beyond (2005-2007), trabalho que se desenvolveu a partir de uma iniciativa da revista Playboy e que reuniu doze autores de ficção científica para discutirem o «futuro do mundo, a evolução científica, as relações humanas e científicas» (Ibid., p. 1). Esta é ainda uma interessante obra de Byrne, em que o artista explora, à semelhança de outros projetos da sua autoria, as «fronteiras entre performance, televisão, teatro e cinema» (Ibid.).

No vídeo Homme à Femmes (Michel Debrane) (2004), dois atores reconstituíam uma entrevista ao filósofo francês Jean-Paul Sartre conduzida por Catherine Chaine, inicialmente publicada na revista Le Nouvel Observateur, em 1977, e no ano seguinte na revista Playboy. Além de as legendas não acompanharem aquilo que é dito, por corresponderem a uma tradução para inglês da entrevista escrita, esta instalação posicionava o observador num ponto entre a voz da jornalista, reproduzida numa saída de som atrás do visitante, e a voz do filósofo, que saía por trás da imagem vídeo.

A estranheza, o humor e a ironia caracterizam estes trabalhos e são transversais à obra de Gerard Byrne, tal como o intuito de instaurar a dúvida no público relativamente à origem destas instalações e ao objetivo do artista ao produzi-las, em oposição intencional à passividade inerente à contemplação televisiva. Por vezes, a participação do espectador torna-se física, como em A Thing is a hole in a thing it is not, citação do artista minimalista Carl Andre e obra que exige uma movimentação de ecrã para ecrã, numa performance que a diretora do CAM equipara à experiência de um visitante de museu quando transita de pintura em pintura (Ibid., p. 3). Nesta instalação de cinco ecrãs de grande escala, Gerard Byrne abordou o trabalho dos escultores minimalistas Carl Andre, Dan Flavin, Donald Judd, Robert Morris, Toni Smith, entre outros.

O catálogo da exposição, publicado pelo Irish National Museum, contém reproduções dos trabalhos expostos e ensaios assinados por Sven Lütticken, Tom McDonough, Maeve Connolly, Jeremy Millar, Bettina Funcke, Enrique Juncosa, Volker Pantenburg, Maria Muhle e Ian White. O CAM publicou também um pequeno caderno com um texto de Isabel Carlos e o programa de visitadas guiadas realizado no âmbito da exposição.

A mostra foi divulgada nos media nacionais, destacando-se o artigo do Público assinado por Luísa Soares de Oliveira, no qual a crítica de arte escrutina algumas instalações, começando por Case Study: Loch Ness, «peça [que] condensa de modo particularmente feliz as linhas de trabalho de Gerard Byrne» (Oliveira, Público. Ípsilon, 28 set. 2012, p. 38) e na qual o artista traça a cartografia do mito do mais famoso monstro escocês, sem, no entanto, assumir uma posição. Para tal, o artista reuniu desenhos, fotografias, um filme e uma escultura constituída por um emaranhado de ramos de árvores, para recriar a narrativa escocesa, que é relatada através de documentos fictícios. Deste modo, Byrne aborda a relação entre uma situação específica e a sua discussão e impacto nos media.

Luísa Soares de Oliveira, que atribui cinco estrelas à exposição, refere-se aos trabalhos de Gerard Byrne como projetos em que «tudo é realidade, ou, dito de outra forma, tudo se transforma em ficção, num vórtice de informação mediada pelas técnicas – a fotografia, o filme, os objectos –, pelos actores, pelos textos que acompanham cada peça». Sobre o projeto expositivo apresentado em Lisboa, salienta o facto de ser «surpreendente e gratificante encontrar uma reflexão tão madura e objectiva e uma utilização do vídeo tão eficaz sobre as diferentes realidades que nos rodeiam, e que nós próprios criamos», características que reforçam um dos objetivos da exposição, o de surpreender, desafiando o visitante, e provocar interrogações sobre a autenticidade e a natureza da imagem escrita, ouvida ou observada. Luísa Soares de Oliveira, que atribui cinco estrelas à exposição, refere-se aos trabalhos de Gerard Byrne como projetos em que «tudo é realidade, ou, dito de outra forma, tudo se transforma em ficção, num vórtice de informação mediada pelas técnicas – a fotografia, o filme, os objectos –, pelos actores, pelos textos que acompanham cada peça». Sobre o projeto expositivo apresentado em Lisboa, salienta o facto de ser «surpreendente e gratificante encontrar uma reflexão tão madura e objectiva e uma utilização do vídeo tão eficaz sobre as diferentes realidades que nos rodeiam, e que nós próprios criamos», características que reforçam um dos objetivos da exposição, o de surpreender, desafiando o visitante, e provocar interrogações sobre a autenticidade e a natureza da imagem escrita, ouvida ou observada (Ibid.).

Com o encerramento da exposição, a FCG adquiriu várias obras de Byrne à Lisson Gallery, que, segundo Teresa Gouveia, trouxe ao acervo do CAM um conjunto de obras coeso e de referência no percurso de um artista cujo reconhecimento internacional vinha aumentando. Foram adquiridos os trabalhos Warning signs, carefully placed (four possible permutations) (2001) (Inv. FE106 1-4), Connecting shapes (Three part analogy) (2001-contínuo) (Inv. FE107 1-3), As yet untitled work (Three connected sites) (2001-contínuo) (Inv. FE108 1-3) e East, South-South East, North-West, South-South East, North-West, again East (2001-contínuo) (Inv. FE109 1-6).

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

As yet untitled work (Three connected sites)

Gerard Byrne (1969-)

As yet untitled work (Three connected sites), 2001-contínuo / Inv. FE108 1-3

Connecting shapes (Three part analogy)

Gerard Byrne (1969-)

Connecting shapes (Three part analogy), 2001-contínuo / Inv. FE107 1-3

East, South-South East, North-West, South-South East, North-West, again East

Gerard Byrne (1969-)

East, South-South East, North-West, South-South East, North-West, again East, 2001-contínuo / Inv. FE109 1-6

Figures (Some analogies surveyed, and organized into concrete poetry and conceptual film forms, on dates between 2001-2011)

Gerard Byrne (1969-)

Figures (Some analogies surveyed, and organized into concrete poetry and conceptual film forms, on dates between 2001-2011), 2001-2011 / Inv. IM44

Forms in the realm of matter (Out from Altsigh / Away towards Invermoriston)

Gerard Byrne (1969-)

Forms in the realm of matter (Out from Altsigh / Away towards Invermoriston), Inv. FE103 1-2

Forms in the realm of matter (Out from Altsigh / Away towards Invermoriston)

Gerard Byrne (1969-)

Forms in the realm of matter (Out from Altsigh / Away towards Invermoriston), Inv. FE103 1-2

Forms in the realm of space (Near Dores / across from Urqhuart Castle)

Gerard Byrne (1969-)

Forms in the realm of space (Near Dores / across from Urqhuart Castle), Inv. FE105 1-2

Forms in the realm of the mind (North of Foyers / South of Easter Boleskine)

Gerard Byrne (1969-)

Forms in the realm of the mind (North of Foyers / South of Easter Boleskine), Inv. FE104 1-2

Warning signs, carefully placed (four possible permutations)

Gerard Byrne (1969-)

Warning signs, carefully placed (four possible permutations), 2001-contínuo / Inv. FE106 1-4

As yet untitled work (Three connected sites)

Gerard Byrne (1969-)

As yet untitled work (Three connected sites), 2001-contínuo / Inv. FE108 1-3

Connecting shapes (Three part analogy)

Gerard Byrne (1969-)

Connecting shapes (Three part analogy), 2001-contínuo / Inv. FE107 1-3

East, South-South East, North-West, South-South East, North-West, again East

Gerard Byrne (1969-)

East, South-South East, North-West, South-South East, North-West, again East, 2001-contínuo / Inv. FE109 1-6

Figures (Some analogies surveyed, and organized into concrete poetry and conceptual film forms, on dates between 2001-2011)

Gerard Byrne (1969-)

Figures (Some analogies surveyed, and organized into concrete poetry and conceptual film forms, on dates between 2001-2011), 2001-2011 / Inv. IM44

Forms in the realm of matter (Out from Altsigh / Away towards Invermoriston)

Gerard Byrne (1969-)

Forms in the realm of matter (Out from Altsigh / Away towards Invermoriston), Inv. FE103 1-2

Forms in the realm of matter (Out from Altsigh / Away towards Invermoriston)

Gerard Byrne (1969-)

Forms in the realm of matter (Out from Altsigh / Away towards Invermoriston), Inv. FE103 1-2

Forms in the realm of space (Near Dores / across from Urqhuart Castle)

Gerard Byrne (1969-)

Forms in the realm of space (Near Dores / across from Urqhuart Castle), Inv. FE105 1-2

Forms in the realm of the mind (North of Foyers / South of Easter Boleskine)

Gerard Byrne (1969-)

Forms in the realm of the mind (North of Foyers / South of Easter Boleskine), Inv. FE104 1-2

Warning signs, carefully placed (four possible permutations)

Gerard Byrne (1969-)

Warning signs, carefully placed (four possible permutations), 2001-contínuo / Inv. FE106 1-4


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Encontros ao Fim da Tarde

set 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Domingos com Arte

set 2012 – jan 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Uma Obra de Arte à Hora do Almoço

jan 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Artur Santos Silva (à esq.), Isabel Carlos (ao centro) e Gerard Byrne (à dir.)
Gerard Byrne (à esq.), Artur Santos Silva (ao centro), Isabel Carlos (ao centro) e Teresa Gouveia (à dir.)
Teresa Gouveia e Artur Santos Silva
Gerard Byrne (à esq.), Artur Santos Silva (à dir.)
Artur Santos Silva (à esq.), Teresa Gouveia (ao centro) e Isabel Carlos (à dir.)
Gerard Byrne, Artur Santos Silva, Teresa Patrício Gouveia e Isabel Carlos (da esq. para a dir.)
Artur Santos Silva (à esq.), Isabel Carlos (ao centro), Teresa Gouveia (à dir.)
Gerard Byrne (à esq.), Artur Santos Silva (ao centro) e Isabel Carlos (à dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 01151

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa relativa à aquisição de algumas obras expostas. 2012 – 2013

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00661

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, listas de obras, orçamentos, apólices de seguro, formulários de empréstimo, recortes de imprensa e material para o catálogo. 2009 – 2013

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 6925

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 2012

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 6924

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 2012


Exposições Relacionadas

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