Primeira mostra do ciclo «L’Artiste du Mois», correspondente ao ano de 1988. Implementada por José-Augusto França, esta iniciativa tinha como objetivo aproximar o público francês do panorama artístico português. Ao longo dos quatro anos (1984-1988) em que o ciclo decorreu, foram apresentados no Centre Culturel Portugais 27 artistas portugueses. Num primeiro momento, a escolha incidiu em artistas residentes em Paris, tendo este critério, posteriormente, perdido relevância. Dos sete artistas selecionados para o ano de 1988, apenas dois residiam em França, e só um deles em Paris, encontrando-se os restantes a desenvolver o seu trabalho em Lisboa, no Brasil e na Alemanha.

Cada exposição era composta por um pequeno conjunto de trabalhos do artista escolhido e por alguma documentação sobre o seu percurso. Por ocasião de cada uma destas mostras, era produzido um postal, no qual figurava uma obra representativa da exposição e, no verso, a biografia do artista e a sua morada de residência.

No caso da exposição de Fernando Lemos (1926), o postal produzido pelo Centre Culturel Portugais sugere que entre as obras expostas se encontrava a Série Memórias n.º 6 (1984). Três anos antes, este mesmo trabalho surgira reproduzido no cartaz e folheto da exposição «Fernando Lemos. Desenhos Memórias», apresentada na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01).

Nesta série de trabalhos, primeiramente mostrada na Paulo Figueiredo Galeria de Arte, em São Paulo (Brasil), cidade para onde o artista se mudara em 1952, Fernando Lemos explora as potencialidades da chapa de off-set, não como meio de reprodução, mas como suporte final. Estes Desenhos Memórias são, portanto, gravações de desenhos seus através da luz. Ao tentar descrever o conteúdo destes trabalhos, o artista afirma: «É isso, barroco, compulsivo, sem cortes, desvairado, algumas vezes recorte do já visto e olhado, deslembrado e desmembrado na televisão – esse planeta equidistante já nascido com a máscara da obsolescência!» (Fernando Lemos. Desenhos. Memórias, 1985)

Tal «proposta de linguagem especificamente sintética», como a caracteriza, requeria, na sua opinião, «uma superfície […] fria, sem texturas nem resquícios de emotividade», o que o terá levado à escolha da chapa de alumínio «fotossensibilizada» (Ibid.).

Tendo em consideração que a série em questão veio a integrar a coleção do Centro de Arte Moderna, esta mostra terá muito possivelmente levado a Paris outros destes trabalhos.

Mariana Roquette Teixeira, 2018