Quarta mostra do ciclo «L’Artiste du Mois», correspondente ao ano de 1988. Implementada por José-Augusto França, esta iniciativa tinha como objetivo aproximar o público francês do panorama artístico português. Ao longo dos quatro anos (1984-1988) em que o ciclo decorreu, foram apresentados no Centre Culturel Portugais 27 artistas portugueses. Num primeiro momento, a escolha incidiu em artistas residentes em Paris, tendo este critério, posteriormente, perdido relevância. Dos sete artistas selecionados para o ano de 1988, apenas dois residiam em França, e só um deles em Paris, encontrando-se os restantes a desenvolver o seu trabalho em Lisboa, no Brasil e na Alemanha.

Cada exposição era composta por um pequeno conjunto de trabalhos do artista escolhido e por alguma documentação sobre o seu percurso. Por ocasião de cada uma destas mostras, era produzido um postal, no qual figurava uma obra representativa da exposição e, no verso, a biografia do artista e a sua morada de residência.

No caso da exposição de Graça Morais (1948), o postal produzido pelo Centre Culturel Portugais sugere que entre as obras expostas se encontrava Le Sacré et le Profane (1986), uma pintura que integrara anteriormente a mostra «Graça Morais. Evocações e Êxtases» (1987) na Galeria 111. O conjunto de obras aí apresentado marcava, segundo Sílvia Chicó, uma nova fase no trabalho da artista, passando a sua pintura a ser gerada pela cor e pela forma (Graça Morais. Evocações e Êxtases, 1987). Le Sacré et le Profane (1986) reflete sobre o mundo, ordenado através de ideias como o bem e o mal, o espiritual e o carnal, o etéreo e o terreno, traduzindo o conflito entre religiosidade e erotismo e, por outro lado, os falsos moralismos muito presentes em meios conservadores, como a sua terra natal: Vieiro (Trás-os-Montes).

Então residente em Lisboa, na década anterior Graça Morais havia estudado dois anos em Paris (1977-78) com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Sobre esse período, a artista afirma: «Quando temos o encontro com a grande pintura, tudo é tão forte que a partir daí as escolhas e as identificações são imprescindíveis», e conta ainda: «Não entendia Picasso quando era aluna de Belas-Artes, nessa altura gostava do Greco, do Goya, do Chagall e dos surrealistas. Paris fez-me ver outras coisas. A pintura egípcia, sobretudo os retratos de Fayon, foi outra descoberta e continua a ser uma grande referência para mim.» (Morais, Expresso, 26 fev. 2017)

Contudo, ao decidir pintar Cristo crucificado, as influências de Marc Chagall parecem retornar, notando-se muitos paralelismos, não em termos cromáticos, mas de composição e imaginário fantástico com Christ au ciel bleu et à la chèvre rouge (1950). Esta exposição no Centre Culturel Portugais mostrava o trabalho recente de uma artista que, como afirmava Sílvia Chicó, soube traçar o seu próprio percurso, mantendo-se aberta e permeável às vanguardas internacionais (Graça Morais. Evocações e Êxtases, 1987).

Mariana Roquette Teixeira, 2018