Vieira da Silva nas Colecções Portuguesas

Exposição individual de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) no Brasil, organizada por ocasião da visita oficial do presidente da República Portuguesa Mário Soares àquele país. Comissariada por José Sommer Ribeiro, com o apoio do galerista e colecionador Manuel de Brito, contou com uma representação de 50 obras.
Solo exhibition of the work of Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) in Brazil organised for the official visit of the President of the Portuguese Republic, Mário Soares. Curated by José Sommer Ribeiro, with sponsorship from gallerist and collector Manuel de Brito, the show featured 50 artworks.

Exposição individual dedicada à apresentação das obras da pintora Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) no Brasil, organizada pelo Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), por ocasião da visita oficial do presidente da República Portuguesa Mário Soares àquele país.

Esta mostra constituiu uma oportunidade para dar a conhecer ao público brasileiro o trabalho da pintora de origem portuguesa, posteriormente naturalizada francesa, que viveu com o marido, o pintor Arpad Szenes (1897-1985), no Rio de Janeiro durante sete anos de exílio (de 1940 a 1947).

Na planificação da exposição, foram propostas ao presidente da FCG e ao Conselho de Administração duas soluções para deliberação: a primeira previa que o conjunto apresentado se circunscrevesse a obras apenas existentes em Portugal; a segunda supunha um conjunto mais abrangente, que incluiria obras de coleções portuguesas em depósito noutros países (Apontamento do Centro de Arte Moderna, 4 mar. 1987, Arquivos Gulbenkian, CAM 00122).

A exposição, comissariada pelo diretor do CAM, José Sommer Ribeiro, com o apoio do galerista e colecionador Manuel de Brito, foi apresentada no segundo andar do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) e contou com uma representação de 50 obras de Vieira da Silva, algumas realizadas no período do seu exílio no Brasil, e pertencentes a colecionadores portugueses, como Jorge de Brito, que cedeu para o efeito 33 obras, 18 das quais provenientes do seu depósito em Zurique. Jorge de Brito foi um dos maiores colecionadores de arte portuguesa do século XX e também o maior proprietário de obras de Maria Helena Vieira da Silva, adquiridas desde o final da década de 1960.

Foram ainda emprestadas obras do acervo do CAM (atual Coleção Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian) da coleção do Metropolitano de Lisboa, da Galeria 111 e da coleção de João Marques Pinto, assim como de colecionadores do Porto que quiseram conservar o anonimato, e que foram cedidas através da mediação da Galeria Nasoni.

No prefácio do catálogo, o comissário elucidava que a mostra não pretendia apresentar-se como uma retrospetiva da obra da pintora, mas apenas revelar a qualidade destas obras oriundas de coleções particulares portuguesas, institucionais e privadas. Num ofício interno dirigido à Presidência da FCG, José Sommer Ribeiro explicava alguns dos motivos que inviabilizavam a apresentação de uma mostra exaustiva da obra de Vieira da Silva, alegando, nomeadamente, não existirem em Portugal obras que permitissem fazer uma retrospetiva suficientemente completa, e apontava limitações no espaço destinado à exposição (Ibid.).

Como viria a salientar o então presidente do Conselho de Gerência do Metropolitano de Lisboa, José Manuel Pestana Basto, o bom acolhimento que esta iniciativa teve junto dos colecionadores resultava de um entendimento de que a obra de Vieira da Silva era «demasiado importante – enquanto património nacional e mundial – para permanecer no refúgio das coleções privadas» (Carta dirigida ao diretor do CAM, 13 mar. 1987, Arquivos Gulbenkian, CAM 00122).

A cronologia das obras apresentadas tinha início no período em que a artista vivera no Brasil e terminava na década de 1980. O comissário terá, todavia, feito esforços para reunir obras de referência de períodos mais recentes, especialmente da década de 1980, mas as diligências não terão produzido resultados.

A iniciativa foi elogiada pela imprensa brasileira e considerada «um dos grandes destaques» da visita oficial do presidente da República de Portugal e uma «bela amostragem do percurso» da artista (Galvão, Veja, 8 abr. 1987, p. 128). O crítico de arte João Cândido Galvão salientaria do conjunto apresentado «dois dados importantes: a coerência e o rigor formal de Vieira da Silva» (Ibid.). Os efeitos da exposição foram igualmente assinalados por vários críticos.

Apesar do bom acolhimento da exposição, surgiriam críticas menos favoráveis à sua montagem, como foi o caso desta, de Reynaldo Roels Júnior: «Infelizmente, a mostra sofre de uma montagem precária lamentável. O trajecto, sem qualquer lógica ou cronologia, se limita a um corredor espremido à parede do elevador do segundo andar (no primeiro, há uma exposição bem menos importante e que poderia ter sido sacrificada em função da artista portuguesa). […] O ideal seria remontar toda a exposição, que aparentemente foi determinada antes pelas limitações dos famosos e mal-falados painéis de vidro do MASP do que por exigências didácticas ou museológicas.» (Roels Jr., Jornal do Brasil, 14 abr. 1987, p. 7)

Na generalidade, a receção crítica da exposição procurou contextualizar a importância da obra de Vieira da Silva nos circuitos e movimentos internacionais da arte, mas também a sua influência e repercussão nas práticas artísticas brasileiras (Aguillar, Folha de São Paulo, 1 abr. 1987).

O texto da autoria de José Sommer Ribeiro no catálogo apresenta alguns dados menos conhecidos do percurso de Vieira da Silva, em especial do período em que a pintora e o marido viveram no Rio de Janeiro e do contacto que o casal manteve com artistas brasileiros (Vieira da Silva nas Colecções Portuguesas, 1987). 

Volvidos dois anos, a Casa de Serralves promoveu e organizou no Porto uma «exposição-homenagem» que procurou igualmente abranger as obras de Vieira da Silva nas coleções portuguesas, bem como as do pintor Arpad Szenes. Essa iniciativa, cujo projeto foi acompanhado por José Sommer Ribeiro, contaria com algumas obras do acervo do CAM (Vieira da Silva e Arpad Szenes nas Colecções Portuguesas, 1989).

Dois anos mais tarde, o Centro de Arte Moderna da FCG promoveu e organizou novamente uma exposição mais alargada de obras de Vieira da Silva pertencentes a coleções portuguesas, integrando-a nas atividades da Europália 91, em Bruxelas, onde Portugal foi país-tema (cf. Vieira da Silva dans les Collections Portugaises, 1991).

Filipa Coimbra, 2018

Individual exhibition dedicated to works by painter Maria Helena Vieira da Silva (Lisbon, Portugal, 1908 - Paris, France, 1992) in Brazil, organised by the Calouste Gulbenkian Foundation's Modern Art Centre (CAM) on the occasion of the official visit by the President of the Portuguese Republic, Mário Soares (1924-2017) to the country.
The exhibition was an opportunity to disseminate the Portuguese-born and later naturalised French painter's work among the Brazilian public. She had lived in Rio de Janeiro with her husband, painter Arpad Szenes (1897-1985), during her seven years in exile (1940-1947).
The exhibition plan included two solutions suggested by the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG) president to the Board of Administration for their consideration: the first established that the range of works included would be limited only to works found in Portugal; the second would include a wider range of pieces that included works in Portuguese collections located in other countries (Note by the Modern Art Centre, 4 Mar. 1987, Gulbenkian Archives, CAM 00122).
The exhibition, curated by CAM director José Sommer Ribeiro (1924-2006) and supported by gallery owner and collector Manuel de Brito (1928-2005) was shown on the second floor of the Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) and included a representation of 50 works by Vieira da Silva, some made during her time in exile in Brazil, belonging to Portuguese collections, such as the Jorge de Brito collection, which lent 33 pieces for the exhibition, 18 of which were held in his repository in Zurich. Jorge de Brito (1927-2006) was one of the greatest Portuguese art collectors of the 20th century and also the owner of the largest private collection of Maria Helena Vieira da Silva's works, acquired since the end of the 1960s.
As well as this private collection, pieces were also loaned from the CAM collection now known as the Calouste Gulbenkian Foundation's Modern Collection and the collections of the Lisbon Metro, Galeria 111 and João Marques Pinto, as well as collectors from Porto who wished to remain anonymous and were loaned through mediation by the Galeria Nasoni.
In the preface to the exhibition catalogue, the curator explained that the event was not intended to be a retrospective of the painter's work and sought only to reveal the quality of these works from Portuguese private and institutional collections. In an internal memo to the FCG president, José Sommer Ribeiro gave the reasons that made it impossible to put on an exhaustive exhibition of Vieira da Silva's work: there were not enough pieces in Portugal to provide a sufficiently complete retrospective and there were space limitations imposed by the exhibition area (ibid.).
As stated by the chairman of the managing board of the Lisbon Metro, José Manuel Pestana Basto, the welcome the initiative received from collectors was a result of the understanding that Vieira da Silva's work was too important as national and world heritage to remain hidden away in private collections (Letter sent to the MAC director, 13 Mar. 1987, Gulbenkian Archives, CAM 00122).
The timeline of the works began with the period when the artist lived in Brazil and ran up to the 1980s. Although some important pieces from Vieira da Silva's artistic career were included, the curator also attempted to include some landmark pieces from more recent periods, especially the 1980s; nonetheless, these efforts did not yield results.
The initiative was praised by the Brazilian press and was considered one of the major high points of the President of the Portuguese Republic's visit and a beautiful sample of the [artist's] career (Galvão, Veja, 8 Apr. 1987, p.128). João Cândido Galvão concluded that, of the pieces shown, two important facts stood out: Vieira da Silva's consistency and formal accuracy (ibid.). The exhibition's effects were also mentioned by several critics.
Despite this warm welcome, some less favourable critiques were made of the way the exhibition was set up. In Reynaldo Roels Jr.'s words: Unfortunately, the set-up of the exhibition is sadly precarious. The path through the exhibition, lacking any kind of rationale or chronology, is simply a corridor leading from the wall of the lift on the second floor (on the first, there is a much less important exhibition that could have been sacrificed for the Portuguese artist). (...) Ideally, the exhibition would be entirely reorganised, as it appears to have been defined in advance by the limitations of the famous and poorly-viewed glass panels at the MASP than by the demands of education or museology (Roels Jr., Jornal do Brasil, 14 Apr. 1987, p. 7).
Generally speaking, critical reception of the exhibition sought to contextualise the importance of Vieira da Silva's work in international art fields and movements, but also its influence and repercussions for Brazilian art (Aguillar, Folha de São Paulo, 1 Apr. 1987).
In the same way, the text introducing Vieira da Silva's career, written by José Sommer Ribeiro and included in the catalogue, included some lesser known information about the period the artist and her husband spent living in Rio de Janeiro and the contact they retained with some Brazilian artists (Vieira da Silva nas Colecções Portuguesas, 1987).
Two years later, it was the Casa de Serralves' turn to organise an exhibition-homage in Porto that also sought to include Vieira da Silva's pieces in Portuguese collections, as well as those of her husband, painter Arpad Szenes (1897-1985), the plans for which were monitored by José Sommer Ribeiro and included loans of some pieces from the CAM's collection (Vieira da Silva e Arpad Szenes nas Colecções Portuguesas, 1989).
Two years later, the CAM organised another, wider exhibition of Vieira da Silva's works that belonged to Portuguese collections, including it in the actions for Europalia Portugal 1991 in Brussels (see Vieira da Silva dans les Collections Portugaises, 1991).

Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

História Trágico-Marítima ou Naufrage

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

História Trágico-Marítima ou Naufrage, Inv. 78PE97

La bibliothèque en feu

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

La bibliothèque en feu, Inv. 79PE96

La Table Ronde

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

La Table Ronde, Inv. 78PE108

Landgrave

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

Landgrave, Inv. PE103

Le Héros ou Le Héraut

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

Le Héros ou Le Héraut, Inv. 78PE100

Les Degrés

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

Les Degrés, Inv. PE98


Eventos Paralelos

Visita oficial

[Vieira da Silva nas Colecções Portuguesas]

1 abr 1987
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP)
São Paulo, Brasil

Publicações


Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00122

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém lista de obras, ofícios internos, correspondência recebida e expedida, seguros, empréstimos, orçamentos, recortes de imprensa e elementos para o catálogo. 1987 – 1987


Exposições Relacionadas

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