Triluz. Hologramas

Ciclo «Arte e Tecnologia»

Exposição coletiva decorrida em simultâneo com outras atividades que assinalaram a abertura do ciclo «Arte e Tecnologia», cuja programação se fez em torno da cibercultura e dos novos media, que marcaram algumas tendências do final da década de 1980. A mostra contou com cinco hologramas da autoria de alguns dos mais destacados membros do concretismo brasileiro.
Exhibition held as part of a series of parallel events in the “Art and Technology” series. The show focused on new media and cyberculture that had proven influential on certain movements in the late 1980s. The show consisted of five holograms by some of the most distinguished artists of the Brazilian concrete art movement.

O final da década de 1980 assistiu ao arranque consolidado da vertigem tecnológica de que hoje logramos na sociedade do século XXI. Apostado em sondar esse futuro, o ciclo «Arte e Tecnologia», ocorrido na Fundação Calouste Gulbenkian entre dezembro de 1987 e janeiro de 1988, convocou as artes visuais e performativas, a ciência e a tecnologia, a poesia e a música, para explorarem osmoses entre si no limiar do que então se começava a definir como «cibercultura». Promovido pelo Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e afirmando a transversalidade característica desse organismo, os vários espaços do Centro de Arte Moderna da FCG eram assim colocados sob o signo da interdisciplinaridade, desdobrada numa miríade de atividades paralelas (cf. Programa do ciclo «Arte e Tecnologia», Arquivos Gulbenkian, ACARTE 01119).

O ACARTE reafirmava, deste modo, a sua capacidade aglutinadora, voltando a convidar as diferentes dimensões da atividade cultural e científica da Fundação a desenvolverem profícuas interações, em articulação com um vastíssimo leque de representantes de instituições parceiras, nacionais e estrangeiras.

A exposição «Triluz. Hologramas» foi inaugurada a 16 de dezembro de 1987, em simultâneo com outras atividades paralelas que marcavam a abertura da iniciativa «Arte e Tecnologia». Patente na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna (atual Sala de Projeto), trazia a Lisboa cinco hologramas da autoria de alguns dos pioneiros do Concretismo brasileiro: Wagner Garcia, Moysés Baumstein, Julio Plaza, Décio Pignatari e Augusto de Campos (os dois últimos fundariam, com Haroldo de Campos, o grupo Noigandres e a importante revista com o mesmo nome, que lançou, a partir de São Paulo, as bases para o movimento de Poesia Concreta no Brasil, em 1952).

Tendo assumido um papel de relevo aquando das primeiras inseminações da poesia modernista europeia no Brasil, estes autores estavam agora a adotar a holografia como uma variante pós-moderna das diversas práticas artísticas que, ao longo de todo o século XX, foram marcando as fileiras modernistas da poesia visual e da poesia concreta – desde o Futurismo italiano, aos calligrammes de Guillaume Apollinaire, passando pelos poetas futuristas e pela Zaum na Rússia.

Dos artistas intervenientes na exposição, terá cabido a Moysés Baumstein o papel de se articular com a FCG. Data de 18 de agosto uma carta de Baumstein para Maria Madalena de Azeredo Perdigão, então diretora do ACARTE, agradecendo o convite e o custeio da sua viagem a Portugal para montar a exposição e tomar parte nas atividades do ciclo «Arte e Tecnologia». Seria acompanhado por Décio Pignatari, outro dos artistas participantes na exposição «Triluz. Hologramas», que viria também proferir um colóquio intitulado «Luz Sólida» no âmbito deste ciclo de programação (Apontamento do Centro de Arte Moderna, 28 ago. 1987, Arquivos Gulbenkian, CAM 00119). Nessa mesma correspondência, fica expresso que o Centro de Arte Moderna financiaria os materiais museográficos para expor os hologramas trazidos pessoalmente por Baumstein. 

Processo descoberto pelo físico Dennis Gabor nos anos 40 do século XX, a holografia, na sua mais recente aplicação às artes, tinha já antecedentes na atividade cultural da FCG. Dois anos antes, em 1985, tinha decorrido «A Imagem Holográfica. Oito Artistas da Era do Laser», exposição pioneira no âmbito de um projeto-piloto internacional da Goldmisths College of Art, de Londres, subsidiado pela delegação britânica da Fundação desde 1978. Nela participaram artistas que se viriam a tornar referências mundiais nesse domínio (cf. A Imagem Holográfica. Oito Artistas na Era do Laser, 1985).

Já dois meses antes da realização de «Triluz. Hologramas», a revista Colóquio/Artes, basilar para a atividade cultural da FCG, publicara um artigo da autoria do poeta e hológrafo brasileiro Eduardo Kac (1962), intitulado «Holopoesia e Dimensão Fractal» (Colóquio/Artes, n.º 74, set. 1987, pp. 44-47). Kac era então um jovem seguidor dos artistas que participariam na exposição «Triluz. Hologramas» em dezembro de 1987 e viria a tornar-se uma referência do pós-modernismo brasileiro.

A própria arte brasileira começa a receber, neste período, um reforço de atenção por parte da FCG. Logo no ano seguinte, no n.º 76 da Colóquio/Artes (o mesmo onde é referenciado o ciclo «Arte e Tecnologia»), José-Augusto França publica um artigo intitulado «“Modernidade” Brasileira». O texto parte da exposição «Modernidade. Art brésilienne du 20e siècle», no Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris, «integrada no programa anual “France-Brésil” [a que] o Centro Cultural de Paris da FCG se associou». Adianta o então diretor da Colóquio que a Delegação de Paris (à data Centre Culturel Portugais, atual Fondation Calouste Gulbenkian, Délégation en France, Paris) prenunciara essas «manifestações culturais» com uma «apresentação do dossier Portinari e adicionando-lhes um colóquio “Portugal-Brasil-França” em que os princípios teóricos da actual exposição foram apresentados em comunicação do nosso colaborador Roberto Pontual, um dos seus programadores». Relembra ainda J.-A. França que este coprogramador da referida exposição era também colaborador da Colóquio/Artes, como o eram outros agentes culturais intervenientes no Programa «France-Brésil» (França, Colóquio/Artes, n.º 76, mar. 1988, pp. 34-39).

Com efeito, neste final da década de 1980, observa-se um forte envolvimento da Colóquio/Artes com a arte brasileira e os seus protagonistas. Basta lembrar que um outro participante neste mesmo n.º 76 foi o arquiteto Óscar Niemeyer, com um artigo sobre a sua conterrânea e homóloga Sonia Ricon Baldessarini.

Muito para lá de um mero eco da estreita colaboração cultural entre os dois países lusófonos, os sucessivos destaques conferidos à arte moderna brasileira por parte da revista parecem manifestar uma preocupação continuada com uma certa estereoscopia do modernismo – fenómeno que começava então a trilhar conceções historiográficas menos eurocêntricas, para as quais o estudo do modernismo brasileiro desempenha um papel central.

 

Desempenhando a Colóquio/Artes um papel estrutural para a atividade cultural da FCG neste período, a insistente incidência sobre o contexto artístico brasileiro era o reflexo de algumas prioridades da programação, ao mesmo tempo que se repercutiria em diversos momentos da oferta expositiva – a exposição «Triluz. Hologramas» foi um deles. Outros exemplos serão «Pioneiros e Discípulos. Gravura Brasileira», a mais antropológica «A Natureza Amazónica e o Índio do Xingu» ou uma individual de Alex Flemming, todas em 1988. Fechando a década, 1989 trouxe ainda «Seis Décadas de Arte Moderna Brasileira. Colecção Roberto Marinho».

Daniel Peres, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

O Espaço e a Geometria na Colecção Gulbenkian

17 dez 1987 – 19 dez 1987
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galerias da Exposição Permanente
Lisboa, Portugal
Teatro

O Lagarto do Âmbar

14 dez 1988
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala Polivalente
Lisboa, Portugal
Concerto

Música Espacial

16 dez 1987
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Hall
Lisboa, Portugal
Concerto

Júpiter

17 dez 1987
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala Polivalente
Lisboa, Portugal
Colóquio

Arte e Tecnologia

17 dez 1987 – 19 dez 1987
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala Polivalente
Lisboa, Portugal
Exibição audiovisual

Lisboa. Spiritus Loci

18 out 1985 – 2 nov 1985
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala Polivalente
Lisboa, Portugal

Publicações


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00119

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém epistolografias e orçamentos. 1987 – 1988

Arquivos Gulbenkian (ACARTE), Lisboa / ACARTE 01119

Pasta com negativos, provas fotográficas, material gráfico, folhas de obra e demais epistolografia, em que se incluem documentos referentes ao colóquio «Arte e Tecnologia» e às atividades que lhe foram paralelas, entre as quais a presente exposição. 1987 – 1987

Arquivos Gulbenkian (ACARTE), Lisboa / ACARTE-S084-P0113/05

Coleção fotográfica: aspetos e eventos associados (FCG-CAM, Lisboa) 1987


Exposições Relacionadas

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