A exposição «Desenhos de Mahmoud Sabri» na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) foi uma das diversas atividades complementares que acompanharam o ciclo «Arte e Tecnologia».

O ciclo partira da iniciativa do Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE) da Fundação Calouste Gulbenkian, em parceria com a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-UNL). A produção terá ficado a cargo do Centro de Arte Moderna (CAM) da FCG, que albergou todas as atividades da programação no seu espaço, desde os colóquios que decorreram na Sala Polivalente durante os dias 17, 18 e 19 de dezembro de 1987, até às diversas atividades paralelas, que se estenderam até fevereiro de 1988. Essa programação paralela contemplou a música experimental, as artes computorizadas, uma peça de teatro e três exposições de artes visuais, entre as quais esta individual de Mahmoud Sabri (1927-2017), que teve lugar no Hall do CAM (Arte e Tecnologia, 1987).

A mostra contemplava dois desenhos de grande formato (90 × 144 cm e 90 × 254 cm), diretamente relacionados com a conferência proferida pelo autor no dia 18 de dezembro, subordinada ao tema «Uma representação artística da estrutura do átomo de hidrogénio – realismo quântico». O convite dirigido pelo ACARTE ao artista e teórico iraquiano teve por base apenas o colóquio. Coube a Sabri sugerir a realização da exposição, por forma a dar a ver concretizações plásticas desta sua noção de realismo quântico – uma exploração gráfica e pictórica de padrões visuais provenientes de uma realidade atómica a que a ciência do século XX permitiu aceder (Carta de Sabri para Madalena Perdigão, 23 out. 1987, Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00704).

Com um percurso inicial dentro de uma pintura socialmente engajada, é já no final da década de 1960 que Sabri parte para explorações que cruzam arte e ciência. Em 1971, publica o Manifesto of the New Art of Quantum Realism (QR): An application of scientific method in the field of art, dando o batismo à pesquisa artística que levaria a cabo até ao final da vida.

Membro fundador da vanguarda artística iraquiana, Sabri viveu grande parte da sua vida no exílio, estudando no Reino Unido e em Moscovo. À data da participação no ciclo «Arte e Tecnologia», encontrava-se estabelecido em Praga, República Checa.

Daniel Peres, 2018