Exposição evocativa do centenário do nascimento do compositor francês Claude Debussy (1862-1918), figura emblemática e decisiva para a História da Música, cujo mérito a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) quis homenagear, contribuindo para a «educação artística do povo português», intenção estatutária da instituição (Exposição Comemorativa do Centenário…, 1962).

Organizada pela Bibliothèque Nationale de France, em colaboração com o Serviço de Música da FCG, presidido à data por Madalena de Azeredo Perdigão, a exposição, vinda da Galerie Mansart, realizou-se em Lisboa, no Teatro Nacional D. Maria II, durante os meses de outubro e novembro de 1962. Para valorizar a ligação de Debussy a Portugal, foram integradas na apresentação portuguesa referências epistolográficas provenientes da correspondência trocada entre o compositor e diversas personalidades nacionais, nomeadamente o maestro e compositor Francisco de Lacerda (1869-1934).

Enquanto exposição didática e documental, procurou disponibilizar ao público o contacto com documentação iconográfica relevante, fazendo uma retrospetiva cronológica dos principais acontecimentos pessoais e criativos da vida do músico, mediados pelo acesso ao seu espólio e pela importante documentação proveniente de arquivos de instituições francesas e de particulares. A seleção das peças resultou da cautelosa orientação de François Lesure, bibliotecário do Departamento de Música da Bibliothèque Nationale de France, coorganizador da exposição e do seu catálogo.

Obedecendo a propósitos evocativos, o certame contou com um projeto expositivo que procurou integrar elementos de reconstituição (maquetes e figurinos) com soluções museográficas documentais. Para tal, foi assumida, desde logo, a heterogeneidade na seleção dos objetos a expor, que totalizaram 328 peças, entre as quais o daguerreótipo de Debussy em criança, o passaporte para Moscovo (cidade onde privou com Nadezhda von Meck, protetora de Tchaikovsky), o diploma do seu primeiro grande prémio em Roma, a cópia de um retrato de Wagner da autoria de Renoir, instrumentos musicais de Java, postais de cafés onde conviveu, um sapo-talismã, programas de audições e concertos, partituras, esboços sinfónicos, e até a sua máscara mortuária.

No entanto, a exposição não se centrou apenas nos valores documentais, consagrando verdadeiros apontamentos artísticos, como os retratos de Debussy, da autoria de Jacques-Émile Blanche (1861-1942) e de Marcel Baschet (1862-1941), a caricaturas de Georges Villa (1883-1965), um retrato de Ernest Chausson (1855-1899) por Odilon Redon (1840-1916), um desenho de Igor Stravinsky (1882-1971) da autoria de Jean Cocteau (1889-1963) e painéis de laca chineses, entre outros elementos significativos.

Foi publicado um catálogo descritivo e detalhado, organizado cronologicamente em cinco capítulos, distribuídos pelos momentos mais determinantes da vida e obra de Claude Debussy: «Da infância ao prémio de Roma»; «O “período dos cafés”. Influências»; «Pelléas et Mélisande»; «A aurora do Debussysmo»; «O Martírio de São Sebastião. Os bailados russos e os últimos anos».

A exposição foi inaugurada a 11 de novembro de 1962, com a presença do presidente da República, Américo Tomás, e contou com o discurso de abertura de Julien Cain, diretor da Bibliothèque Nationale de France.

Foram ainda organizadas atividades complementares à exposição, tais como um ciclo de cinco concertos «em cujos programas se procurou incluir as obras mais representativas de Claude Debussy e aquelas que com menos frequência se executam em Portugal» (Exposição Comemorativa do Centenário…, 1962).

Outra das oportunidades criadas pela organização desta mostra foi a extensão dos concertos à cidade do Porto, onde foi apresentado um concerto do Coral Sinfónico Comemorativo do Centenário de Claude Debussy, em colaboração com a Orquestra Sinfónica do Porto e a Emissora Nacional, que, tal como já havia acontecido na edição de Lisboa, contou com a orientação do maestro Désiré-Émile Inghelbrecht. Estes concertos assumiram uma grande relevância no panorama cultural português, uma vez que apresentaram, em Portugal, as primeiras audições integrais de O Martírio de São Sebastião, umas das mais importantes composições de Debussy.

Quanto a eventos associados, é de referir ainda a realização de conferências proferidas por Marc Pincherle e Pasteur Vallery-Radot.

Filipa Coimbra, 2016