Desenhos. Década Pluralista

Inaugurada em Lisboa com a colaboração da Fundação Calouste Gulbenkian, esta exposição itinerante foi organizada em torno de categorias práticas. Expondo desenhos realizados por artistas americanos, ou a residir nos Estados Unidos da América, a mostra traçou uma retrospetiva da década de 1970.
Travelling exhibition presenting a panorama of American art of the 1970s divided into standard artistic categories. The show, staged at the end of the decade, exhibited drawings by American artists as well as artists based in the United States, and was hosted in Lisbon with the collaboration of the Calouste Gulbenkian Foundation.

Exposição itinerante de desenhos realizados por artistas americanos, ou a residir nos Estados Unidos da América, organizada pelo Institute of Contemporary Art – University of Pennsylvania e pela Agência Internacional de Comunicação, apresentada em Lisboa com a colaboração da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), por intermédio do seu Serviço de Exposições e Museografia, e da Embaixada dos Estados Unidos da América em Portugal.

A exposição apresentada em Lisboa correspondia à itinerância da representação norte-americana da 39.ª Bienal de Veneza (1980), organizada em torno da década de 1970. Neste sentido, a exposição traçaria uma retrospetiva, centrada no desenho, representativa dos artistas em atividade durante esse período e aludindo à transdisciplinaridade e experimentalismo que caracterizou a atuação de alguns dos artistas americanos que influenciariam e transformariam a produção artística que se lhes seguiu, entre os quais Sol LeWitt (1928-2007), Robert Wilson (1941), Robert Irwin (1928), Philip Glass (1937), Lynda Benglis (1941), Frank Stella (1936) ou Christo (1935). 

Duas razões sustentaram a opção de expor exclusivamente desenho: além da sua importância enquanto objeto artístico ou testemunho dos processos de investigação, o seu formato permitiria e facilitaria ainda o transporte, a circulação e a itinerância da exposição. Esta homogeneidade do suporte contrastaria com a extensa representatividade dos artistas selecionados e com a heterogeneidade dos estilos e processos criativos.

Comissariada por Janet Kardon, diretora do Institute of Contemporary Art/University of Pennsylvania, a exposição contou com um total de 66 desenhos, realizados por 66 artistas de várias áreas artísticas, incluindo pintura, escultura, arquitetura, dança, música, arte gestual e audiovisual. Entre estes artistas, que se destacaram pelas suas colaborações em projetos coletivos, participativos e interdisciplinares, cruzando as artes plásticas e a performance, mas também pelas suas práticas individuais, encontravam-se representadas algumas referências da arte americana e internacional, como Gordon Matta-Clark (1943-1978), a artista experimental e música Laurie Anderson (1947) e a coreógrafa Trisha Brown (1936-2017), pertencentes à geração de pioneiros da downtown de Nova Iorque e que acabaria por criar no bairro de SoHo uma comunidade artística informal que utilizava a cidade como objeto de trabalho, reflexão e cenário.

A exposição foi organizada a partir de cinco categorias: 1) envolvimentos interiores e exteriores; 2) desenhos de arquitetos e construções de artistas; 3) decorações; 4) linguagem (e códigos linguísticos como a arte gestual, a dança, a música e a arte narrativa); 5) nova arte figurativa (natureza, caducidade, perceção e ego).

O pintor Fernando de Azevedo concordaria com esta abordagem dos objetos expostos, e, na sua crítica à exposição para a revista Colóquio/Artes, referiria: «Esta estruturação, menos de movimentos organizados ou de escolas, mais de parentescos nas motivações e de abordagens diversificadas, é um dado crítico e histórico novo na leitura moderna da arte americana.» (Azevedo, Colóquio/Artes, n.º 49, jun. 1981, p. 62)

Um dos intuitos de Janet Kardon consistiria em «propor, através de desenhos, uma interpretação da década que convida à discussão e submetê-la à prova final do juízo histórico». A premissa da comissária era «que os anos 70 são uma década subestimada e que o seu tão citado pluralismo é uma resposta às crescentes pressões sociais e aos decrescentes imperativos no âmbito da própria arte» (Desenhos. Década Pluralista, 1981).

Durante o período em que a mostra de desenhos esteve em exibição no piso 01 da Galeria de Exposições Temporárias da FCG, foram promovidos pelo Serviço de Música da FCG vários espetáculos de dança pela Merce Cunningham Dance Company, no âmbito da temporada 1980/1981 (Fractions, 1976; Tango, 1978; 10’s with Shoes, 1981; Roadrunners, 1979), aos quais se seguiu uma conferência proferida pelo coreógrafo Merce Cunningham e pelo compositor John Cage, referências fundamentais destas gerações de artistas americanos. Além de integrar textos de alguns dos principais pensadores sobre os artistas e o período em questão, o catálogo da exposição (onde cada um dos convidados se pronunciou sobre uma das cinco áreas temáticas) contou ainda com uma cronologia dos principais acontecimentos da cena artística americana durante a década de 1970 e com uma lista das principais publicações e exposições. 

Fernando de Azevedo sintetizaria assim a exposição Desenhos. Década Pluralista: «Uma exposição interessantíssima, a um tempo analítica e crítica e de certo modo prospectiva sobre a possível vocação estética dos próximos anos 80 nos Estados Unidos. […] E, sobretudo, o que fica desta assinalável, diríamos “histórica”, exposição americana é a sensação de uma arte que se está fazendo, vivendo-se no seu próprio e independente risco actual, e nisso provavelmente visualizará a futura década.» (Azevedo, Colóquio/Artes, n.º 49, jun. 1981, p. 62)

Filipa Coimbra, 2017

Travelling exhibition of drawings by American artists or artists living in the US organised by the Institute of Contemporary Art. University of Pennsylvania and the International Communication Agency, shown in Lisbon with the cooperation of the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG), through its Exhibitions and Museography Department, and the Embassy of the United States of America in Portugal.
The exhibition held in Lisbon was part of the tour of the North American entry at the 39th Venice Biennale (1980), based around the recently ended 1970s. The exhibition was therefore a retrospective focusing on drawing, representing artists working during that period and alluding to the interdisciplinarity and experimentalism that had characterised the actions of some American artists who would influence and transform later artwork, including Sol Lewitt (1928-2007), Robert Wilson (1941), Robert Irwin (1928), Philip Glass (1937), Lynda Benglis (1941), Frank Stella (1936/38) and Christo (1935).
There were two reasons underlying the decision to exclusively focus on drawing: as well as its importance as an artistic object and as evidence of research processes, its format would allow for (and even facilitate) the exhibition to be transported and travel. The similarity in the medium contrasted with the extensive representativeness of the selected artists and the variety of styles and creative processes.
Curated by Janet Kardon, director of the Institute of Contemporary Art. University of Pennsylvania, the exhibition comprised a total of 66 drawings produced by 66 artists from different fields of art, including painting, sculpture, architecture, dance, music, action and audiovisual art. These artists, who stood out for their collaborative work in group projects - participatory and interdisciplinary, at the intersection between visual arts and performance - but also for their individual production, included some crucial figures of American and international art, such as Gordon Matta-Clark (1945/43-1978), the musician and experimental artist Laurie Anderson (1947) and the choreographer Trisha Brown (1936-2017), who belonged to New York's pioneering downtown generation. This group would eventually create an informal artistic community in the SoHo area that used the city as an object of work, reflection and backdrop.
The exhibition was organised not by movements but around 5 categories: 1 - internal and external surroundings; 2 - architectural drawings and artists' constructions; 3 - decorations; 4 - language (and language codes, such as action art, dance, music and narrative art); 5 - new figurative art (nature, ephemeral, perception and ego).
The painter Fernando de Azevedo (1923-2002) would agree with this new approach to the objects exhibited. In his review of the exhibition for Colóquio. Artes, he said:
This structure, not by organised movements or schools but rather by similarities in the different motivations and approaches, is a new critical and historic moment in the modern reading of American art (Azevedo, Colóquio. Artes, no. 49, Jun. 1981, p. 62).
One of the goals of the curator was, therefore: to propose, via drawings, a reading of the decade that encourages discussion and submits it to the ultimate test of historical judgement. (...) My overall premise is that the 1970s are an underestimated decade and that their so-often cited pluralism is a response to growing social pressures and decreasing imperatives in the scope of art itself (Desenhos. Década Pluralista, 1981).
While the exhibition of drawings was open on the Lower Ground Floor of the FCG Temporary Exhibitions Gallery, several dance performances by the Merce Cunningham Dance Company were organised by the FCG Music Department in the 1980/1981 season (Fractions, 1976; Tango, 1978; 10's with shoes, 1981; Roadrunners, 1979). These were followed by a conference given by choreographer Merce Cunningham (1919-2009) and composer John Cage (1912-1992), fundamental figures of these generations of American artists. As well as including texts by some major thinkers about these artists and this period - each person was invited to discuss one of the five themed sections - the exhibition catalogue also included a chronology of the major events of the American art scene in the 1970s, as well as references to the main publications and exhibitions.
Therefore, in the words of Fernando de Azevedo, Desenhos: Década Pluralista was: a very interesting exhibition, at once analytical and critical and somewhat prospective about the possible aesthetic vocation of the coming 1980s in the United States. (...) And, above all, what remains from this notable, we could say 'historic', American exhibition is the feeling of an art that is making itself, living itself in its own and independent current risk and, it will likely see the coming decade in that (Azevedo, Colóquio. Artes, no. 49, Jun. 1981, p. 62).

Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

[Espetáculos da Merce Cunningham Dance Company]

mai 1981
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 2
Lisboa, Portugal
Bailado / Dança

Fractions

20 mai 1981 – 21 mai 1981
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Grande Auditório
Lisboa, Portugal
Bailado / Dança

Tango

20 mai 1981 – 21 mai 1981
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Grande Auditório
Lisboa, Portugal
Bailado / Dança

10's with Shoes

20 mai 1981 – 21 mai 1981
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Grande Auditório
Lisboa, Portugal
Bailado / Dança

Roadrunners

20 mai 1981 – 21 mai 1981
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Grande Auditório
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Conferência «Espetáculos da Merce Cunningham Dance Company». John Cage (à esq.) e Merce Cunningham (ao centro)
Conferência «Espetáculos da Merce Cunningham Dance Company». John Cage e Merce Cunningham (à esq.)
Conferência «Espetáculos da Merce Cunningham Dance Company». John Cage
Conferência «Espetáculos da Merce Cunningham Dance Company».
José de Azeredo Perdigão e José Sommer Ribeiro (à dir.)

Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00216

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, orçamentos e correspondência recebida e expedida. 1980 – 1981

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D02118

4 provas, p.b.: inauguração (FCG, Lisboa) 1981

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0065-D00221

9 provas, p.b.: inauguração (FCG, Lisboa) 1981

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Música), Lisboa / MUS-S005-D03744

3 provas, p.b.: conferência de Merce Cunningham e John Cage (FCG, Lisboa) 1981


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