Exposição individual do artista canadiano Uno Hoffmann (1955), apresentada na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna.

Casado com Isabel Hoffmann, filha do arquiteto português Manuel Norberto Corrêa, o artista canadiano aproxima-se do público português, primeiro, em 1986, com uma exposição na Galeria Almada Negreiros, do Consulado-Geral de Portugal em Toronto, e, quatro anos depois, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

Os trabalhos sobre papel selecionados pelo artista para esta exposição resultam de vários anos de pesquisa, que tiveram início em Paris, em 1975, motivados por uma exposição de Willem de Kooning. Realizados entre 1987 e 1989, estes assentavam na vontade do artista, como o próprio explica, de «explorar a modulação de elementos figurativos em grandes abstracções executadas em papel» (Hoffmann. Trabalhos mais Recentes, 1988, p. 11).

O suporte escolhido e os materiais usados (pastel, carvão, grafite) constituíam um desafio que Hoffmann lançara a si próprio, por darem muito pouco espaço a hesitações, arrependimentos e retrocessos, ao contrário do óleo sobre tela ou madeira com o qual trabalhara anteriormente. O artista referia-se, então, a estes desenhos como «encontros casuais», os quais revelavam diferentes graus de abstração.

O gesto livre e rápido, a sobreposição de linhas, cores e formas estão presentes em todas as obras expostas. Os desenhos em que as figuras estão mais definidas ou reconhecíveis foram agrupados numa parede da sala; estes são, todos eles, coincidentemente, a preto-e-branco. A exposição parecia assim representar duas dimensões: da luz e da sombra, do dia e da noite, da vida e da morte. As figuras estáticas e sombrias contrastavam com o dinamismo das figuras de cores luminosas. Outro dos critérios expositivos residia nos níveis de figuração, notando-se uma progressiva transição da figuração para a abstração, começando com a figura isolada, passando pela fusão entre figura e fundo, até à indiferenciação e alcance de total abstração.

Esta exposição foi acompanhada por um catálogo, que, além de conter a reprodução de todas as obras expostas, incluía uma entrevista ao artista, dirigida pela historiadora Catherine Annau.

Mariana Roquette Teixeira, 2018