Na sequência das exposições «Arte Gráfica Brasileira de Hoje» e «Fayga Ostrower», apresentadas em 1977 na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e organizadas com o intuito de divulgar a arte da gravura brasileira em Portugal, a FCG mostrava, em junho de 1978, a exposição do artista paulista Odetto Guersoni (1924-2007). Jacob Klintowitz, autor do texto do catálogo da exposição, introduz-nos na obra de Guersoni: «Odetto pertence àquele grupo de artistas que representou um momento bem determinante na arte ocidental: o rigor técnico e o rigor da imagem. […] O artista trabalha com poucas matizes, transformando-as em módulos que passa a combinar. Ele as justapõe, acrescenta, altera no cromático e, com isso, compõe a sua obra.» (Odetto Guersoni, 1978)

Assim, as gravuras geométricas de Odetto Guersoni constituíram-se numa invenção sensível, em formas divididas em várias séries, conforme o processo de composição: ora por justaposição, por gradação, por desdobramento, ou ainda por multiplicação dos motivos: «Odetto Guersoni realiza os seus trabalhos fixando rapidamente em rascunhos imagens que vão surgindo do subconsciente e que ele transporta e regista conscientemente em imagens pictográficas, ideográficas, símbolos arcaicos, pinturas rupestres e formas vegetais. Escolhido o desenho, é reduzido a formas estilizadas, geométricas, quase sempre perdendo o seu carácter figurativo e tornando-se um elemento abstracto, um módulo gráfico.» («O Gravador Brasileiro Odetto Guersoni…», Jornal Novo, jun. 1978)

Encontrado o «módulo», Guersoni repeti-lo-ia segundo estruturas organizadas, retangulares ou circulares (de acordo com um dos processos de composição), até à sua composição final e integral. A exposição na Fundação Calouste Gulbenkian integrou 40 gravuras selecionadas pelo próprio artista, que assumiu igualmente o comissariado do certame.

Acerca da conceção da exposição e da colaboração entre Guersoni e os funcionários da FCG, escreveu posteriormente o artista ao diretor do Serviço de Exposições e Museografia, José Sommer Ribeiro: «Guardo uma forte lembrança da Fundação e de minha exposição, a qual como apresentação, foi a melhor que tive. Não me canso de falar bem desta organização. Realmente Sommer, lhe felicito por ter-lhe dado tal nível artístico e creia-me, me sinto muito honrado de ter tido a oportunidade de nela expor.» (Carta de Odetto Guersoni para Sommer Ribeiro, set. 1978, Arquivos Gulbenkian, SEM 00092)

Depois de Lisboa, a Fundação Calouste Gulbenkian organizou ainda a exibição do certame no Museu Machado de Castro, em Coimbra, e na Escola Superior de Belas-Artes do Porto.

Joana Brito, 2016