Exposição de gravura da artista brasileira Fayga Ostrower (1920-2001), organizada pela Embaixada do Brasil em Portugal e pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Compreendeu 55 peças em litografia, xilogravura sobre papel de arroz, serigrafia, e ainda uma série realizada num processo misto, serigráfico-litográfico.

Fayga Ostrower nasceu na Polónia, viveu alguns anos na Alemanha e, a partir de 1934, fixou-se no Brasil, onde se naturalizou cidadã brasileira. A artista já havia despertado interesse em Lisboa, quando em 1975 foi apresentada na FCG a exposição «Arte Gráfica Brasileira de Hoje», onde estiveram representados mais de 40 artistas, com cerca de 200 obras, das quais sobressaíram cinco xilogravuras de Fayga Ostrower. A qualidade das obras levou a FCG a contactar a Embaixada do Brasil em Lisboa e os Serviços Culturais da Embaixada de Portugal em Brasília, com vista a uma colaboração na organização de uma exposição dedicada à artista.

A obra de Fayga Ostrower inseriu-se no ciclo artístico e internacional do abstracionismo, com vitalidade e expressão próprias, facto que a Bienal de Veneza reconheceu ao conceder-lhe, em 1958, o Grande Prémio Internacional de Gravura.

Sobre a artista, escreveu o pintor e crítico Fernando de Azevedo na revista Colóquio/Artes, em texto dedicado à sua obra e exposição: «Fayga Ostrower pertence à categoria excepcional dos gravadores que conferem à gravura a plenitude do seu tom maior. Vendo a série das obras apresentadas na Fundação Gulbenkian feitas entre 1969 e 1974 compreende-se bem, à distância a que estamos do início dos anos cinquenta, a importância e o impacto das primeiras gravuras abstractas saídas das suas mãos, que, nessa data, foram decisivas para o encontro de novas orientações que então começavam na gravura brasileira.» (Azevedo, Colóquio/Artes, jun. 1977)

A seleção das peças apresentadas, datadas de entre 1969 e 1976, deveu-se essencialmente ao facto de serem estas as que existiam no acervo da artista em amostragem suficiente para a realização da exposição solicitada pela Fundação Calouste Gulbenkian, além de corresponderem, na altura, à sua produção mais recente.

O prefácio do catálogo da exposição foi solicitado ao crítico brasileiro Mário Barata, no qual este conhecedor da arte contemporânea brasileira e portuguesa analisa com profundidade a obra da artista.

A exposição de gravuras de Fayga Ostrower em Lisboa veio permitir o contacto direto do público português com «um dos valores mais altos da arte do Brasil», possibilitando à Fundação, igualmente no âmbito do certame, a aquisição de duas xilogravuras da artista, datadas de 1971, que, desse modo, vieram a integrar o acervo da Coleção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian.

Joana Brito, 2016