Mário Novais. Exposição do Mundo Português, 1940

Exposição de fotografias de Mário Novais (1899-1967) sobre a «Exposição do Mundo Português». Fruto de uma parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian e o «Caminho do Oriente», iniciativa da Expo'98 e da Câmara Municipal de Lisboa, a mostra teve lugar no Convento do Beato e almejou a reabilitação e a dinamização da zona oriental da cidade de Lisboa.
Exhibition of photographs by Mário Novais (1899) on the “Exposição do Mundo Português” (“Portuguese World Exhibition”), held in the Convent of Beato, Lisbon. The show was organised by the Calouste Gulbenkian Foundation’s Fine Arts Service and by Lisbon Council’s Expo’98 “Caminho do Oriente” (“Route to the East”) project, an initiative that sought to rehabilitate and revitalise eastern Lisbon.

A exposição «Mário Novais. Exposição do Mundo Português. 1940» esteve patente, de 19 de fevereiro a 19 de abril de 1988, na Antiga Fábrica de Rações do Beato, atual Convento do Beato, e foi organizada pelo Arquivo de Arte do Serviço de Belas-Artes (SBA) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e pelo «Caminho do Oriente», iniciativa da Expo'98 e da Câmara Municipal de Lisboa, que pretendeu a dinamização da área compreendida entre Santa Apolónia e Marvila e incluiu a recuperação de alguns edifícios históricos.

«Mário Novais. Exposição do Mundo Português. 1940» foi a primeira apresentação ao público de um conjunto de trabalhos realizados pelo fotógrafo português. A responsabilidade desta exposição coube a uma equipa da FCG coordenada por Jorge Rodrigues, com o comissariado de Maria Clara Pedro Serra, Maria José Massapo Cachola, Maria do Rosário Ricardo e Rita Fabiana. A conceção do projeto museográfico foi da autoria de Mariano Piçarra, apoiado pela montagem das Construções Sampaio.

Segundo Pedro Tamen, administrador da FCG, a importância da apresentação deste pequeno espólio da extensa obra do fotógrafo português, pertencente ao Arquivo de Arte do SBA, não passou apenas pelo seu valor histórico e documental (permitindo comparar a época em que decorreu a exposição fotografada com a época da presente exposição), mas também pelo seu grande valor estético e artístico.

Nas palavras de José Sarmento de Matos, no ano em que se abriam as portas da Expo'98, fazia todo o sentido que uma manifestação cultural desta dimensão prestasse homenagem a outra grande exposição que teve lugar em Lisboa e com a qual, partilhou alguns dos seus propósitos, como a reabilitação de um espaço urbano e a projeção internacional da imagem de Lisboa. Neste sentido, ao aliar-se ao tributo da FCG, o «Caminho do Oriente» conseguiu atingir o seu objetivo de recuperar um número de edifícios localizados entre as zonas de Santa Apolónia e Marvila, contribuindo para a animação cultural e social desta área.

Foi ainda objetivo do «Caminho do Oriente» que, juntamente com o trabalho de fotógrafos contemporâneos finalistas do curso da Ar.Co, se estabelecesse um diálogo entre os dois momentos da história da fotografia portuguesa, através da mostra «Guia do Olhar, Fotografias da Zona Oriental de Lisboa», patente numa sala anexa à sala onde se encontrava a exposição de Mário Novais.

Adquirido pela Fundação Calouste Gulbenkian em 1985 e integrado no Arquivo de Arte do SBA, o espólio do Estúdio Novais começou a ser constituído em 1933, ano em que o fotógrafo montou o seu estúdio na Avenida da Liberdade, em Lisboa, especializado na reprodução fotográfica de obras de arte e arquitetura, apesar de ter sido também autor de fotorreportagem, fotografia publicitária, comercial e industrial.

O conjunto exposto resultou de uma encomenda feita pelo Secretariado da Propaganda Nacional ao Estúdio Novais, que procedeu ao levantamento fotográfico dos interiores dos Pavilhões Históricos, do Centro Regional e dos exteriores diurnos e noturnos. Para a divulgação deste evento, através do registo fotográfico, participaram ainda Horácio Novais, irmão de Mário Novais, Carvalho Henriques e João Martins, entre outros.

Esta grande exposição, que teve lugar em Belém, de 23 de junho a 2 de dezembro de 1940, pretendeu ser uma homenagem de dois momentos marcantes para a História de Portugal, celebrando, ao mesmo tempo, a Fundação do Estado Português, em 1140, e a Restauração da Independência, em 1640, estabelecendo uma ponte entre estes acontecimentos e o Estado Novo.

Altura de consolidação para o Regime, permitiu a disponibilização de um grande número de recursos materiais e humanos, conferindo-lhe assim uma dimensão inédita que fez da mostra o acontecimento político-cultural mais marcante do Estado Novo. Para tal, constituiu-se uma Comissão Nacional e uma Comissão Executiva das Comemorações Centenárias, aliadas a uma equipa para a produção da exposição, da qual fez parte Augusto de Castro, enquanto comissário-geral da exposição, Sá e Melo, comissário-adjunto e engenheiro-chefe, Cottinelli Telmo, arquiteto-chefe, Gustavo Matos Sequeira, coordenação histórica, Leitão de Barros, serviços externos, e Gomes Amorim, ajardinamento do espaço.

A esta encomenda, Mário Novais respondeu com toda a naturalidade, já que, e como diz Jorge Calado, especialista em fotografia e responsável pela conservação das coleções do Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa, o fotógrafo se devia sentir no seu elemento: «Dominava as técnicas, e esteve à vontade nas fotografias de interiores e pormenores decorativos. Jogando com a luz natural e várias luzes artificiais (directas e indirectas), fez das sombras e diversos planos de luz os elementos fulcrais da composição.» (Mário Novais. Exposição do Mundo Português, 1940, 1998, p. 51)

A mostra do conjunto fotográfico foi acompanhada pela exibição permanente dos filmes A Exposição do Mundo Português (1941), realizado por António Lopes Ribeiro, e A Exposição do Mundo Português (1940) e Cortejo do Mundo Português (1940), do realizador F. Carneiro Mendes. Foram ainda expostas várias publicações das Comemorações Centenárias, ilustradas por Mário Novais, assim como catálogos, desenhos, medalhas, cartazes e diversa documentação associada à produção da «Exposição do Mundo Português» e das Comemorações Centenárias, propriedade do Arquivo de Arte do SBA e da Biblioteca Geral de Arte da FCG.

Nas palavras de Jorge Calado, houve uma preocupação em manter as dimensões originais das provas fotográficas de Mário Novais, resistindo-se à tentação de usar ampliações e respeitando o seu caráter «documental e de trabalho, embora de excelente qualidade técnica» (Mário Novais. Exposição do Mundo Português, 1940, 1998, p. 47).

Foi apenas exposta uma parte da totalidade das fotografias resultantes da encomenda, momento de consagração para a carreira de Mário Novais, que, consciente da importância deste projeto e ao contrário do que era a sua prática habitual, imprimiu e guardou as impressões dos negativos entregues ao SPN. No entanto, e tal como afirma Rui Afonso Santos, Mário Novais não deve ser visto como o fotógrafo oficial do regime, nem o seu trabalho como apenas o registo fotográfico dos atos oficiais e institucionais, encontrando-se o fotógrafo, na mesma altura, a colaborar com António Dacosta para a mostra da Casa Repe, exposição cujos valores eram assumidamente opostos aos da «Exposição do Mundo Português».

No âmbito da exposição, foram várias as publicações editadas com a intenção de melhorar e prolongar a experiência do visitante. Assim, fora o importantíssimo catálogo que reuniu a reprodução das fotografias expostas e textos sobre a vida e obra de Mário Novais que resultam do trabalho de pesquisa e organização documental de Clara Serra, Maria José Cachola, Maria do Rosário Ricardo e Rita Fabiana, foi ainda editado um guião didático que contém a planta da exposição e um pequeno conjunto de atividades interativas. Além destas publicações, foi distribuído um pequeno folheto com informações sobre o Estúdio Mário Novais e a ficha técnica da «Exposição do Mundo Português».

A divulgação e artigos de crítica sobre a exposição elogiaram a iniciativa, além do seu catálogo, vista como uma necessidade que já deveria ter sido concretizada há algum tempo. Sandra Vaz Costa refere mesmo que a dificuldade em aceder ao local da exposição era compensada pela qualidade da exposição, de cujas «paredes brancas que recebem fotografias monocromáticas, as imagens concebidas por Mário Novais ganham uma dimensão táctil e a visita prolonga-se», e a simpatia dos rececionistas (Costa, Arte Ibérica, abril 1998, p. 28).

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Multimédia


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25168

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém material gráfico e de divulgação: convites, postais e folhetos. 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25872

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém notas internas recebidas e expedidas, tabelas de vendas, orçamentos e formulários de concessão de subsídios ou bolsas de estudo. 1997 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25873

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém apólices de seguros, textos para o catálogo, correspondência interna e externa e recortes de imprensa. 1997 – 1998


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.