O percurso artístico de Kboco [Márcio Queiroz (1978)] tem vindo a articular os graffiti e a street art com a prática de ateliê e a apresentação em espaços galerísticos e museológicos. O seu trabalho demonstra-se atento aos cruzamentos entre o mundo natural, as raízes antropológicas da cultura e os tecidos urbanos. É gerador de vocabulários visuais que parecem beber, simultaneamente, das estéticas cosmopolitas e convulsivas das cidades e subúrbios contemporâneos, bem como de culturas visuais mais radicantes ou ancestrais.

Em 2011, o artista concebeu Abrigo Sublocado, uma das seis instalações que estiveram patentes em simultâneo nos Jardins Gulbenkian, integradas no ciclo «Arte Pública» da terceira edição do Programa Gulbenkian de Cultura Contemporânea «Próximo Futuro» (2009-2015).

A peça surgia como um pórtico de dimensões arquitetónicas, aludindo à fachada de uma fortaleza ou castelo. Feita em madeira de contraplacado, apresentava uma silhueta fortemente geometrizada, que transformava o objeto numa espécie de enorme sinal gráfico tridimensional. Duas torres em forma de seta acentuavam a relação da obra com a linguagem da sinalética e dos símbolos infográficos. As paredes eram povoadas por desenhos murais, também eles de economia geométrica e esquemática, dialogando intrinsecamente com a periferia da estrutura.

A instalação ocupou um espaço junto à entrada da Biblioteca de Arte da FCG, onde permaneceu entre 6 de junho de 2011 e agosto do mesmo ano. Seria em seguida remontada no espaço exterior do Palácio Pombal em Lisboa, sede da Carpe Diem – Arte e Pesquisa (parceira de diversas iniciativas do programa «Próximo Futuro»), permanecendo nesse local de 7 a 30 de setembro de 2011.

O público do Programa «Próximo Futuro» tinha já contactado com o trabalho de Kboco numa edição anterior do programa, quando o artista concebeu a imagem de capa do workshop «A Felicidade», realizado a 5 de novembro de 2010.

Abrigo Sublocado foi um dos seis projetos que estiveram patentes em simultâneo nos Jardins Gulbenkian, integrados no ciclo «Arte Pública» do Programa «Próximo Futuro» para o verão de 2011. A par desta peça, o visitante podia ainda encontrar Casulo, de Nandipha Mntambo; However Incongrous, do Raqs Media Collective; Chapéus de Sol, de Inês Lobo (numa segunda edição, agora com a intervenção de artistas convidados); a Tenda (que transitava igualmente do ano anterior para albergar uma biblioteca de autores sul-americanos e africanos); e a intervenção de Rodrigo Oliveira e Raquel Melgue na Roulotte (atrelado que, verão após verão, foi recebendo novas intervenções artísticas).

O Programa «Próximo Futuro» decorreu entre 2009 e 2015. Das artes visuais e performativas à música, da literatura à crítica e às ciências sociais, promoveu uma programação vasta e heterogénea, mobilizando reflexões plurais sobre a contemporaneidade de contextos europeus, africanos, asiáticos e sul-americanos. Teve no debate em torno da atualidade cultural, social e política uma das tónicas mais relevantes.

Daniel Peres, 2020