Exposição de documentação fotográfica dedicada à arte urbana inglesa, organizada pelo British Council em colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), e levada a efeito pelo Serviço de Exposições e Museografia da FCG. A ação do British Council teve também o apoio do Arts Council of Great Britain e da Regional Arts Association, contando ainda com a iniciativa individual de algumas personalidades que cederam informações e fotografias sobre os projetos.

A mostra inseriu-se no despertar dos movimentos de arte urbana e da street art das décadas de 1970 e 1980, de acordo com a sinopse da proposta da exposição: «The age-old tradition of painting the exterior of buildings has in recent years developed into a widespread and witty art form. Drab walls in cheerless industrial towns have been transformed with a fantastic variety of images – historical, social, abstract, or purely decorative in intent. These paintings bring art to the people in the street and frequently involve the local community in their creation.» (Excerto da sinopse «Painting the Town», 1983[?], Arquivos Gulbenkian, SEM 00270)

Contou com trabalhos realizados por 94 artistas e coletivos de artistas, reunindo um total de 162 reproduções fotográficas, que figuraram montadas em painéis na Zona de Congressos da Sede da FCG. Da documentação de arquivo consta um exaustivo guia de procedimentos de montagem, exposição e desmontagem dos painéis, com ilustrações exemplificativas. Esta documentação foi cedida para o efeito pelo British Council, o que sugere um elevado nível de organização na produção destas exposições, destinadas a uma circulação mais ampla e a itinerâncias de âmbito internacional (Informações sobre a exposição Painting the Town, 1983, Arquivos Gulbenkian, SEM 00270).

Na sua crítica para a revista Colóquio/Artes, o pintor Fernando de Azevedo enunciaria, de forma sintética, os aspetos que esta «interessantíssima» exposição punha em evidência:

«Há nesta pintura, sempre, qualquer coisa de inusitado e de precário, algo de excessivamente circunstancial […]. E, desde o humor urbano, ao trompe-l’oeil paisagista irrompendo com certo absurdo na cidade, à pintura intencionalmente social, a gama de realizações mostrada nesta exposição é vastíssima, e de certo modo surpreendente. Como surpreendente é a constatação da alteração funcional de zonas mortas do tecido urbanístico, em favor de um recreio e choque visuais sobrepostos ao intocável prestígio da fachada inerte e da chateza de muitos dos materiais da construção industrializada.» (Azevedo, Colóquio/Artes, set. 1983, p. 68)

O catálogo foi organizado segundo várias tipologias: «murais individualizados»; «murais abstratos e simbólicos» e «murais sociais e políticos». Recordando a longa tradição da pintura mural na Grã-Bretanha, Stephen Lobb traça na introdução do catálogo uma retrospetiva dos momentos mais marcantes deste processo criativo, a par da devida contextualização histórica, política e social, recuando à Idade Média.

A respeito desta exposição, o crítico uruguaio Nelson Di Maggio lançaria o repto para a realização de uma exposição itinerante capaz de «ilustrar um dos momentos de criatividade colectiva» surgida em Portugal depois do 25 de Abril de 1974 (Di Maggio, Sete, 13-19 abr. 1983).

Filipa Coimbra, 2017