A edição de 2011 do Programa Gulbenkian de Cultura Contemporânea «Próximo Futuro» teve na exposição «Fronteiras» um dos seus eventos mais destacados. A mostra trouxe até Portugal obras que figuraram nos 8.os Encontros de Bamako, no Mali. Realizada em 2009, essa edição da bienal africana teve o seu mote crítico na problematização alargada do conceito de «fronteiras», e era com esse mesmo nome que chegava à Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), após passar por outros destinos em África e na Europa. Baseada na exposição central da bienal, esta exposição itinerante reuniu em Lisboa obras de 53 autores. Estima-se que terão sido apresentadas 216 peças fotográficas distribuídas por mais de 30 séries, além de 15 trabalhos de imagem em movimento (Próximo Futuro. Fronteiras, 2011, pp. 6-22).

«Fronteiras» ocupou as duas Galerias de Exposições Temporárias da Sede da FCG (pisos 0 e 01), inaugurando a 13 de maio de 2011 e ficando patente até 28 de agosto desse ano. O layout do espaço expositivo foi desenhado por Mariano Piçarra, com a colaboração de Sofia Henriques, respetivamente funcionário e colaboradora externa do Museu Calouste Gulbenkian – serviço que se associou internamente ao «Próximo Futuro» para a montagem da exposição (Ibid., p.23).

Numa das plantas arquitetónicas digitais é possível acompanhar a conceção do dispositivo museológico e o lugar das obras em cada um dos pisos. Os Arquivos Gulbenkian guardam uma reportagem fotográfica da artista Catarina Botelho, que cobre vários eventos do Programa «Próximo Futuro» de 2011 e conta com alguns registos fotográficos da exposição, incluindo da fase de montagem (Arquivos Gulbenkian, CDVD 1424).

A estratégia de programação do «Próximo Futuro» optou por agendar a inauguração da exposição como evento noturno, encadeando-a com outros dois eventos do programa. Com início às 22 horas, a inauguração decorreu logo após a edição de 2011 do ciclo de conferências «Grandes Lições» e foi sucedida por um baile na garagem da FCG, com a atuação dos DJs Kenneth Montague e Lyndon Barry. Para o dia seguinte, sábado 14 de maio de 2011 – o primeiro de abertura ao público em horário normal – foi programada uma visita comentada à exposição, com a presença das duas diretoras artísticas da oitava edição dos Encontros de Bamako – Michket Krifa e Laura Serani («Abertura de FRONTEIRAS e "Baile" na Garagem», 2011). As duas curadoras assumiriam também o comissariado da 9.ª edição da bienal, ocorrida nesse mesmo ano de 2011, e que, mais tarde, chegaria também ela à FCG através do Programa «Próximo Futuro», no verão de 2013 («9.ª Edição dos Encontros de Fotografia de Bamako», 2013).

Para a exposição «Fronteiras», o «Próximo Futuro» lançou uma edição que funcionou como jornal de exposição. Esta publicação reproduz algumas das fotografias expostas e dedica uma entrada a cada um dos autores, listando as respetivas obras integradas na mostra e citando um breve comentário de cada um deles (Próximo Futuro. Fronteiras, pp. 6-22). Abre com um texto assinado por Krifa e Serani.

O jornal Próximo Futuro consagra igualmente bastante espaço à mostra. A edição n.º 6, de março de 2011, apresenta na capa uma imagem de Baudouin Mouanda (1981), um dos fotógrafos representados na exposição. A fotografia pertence à série La Sape (2008), apresentada na mostra, e que acompanha a realidade dos sapeurs, «dandies africanos que fazem de Brazzaville e de Kinshasa, as duas capitais do Rio Congo, vitrinas de uma elegância muito particular». No miolo do jornal reproduzem-se outras quatro fotografias dessa série (Jornal Próximo Futuro, n.º 6, mar. 2011, pp. 12-21). A própria abertura institucional desta edição conta com referências diretas à exposição por parte de Isabel Mota (então membro do Conselho de Administração da FCG), pondo a tónica no quão alargada pode ser a temática das fronteiras para a história e para a contemporaneidade das culturas, dos povos, dos indivíduos.

Também o blogue do «Próximo Futuro» se afirmou, uma vez mais, como uma plataforma muito ativa na divulgação das iniciativas do programa. Dedicou vários posts a «Fronteiras», cruzando a promoção do evento com informações adicionais. Destaque para a antevisão dos 9.os Encontros de Bamako, que então se preparavam, e no contexto dos quais traz a notícia de que o artista angolano Délio Jasse – que nesta altura participava no «Próximo Futuro» colaborando na segunda versão da instalação Chapéus de Sol nos Jardins Gulbenkian – seria um dos autores representados nessa nova edição da bienal africana.

O blogue foi também um dos canais a divulgar os expressivos índices de audiência da exposição «Fronteiras». Um post de 17 de maio de 2011 refere a presença de 739 pessoas na sexta-feira inaugural e 1038 no fim de semana seguinte (200 no sábado e 888 no domingo). O mesmo post promove algumas das iniciativas paralelas programadas para a exposição «Fronteiras», nomeadamente as visitas orientadas à exposição por Lúcia Marques (também assistente de programação do «Próximo Futuro») – três delas em maio, nos dias 18 (Dia Internacional dos Museus do ICOM), 22 e 29, e uma última a 5 de junho (Programa Gulbenkian Próximo Futuro, 2011). O blogue regista também que, mais perto do final, no dia 12 de agosto de 2011, a FCG promoveu a entrada gratuita na exposição a menores de 25 anos, assinalando o Dia Internacional da Juventude (Programa Gulbenkian Próximo Futuro, 2011).

Sem surpresa, esta exposição foi, em 2011, um dos eventos do «Próximo Futuro» a ter maior eco na comunicação social. Foi destacada a tónica na contemporaneidade, abordada por uma enorme diversidade de olhares que expressaram África (alvo de tantas e desinformadas generalizações) enquanto «continente em estado de ebulição», como caracterizaria Celso Martins («África em Transe», Expresso. Actual, 21 mai. 2011, p. 24). António Pinto Ribeiro, programador-geral do «Próximo Futuro», sublinha essa pluralidade num depoimento para um vídeo de divulgação da exposição (Fronteiras. 8.os Encontros de Bamako, 2011, Arquivos Gulbenkian, ID: 263689).

O Canal 180 transmitiu uma pequena reportagem televisiva sobre a exposição, que reúne algumas das imagens deste vídeo promocional, bem como trechos do depoimento de Pinto Ribeiro. Essa reportagem seria integrada no magazine cultural MAG.

«Fronteiras» foi a primeira ligação oficial de Portugal aos Encontros de Bamako – certame que se tem vindo a tornar uma referência no campo das artes visuais contemporâneas em África, e a assumir um papel mapeador no contexto artístico internacional. No blogue do «Próximo Futuro», Lúcia Marques faz uma genealogia sumária do início desta bienal: «Os Encontros de Bamako (Rencontres de Bamako) foram criados em 1994, na capital do Mali, por iniciativa da associação "Afrique en Créations" e com o apoio do Governo maliano, sendo dirigidos nessa primeira edição pelos dois fotógrafos franceses Françoise Huguier e Bernard Descamps.» (Programa Gulbenkian Próximo Futuro, 2011)

O Prémio Seydou Keïta dos 8.os Encontros de Bamako foi atribuído a Uche Okpa-Iroha (1972), um dos fotógrafos expositores em «Fronteiras». Em 2011, Pieter Hugo (1976), que exporia por diversas vezes no âmbito do «Próximo Futuro», receberia o mesmo prémio nos 9.os Encontros, que passariam pela FCG, em 2013 («9.ª Edição dos Encontros de Fotografia de Bamako», Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 0), 2013).

Daniel Peres, 2019