Pieter Hugo. Nollywood

Programa «Gulbenkian Próximo Futuro»

Exposição individual do artista sul-africano Pieter Hugo (1976) integrada no Programa Gulbenkian «Próximo Futuro». A convite de António Pinto Ribeiro, coordenador do programa, o artista desenvolveu um trabalho de série fotográfica dedicada à série Nollywood.
Solo exhibition of works by South African artist Pieter Hugo (1976) included in the Gulbenkian Next Future Programme. At the invitation of programme director António Pinto Ribeiro, the artist produced a series of photographs dedicated to Nollywood.

Em 2011, a terceira edição do Programa Gulbenkian de Cultura Contemporânea «Próximo Futuro» (2009-2015) incluiu uma exposição individual do fotógrafo Pieter Hugo (1976), inteiramente dedicada à série Nollywood. A mostra foi organizada em colaboração interna com o Programa Gulbenkian de Apoio ao Desenvolvimento e integrou as diversas iniciativas do «Próximo Futuro» no estrangeiro. Foi coproduzida pelo Théâtre de la Ville de Paris, onde inaugurou a 18 de novembro de 2011, ficando patente até 30 de dezembro desse ano. A inauguração ocorreu pouco depois de uma sequência de várias conferências do ciclo «Grandes Lições», promovidas pelo Programa «Próximo Futuro», nesse mesmo edifício da cidade de Paris. A curadoria da exposição coube à italiana Federica Angelucci e a António Pinto Ribeiro, programador-geral do «Próximo Futuro».

Nollywood é uma série de retratos produzidos entre 2008 e 2009, na sequência de viagens do artista pela Nigéria e do envolvimento com a cultura contemporânea desse país. Os retratados encarnam personagens cinematográficas, esclarecendo o título do projeto. «Nollywood» é o nome popularmente atribuído à indústria cinematográfica nigeriana, uma das mais massivas do mundo, com índices quantitativos acima da americana Hollywood e apenas superados pela indiana Bollywood.

Podendo lançar entre 500 e 1000 filmes por ano, Nollywood revela-se um meio prolífico, com várias produções rodadas em tempo recorde, de baixíssimo orçamento e com improviso de meios técnicos – condicionantes que se revelam cruciais para as plasticidades e poéticas exploradas. As aparentes citações do imaginário cinematográfico ocidental são transfiguradas e submetidas a permeabilidades com contextos, mitologias e simbolismos das culturas locais e respetivas realidades sociais. Gera-se assim um terreno de enorme singularidade expressiva, que reforça valores de autorrepresentação – conceito frequentemente referido a propósito de Nollywood.

O terror é um dos géneros mais explorados neste meio cinematográfico, e um dos que mais interessam a Pieter Hugo. O campo da caracterização e da maquilhagem, tão relevantes nesta vertente, foi inclusivamente uma área que permitiu que o fotógrafo expandisse o seu aprofundamento do meio cultural de Nollywood, após travar conhecimento com um maquilhador e figurinista da cidade de Enugu (Pieter Hugo. Nollywood).

As fotografias de Hugo jogam com o imenso campo de porosidades culturais que Nollywood representa, e com o elemento de autorrepresentação. A encenação das imagens de Hugo destaca um hibridismo entre a exacerbada fantasia e um realismo cru, igualmente reconhecível nos filmes. O verídico e o ficcional contaminam-se constantemente, quer nos filmes, quer nas fotografias – ora pelos cenários da vida real, ora devido a quem dá corpo às personagens, muitas vezes desempenhadas por atores não profissionais. As fotos de Hugo parecem captar essa condição entre o modelo, o ator e o não-ator. Numa das fotos, é o próprio Hugo quem aparece vestindo um figurino.

Este trabalho tornar-se-ia uma das mais importantes séries de retratos de Pieter Hugo. Nas suas próprias palavras, «neste projeto foi a primeira vez que realmente questionei a veracidade do retrato […]. Trabalhando nesta série, e lendo respostas a ela, tornei-me mais rigorosamente ciente daquilo que o observador traz para a imagem e que frequentemente excede aquilo que está representado» (Ibid.). No epicentro desse questionamento do olhar, estará certamente o debate sobre a alteridade cultural, tão enfatizado em diversas das iniciativas do «Próximo Futuro».

No mesmo ano em que apresentou Nollywood em Paris, Pieter Hugo seria galardoado com o prémio Seydou Keïta, no âmbito da nona edição dos Encontros de Bamako, Mali – atribuição essa que foi noticiada pela divulgação do «Próximo Futuro» (Programa Gulbenkian Próximo Futuro, 2011) . Essa distinção destacaria ainda mais a presença da obra do artista nas diversas iniciativas que integrou do «Próximo Futuro». Até porque, exatamente na mesma altura, o programa apresentava, na Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a exposição «Fronteiras», em torno da oitava edição dos referidos encontros, trazendo a Lisboa obras de 53 fotógrafos africanos.

A presença da fotografia de Hugo no Programa «Próximo Futuro» inicia-se logo em 2009, quando o primeiro jornal do programa publica uma imagem de sua autoria na capa. Seguiram-se Nollywood, em 2011, e duas exposições nas galerias da Sede da FCG: a participação na coletiva «Present Tense», em 2013, e a itinerante «Este É o Lugar», em 2014 – primeira retrospetiva internacional da obra do fotógrafo sul-africano.

Anteriormente, Pierre Hugo tinha já sido um dos artistas participantes na exposição «Um Atlas de Acontecimentos», igualmente na Sede da FCG, em 2007. Esta mostra encerrou o Fórum Cultural «O Estado do Mundo», projeto com a duração de um ano, igualmente programado por António Pinto Ribeiro.

Outra instituição portuguesa apresentou recentemente e de forma relevante o trabalho de Pieter Hugo: a exposição antológica «Between the Devil and the Deep Blue Sea» («Entre a Espada e a Palavra»), no Museu Coleção Berardo em 2018.

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Programa cultural

Programa Próximo Futuro

2009 – 2015
Fundação Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal

Publicações


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Programa Próximo Futuro), Lisboa / PPF 00013

Pasta referente à edição de 2011 do Programa Gulbenkian de Cultura Contemporânea «Próximo Futuro». Contém epistolografia, recortes de imprensa, material gráfico e de divulgação. 2011 – 2011


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