European Photo Exhibition Award 03

Terceira edição da exposição bienal «European Photo Exhibition Award», evento resultante da colaboração entre quatro fundações europeias – a Fundação Calouste Gulbenkian (Portugal), a Fondazione Banca del Monte di Lucca (Itália), a Körber-Stiftung (Alemanha) e a Fritt Ord Foundation (Noruega). A mostra foi comissariada por Sérgio Mah.
Third edition of the biennial exhibition “European Photo Exhibition Award” curated by Sérgio Mah. The event resulted from a collaboration between four European foundations: the Calouste Gulbenkian Foundation (Portugal), the Fondazione Banca del Monte di Lucca (Italy), the Körber-Stiftung (Germany), and the Institusjonen Fritt Ord (Norway).

Terceira e última edição da exposição bienal «European Photo Exhibition Award», um evento desenvolvido por quatro fundações europeias – a Fundação Calouste Gulbenkian (Portugal), a Fondazione Banca del Monte di Lucca (Itália), a Körber-Stiftung (Alemanha), e o Fritt Ord Foundation (Noruega) – com o intuito de criar «a free space where socially relevant topics concerning Europe are developed and discussed by talented young photographers who live and work in Europe» (European Photo Exhibition Award 02, 2014, p. 7).

A temática proposta para reflexão nesta edição foi «Shifting Boundaries. Landscapes of Ideals and Realities in Europe», tendo por base uma noção alargada de fronteira/barreira, que incluía, por um lado, a sua conotação geográfica e, por outro, um sentido social, no que diz respeito à definição de categorias sociais.

O desafio lançado aos participantes convidados foi resumido do seguinte modo: «[…] we challenge the artists of epea03 to reveal and consider these boundary zones – with their identifiable signs of change, reformulation, adjustment, tension, and rupture… – with the additional aim of emphasising the active role that image-based practices can and do play in this perceptive and analytic process.» (Comunicado de imprensa, 15 fev. 2016, Arquivos Gulbenkian, ID: 127037)

Com vista a promover o debate sobre esta problemática foram escolhidos, à semelhança das edições anteriores, doze fotógrafos, neste caso de nove nacionalidades, e, por conseguinte, provenientes de realidades distintas em termos geográficos, culturais, linguísticos e sociais.

O processo de seleção dos participantes seguiu, uma vez mais, o que havia sido instituído na primeira edição. Cada instituição convidava um curador, que selecionava três fotógrafos com os quais trabalharia, acompanhando de perto os seus projetos. Cada participante tinha a oportunidade de, ao longo de um ano, desenvolver o seu projeto e debatê-lo com os curadores e restantes participantes. A exposição destes projetos nas diferentes instituições era da responsabilidade do respetivo curador convidado. Deste modo, diferentes olhares davam origem a diferentes diálogos e relações.

Os curadores – os mesmos das duas edições anteriores: Rune Eraker, Sérgio Mah, Enrico Stefanelli, Ingo Taubhorn – juntaram um grupo diversificado de fotógrafos e artistas que trabalham com fotografia e que, através de abordagens muito distintas revelaram reformulações, mudanças, mas também retrocessos no seio da Europa, no que diz respeito a ideais, valores e realidades.

Sérgio Mah, curador convidado pela Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France, escolheu trabalhar com o britânico Dominic Hawgood (1980), a portuguesa Margarida Gouveia (1977) e a francesa Marie Sommer (1984). Se na primeira edição Sérgio Mah escolhera três artistas portugueses e na segunda dois portugueses e um francês, na terceira optou por não dar prevalência a artistas nacionais, procedendo também ele à dissolução de fronteiras e contribuindo assim para tornar o projeto mais abrangente. Os países de proveniência dos referidos artistas correspondem aos territórios de intervenção da Fundação Calouste Gulbenkian, aspeto referido pelo curador para justificar esta opção (Branco, LusoJornal, 25 mai. 2016, p. 5).

Os projetos propostos pelos elementos deste grupo revelavam também uma grande diversidade no que diz respeito aos temas ou questões aprofundadas, bem como aos métodos e incorporação da fotografia, sendo os três de natureza instalativa. Em Casting Out the Self (2015), de Dominic Hawgood, e The Circular Ruins (2015), de Marie Sommer, as imagens fotográficas surgem como componentes de instalações que integram outros elementos materiais e imateriais (no caso da primeira), tirando partido do espaço (paredes, cantos, chão). A instalação fotográfica The Mirror Game (2016), de Margarida Gouveia, revela, por sua vez, um trabalho de composição que faz uso do formato e da escala. As 16 fotografias, de igual formato, foram dispostas na parede de forma equidistante, formando um quadrado de quatro por quatro. Apesar de os temas aprofundados nestas instalações serem muito diversos, todas abordam o conceito de fronteira através de dicotomias e do seu questionamento: no caso de Casting Out the Self, entre consciente e inconsciente, em The Circular Ruins entre passado e presente, e em The Mirror Game entre real e virtual. Outro aspeto que importa mencionar nestes trabalhos é a reflexão em torno da criação de imagens, o seu significado e o impacto da tecnologia digital.

Se estes artistas alargaram as linhas de reflexão propostas pelos curadores ao direcionarem o seu olhar para os campos da ciência, tecnologia e história, tendo em mente a noção de fronteira, os restantes participantes aprofundaram as dimensões políticas e sociais do termo, dando a conhecer situações de isolamento, discriminação, exclusão e separação em contexto europeu.

Os projetos apresentados por Arianna Arcara (1984), Ildikó Péter (1982) e Pierfrancesco Celada (1979), fotógrafos selecionados por Enrico Stefanelli, mostram cenários de zonas de conflito – The Other Side (Where Time Passes by but Stands Still) (2015), de Arcara, e Borders (2015), de Péter – e o quotidiano dos novos guetos, resultantes da globalização económica e cultural – Milano, Hinterland (2015), de Celada.

O género documental seguido por estes fotógrafos é repensado e reinterpretado por artistas como Christina Werner (1976), Jakob Ganslmeier (1990), Robin Hinsch (1987), escolhidos por Ingo Taubhorn. Werner analisa o fenómeno do populismo e da violência da extrema direita na Europa, que apresenta na instalação The Boys are Back (2015-2016), na qual são conjugados vídeo, colagem fotográfica e palavra escrita; Ganslmeier combina texto e imagem em Lovely Planet: Poland (2015), mostrando a realidade da juventude polaca residente nas periferias das cidades, denunciando igualmente com ironia a transmissão de imagens idealizadas pelos guias de viagem, como os da Lonely Planet; com Kowitsch (2015), Hinsch apresenta um relato pessoal e subjetivo da guerra civil no leste da Ucrânia, mostrando situações de devastação, desespero e da vida quotidiana, não visíveis nas imagens difundidas pela comunicação social. A crítica insinuada, a denúncia com traços de ironia e a(s) pequena(s) história(s) mostram outras formas de encarar o trabalho documental.

O questionamento do género documental também está presente nos trabalhos de Eivind H. Natvig (1978) e Marie Hald (1987), fotógrafos selecionados por Rune Eraker, aos quais o curador juntou a artista Marthe Aune Eriksen (1975). Se alguns destes projetos, à semelhança dos anteriores, envolveram viagens de longa duração em territórios estrangeiros, o que diferencia Today I am a Human (2015), de Natvig, e The Girls from Malawa (2015), de Hald, é o tipo de contacto estabelecido entre os fotógrafos e os indivíduos retratados: no caso do primeiro, refugiados palestinianos residentes na Noruega; no caso da segunda, raparigas em tratamento da anorexia e bulimia em Malawa, na Polónia. Não foram encarados como grupo, mas apresentados na sua singularidade. Marie Hald chegou mesmo a conviver com as jovens, documentando momentos privados.

Os resultados são uma instalação que combina imagem e texto e um ensaio fotográfico. A estes dois projetos, o curador junta The Vocabulary of Shadows (2016), de Marthe Aune Eriksen, série fotográfica que se diferencia dos outros trabalhos deste grupo em dois aspetos significativos: a ausência de cor e de vida. Trata-se de imagens de superfícies frias, áridas e compactas, construídas pelo homem, que remetem para zonas transfronteiriças, criadas para barrar a passagem e dificultar a permanência de qualquer ser humano no local.

Para a exposição na Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France, Sérgio Mah centrou a sua análise nas transformações ocorridas no campo da fotografia, postas em evidência pelos projetos em exposição. Deste modo, comparando com as edições anteriores, nas quais a disposição das obras no espaço havia sido determinada por aspetos comuns em termos temáticos, esta mostra revelava uma nova linha de orientação. Mais que os diferentes temas e questões trazidos a debate pelos fotógrafos e artistas participantes, o que a exposição comissariada por Sérgio Mah evidenciava era a deslocação ou dissolução de fronteiras na prática fotográfica contemporânea. Deste modo, destacavam-se, em termos abrangentes, quatro núcleos comunicantes que demonstravam a reformulação dos géneros fotográficos, como a fotografia de paisagem (Robin Hinsch, Marthe Eriksen, Arianna Arcara) e a fotografia documental (Pierfrancesco Celada, Marie Hald, Jakob Ganslmeier); a criação e manipulação de imagens através de tecnologias digitais (Margarida Gouveia, Eivind H. Natvig, Dominic Hawgood); e a tendência para a instalação, através da conjugação da fotografia com imagens apropriadas, vídeo, instalação de luz, texto, objetos (Christina Werner, Dominic Hawgood, Eivind H. Natvig, Marie Sommer).

Para acompanhar este projeto, a Delegação em França da FCG produziu uma publicação que seguia sensivelmente o formato das anteriores. O texto de abertura, da autoria de Sérgio Mah, apresenta uma leitura global dos projetos reunidos, que se encontram posteriormente documentados em detalhe através de texto e imagens.

Esta exposição mereceu uma considerável atenção por parte da imprensa escrita generalista de língua francesa. A maioria dos artigos publicados é essencialmente informativa, havendo, em alguns casos, espaço para breves apreciações críticas. Exemplo disso é o artigo escrito por Bénédicte Philippe para o Télérama, no qual o jornalista afirma: «D'une qualité de pensée remarquable comme d'une belle exigence plastique, l'expo explore ce territoire thématique dans toutes ses dimensions […].» (Philippe, Télérama, 1 jul. 2016, pp. 32-33)

Também a La Gazette Drouot teceu alguns elogios à exposição e ao trabalho dos artistas e fotógrafos participantes: «Si le titre est un peu plat, l'accrochage, lui, s'avère plutôt impeccable. L'ensemble produit un saisissement et ouvre une perspective. Les lauréats […] sont relativement jeunes. On sent dans leur regard une assurance, une forme de clairvoyance et une simplicité qui fait souvent défaut dans cette expression.» (Z.R., La Gazette Drouot, 8 jul. 2016, p. 167)

Depois desta mostra, os doze projetos viajaram para Viareggio (Lucca), Hamburgo e Oslo, sendo apresentados sob o olhar dos curadores convidados pelas outras instituições, o que deu origem a uma pluralidade de reflexões.

Mariana Roquette Teixeira, 2020


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Sergio Mah (centro)
Miguel Magalhães (à esq.)
Jacinto Lageira (à esq.)
João Manuel Caraça (à dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 127243

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-Delégation en France, Paris) 2016

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 127206

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-Delégation en France, Paris) 2016


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