European Photo Exhibition Award 01

Primeira edição da exposição bienal «European Photo Exhibition Award», evento resultante de uma colaboração de quatro fundações europeias – a Fundação Calouste Gulbenkian (Portugal), a Fondazione Banca del Monte di Lucca (Itália), a Körber-Stiftung (Alemanha) e a Fritt Ord Foundation (Noruega). A mostra foi comissariada por Sérgio Mah.
First edition of the biennial exhibition “European Photo Exhibition Award”, curated by Sérgio Mah. The event stemmed from a collaboration between four European foundations: the Calouste Gulbenkian Foundation (Portugal), the Fondazione Banca del Monte di Lucca (Italy), the Körber-Stiftung (Germany) and the Institusjonen Fritt Ord (Norway).

Primeira edição da exposição bienal «European Photo Exhibition Award», um evento desenvolvido por quatro fundações europeias – a Fundação Calouste Gulbenkian (Portugal), a Fondazione Banca del Monte di Lucca (Itália), a Körber-Stiftung (Alemanha) e Fritt Ord Foundation (Noruega) – com o intuito de criar «a free space where socially relevant issues concerning Europe are developed and discussed by talented young photographers» (European Photo Exhibition Award 01, 2012, p. 7).

Esta mostra reunia doze ensaios fotográficos, de artistas de diferentes nacionalidades, em torno do tema das «identidades europeias». Além da sua atualidade, este tema remetia para uma série de questões inerentes à natureza e aos propósitos do próprio projeto, que ligava países fortemente diferenciados em termos geográficos, culturais, linguísticos e sociais. Por outro lado, a sua abrangência permitia o aprofundamento de problemáticas de natureza distinta – sociais, culturais, políticas –, a nível nacional ou transnacional, através de diferentes abordagens dentro do campo da fotografia.

O diálogo e a coesão estavam no cerne do discurso que servia de base ao encontro, o qual juntava quatro curadores e doze fotógrafos. No entanto, o processo adotado parece ter-se afastado um pouco dessa linha. Cada instituição convidava um curador, que selecionava três fotógrafos emergentes, residentes na Europa, com os quais trabalharia, acompanhando de perto os seus projetos. Numa segunda fase, todos os trabalhos seriam reunidos e apresentados nas várias instituições participantes, através do olhar do respetivo curador convidado. Deste modo, a mesma exposição, apresentada em diferentes espaços e sob distintas curadorias, assumia diversas formas, permitindo estabelecer diferentes relações entre os objetos expostos..

À componente colaborativa juntaram-se assim processos individualizados, apesar das ações conjuntas mencionadas no catálogo, tais como, «two workshops, the first held in Hamburg and the second in Lucca, in which photographers presented and discussed the projects with the other photographers and the four curators» (European Photo Exhibition Award 01, 2012, p. 12).

A maioria dos trabalhos apresentados foram produzidos especificamente para esta exposição, sendo incluídos alguns anteriores, que, pela adequação temática, foram aceites pela equipa de curadores.

A Fundação Calouste Gulbenkian convidou Sérgio Mah para comissariar a seleção portuguesa e ser responsável pela exposição que teria lugar na Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France. Tendo em conta a temática e propósitos deste projeto, os artistas com que Mah escolheu trabalhar foram Catarina Botelho (1981), José Pedro Cortes (1976) e João Grama (1975).

Seguindo a linha de trabalho que vinha desenvolvendo, focada no registo de momentos do seu quotidiano, Catarina Botelho produziu para esta exposição a série O Tempo e o Modo (2011). Esta é composta por sete imagens captadas em diferentes banhos turcos da cidade de Istambul. A lente de Botelho dirige-se para recantos ou áreas onde objetos banais foram pousados ou encostados. O contraste entre estes objetos e o ambiente onde se encontram, quer pelo material de que são feitos, quer pelas cores que possuem, reforça a sensação de diferentes temporalidades que aí se condensam, e as transformações delas decorrentes.

Também José Pedro Cortes produziu uma série fotográfica propositadamente para esta exposição. Costa (2001) é uma viagem ou ensaio sobre a Costa da Caparica, centrando-se no que o artista descreve como «a frontier zone, on the outskirts of a larger mass, disfigured by time and by anarchic will of man» (European Photo Exhibition Award 01, 2012, p. 26). Composta por 29 fotografias, esta série mostra construções precárias, aterros improvisados, vestígios de construções, junto ao areal, lugar de lazer e descanso.

Outra região costeira é apresentada por João Grama na série Ropes (2011), captada entre Sagres e Vila do Bispo, onde uma comunidade de pescadores se dedica, há várias gerações, à apanha de percebes. O título da série faz referência ao método desenvolvido por esta comunidade, à base de cordas, para fazer face à topografia do local. A presença humana nestas paisagens escarpadas e inóspitas é apenas sugerida através de marcas da sua atividade.

Apesar de cada um destes artistas aprofundar temáticas distintas e desenvolver diferentes abordagens, a relação com a água pode ser um aspeto apontado como transversal à participação portuguesa neste encontro. Como refere Sérgio Mah, ao observar a totalidade dos trabalhos apresentados, «a broad range of individual characteristics stands out that relates to nationalities, languages, family origins, geographical trails, academic routes and paths and lifestyles» (European Photo Exhibition Award 01, 2012, p. 12).

Sendo esta exposição focada na diversidade identitária, cada ensaio fotográfico foi exposto como projeto autónomo. Não obstante, na leitura proposta por Sérgio Mah alguns aspetos comuns em termos temáticos emergem: «themes pertaining to the private sphere; […] urban modes and styles of life […]; the phenomenon of immigration […]; the traditions of European culture […]; […] themes related to territoriality» (European Photo Exhibition Award 01, 2012, pp. 12-13).

Enrico Stefanelli, fundador e diretor artístico do Photolux Festival (Lucca, Itália) selecionou os artistas Gabriele Croppi (1974), Pietro Masturzo (1980) e Davide Monteleone (1974). Através de Metaphysics of Urban Space (2011), Croppi procura apresentar, como o próprio explica, «a personal interpretation of the concept of a European Identity […] which has its foundations in ancient Greece, particularly in the work of Aristotle» (European Photo Exhibition Award 01, 2012, p. 37). Esta série (a única nesta exposição que é totalmente a preto-e-branco) mostra paisagens urbanas, com os seus monumentos identitários, mas imbuídas de uma atmosfera ficcional ou de sonho, que as aproxima. Este sentido de unidade contrasta com as ideias de fronteira e distância que os trabalhos de Masturzo e Monteleone aprofundam ao apresentarem histórias de migração em diferentes épocas e suas consequências na definição da identidade dos migrantes.

Da seleção de Ingo Taubhorn, curador na Haus der Photographie, do Deichtorhallen Hamburg, fazem parte Frederic Lezmi (1978), Isabelle Wenzel (1982) e Linn Schröder (1977). Lezmi participou com a série Complex Proeuropa: A Journey Through Romania (2011), na qual, como o próprio explica, procura, através de registos da rua, «to show a country whose people still seem lost in this new capitalist world of Europe» e «to do justice to the country's geographical and cultural diversity» (Ibid., p. 66). Wenzel produziu uma série de oito fotografias de esculturas de mulheres sem rosto, intitulada Models of Surfaces (2011), e enraizada nas suas pesquisas sobre «specific ways of seeing and the key role social connotations play» (European Photo Exhibition Award 01, 2012, p. 126). Schröder fotografou nos Estados Unidos a série apresentada – Somewhere Here (2011) –, através da qual, como explica, «wanted to track down those clichés and check whether they were for real», uma vez que considera que «America has a strong presence in Europe» (European Photo Exhibition Award 01, 2012, p. 106).

Por último, Rune Eraker, director editorial do Norwegian Journal of Photography, escolheu Monica Larsen (1977), Marie Sjøvold (1982) e Hannah Modigh (1980). Closer in the Distance (2011), de Larsen, Midnight Milk (2011), de Sjøvold, e Whispering Howls (2011), de Modigh, constituem talvez o grupo de trabalhos mais coeso, em termos temáticos e visuais. Momentos de mudança, a maternidade e a adolescência são aprofundados por estas três artistas através de ensaios fotográficos com significativa carga psicológica e emocional.

Este encontro revelava assim uma geração de artistas que usa a fotografia como meio de denúncia e questionamento sobre fenómenos sociais que marcam a contemporaneidade, desenvolvendo linguagens que aliam abordagens de natureza documental a projeções imaginárias e ficcionais.

Para acompanhar este projeto, foi produzida conjuntamente uma publicação que reunia reproduções de todas as séries fotográficas apresentadas, acompanhadas por breves textos da autoria dos artistas ou dos curadores que os selecionaram. O texto de abertura do catálogo, que apresenta o projeto e aprofunda a temática da primeira edição, é da autoria do curador português Sérgio Mah.

Com este encontro iniciava-se uma relação de parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian e as três instituições europeias mencionadas, que resultaria em mais duas edições deste projeto.

Mariana Roquette Teixeira, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

João Caraça (à esq.), Artur Santos Silva (ao centro) e Isabel Mota (à dir.)
Sérgio Mah (ao centro) e Catarina Botelho (à dir.)
Catarina Botelho (à esq.) e Artur Santos Silva (à dir.)

Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 129561

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-Delegation en France, Paris) 2012


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