Entre Espaços. Coleção do CAM, 1968 – 2011

Exposição coletiva com a curadoria de Isabel Carlos, Rita Fabiana e Patrícia Rosas, que reuniu 24 obras da coleção do Centro de Arte Moderna. A mostra apresentou trabalhos de escultura, fotografia, instalação, pintura e vídeo e estabeleceu um diálogo com a mostra de Antoni Muntadas.
Collective exhibition curated by Isabel Carlos, Rita Fabiana and Patrícia Rosas bringing together 24 works from the Modern Collection. The show presented sculptures, photographs, installations, paintings and videos to establish a dialogue with the Antoni Muntadas (1942) exhibition.

«Entre Espaços. Coleção do CAM. 1968-2011» inaugurou a 31 de maio de 2012 e ficou patente na Nave do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (CAM-FCG), de 1 de junho a 26 de agosto daquele ano.

A exposição teve curadoria de Isabel Carlos, Patrícia Rosas e Rita Fabiana e apresentou um conjunto de 24 obras de 22 artistas representados na coleção do CAM. Foram apresentados trabalhos de escultura, fotografia, instalação, pintura e vídeo de Helena Almeida (1934-2018), Vasco Araújo (1975), Fernando Calhau (1948-2002), Rui Chafes (1966), Didier Fiúza Faustino (1968), Armando Ferraz (1968), João Paulo Feliciano (1963), Fernanda Fragateiro (1962), Ana Hatherly (1929-2015), Tim Head (1946), Marina Mesquita (1940-2007), Bruno Pacheco (1974), Vítor Pomar (1949), Rui Sanches (1954), Pedro Cabral Santo (1968), Pedro Campos Rosado (1950-2018), Julião Sarmento (1948-2021), Noé Sendas (1972), Augusto Alves da Silva (1963), Ana Vieira (1940-2016) e Jane & Louise Wilson (1967).

Segundo o Relatório e Contas da FCG de 2012, os trabalhos expostos sugeriam «a presença de um espaço indeterminado ou indefinido, um intervalo entre linhas, planos, margens, corpos, territórios», estabelecendo um diálogo com a exposição «Muntadas. Entre/Between», que inaugurou no mesmo dia. Organizada pelo Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em colaboração com o CAM, esta última apresentou um conjunto de trabalhos produzidos ao longo de quarenta anos pelo artista catalão Antoni Muntadas (1942), sem o intuito de se constituir como uma retrospetiva (Relatório e Contas FCG. 2012, 2013, p. 107). Do mesmo modo que a exposição «Entre Espaços», a exposição «Muntadas. Entre/Between» abordava a ideia de território ambíguo e antecipador de novas situações, evocando o conceito de «não-lugar» defendido pelo antropólogo francês Marc Augé, ou, como referiu Rita Fabiana, «espaços "entre" que deixam em aberto ações, acontecimentos, narrativas, afirmando-se como espaços de possibilidade ou de potenciais encontros, por vezes decetivos ou inconclusivos» (Entre Espaços. Coleção do CAM, 1968-2011, 2012, p. 2).

Ao ocupar os espaços do Hall, uma parte da Nave, Sala A, Sala B e Galeria do Piso -1 do CAM, o visitante da exposição «Entre Espaços» teria de passar primeiro pela exposição de Muntadas e depois, à saída, confrontar-se obrigatoriamente com as duas mostras.

O início de «Entre Espaços» fazia-se no fim da grande nave, perto das escadas que ligam os três pisos, a partir de uma escultura em aço de Fernando Calhau, S/Título #335 (2002), que não deixava antever o aspeto geral da exposição nem o seu percurso; criava no visitante uma sensação de que algo estaria para vir e estabelecia uma relação entre o seu corpo, o trabalho artístico exposto e o contexto arquitetónico, visto como «o prolongamento da escala do corpo que o habita»; e anunciava uma das linhas essenciais e definidoras do conceito expositivo: «espaço (visível e invisível) e corpo (presente e ausente) são, em "Entre Espaços", indissociáveis, inseparáveis» (Entre Espaços. Coleção do CAM, 1968-2011, 2012, p. 2).

Em seguida, a escultura Pari Passu (1985), de Pedro Campos Rosado, propunha um jogo de dicotomias entre exterior e interior, visível e invisível, a partir de uma estrutura em «L» feita de aço, atravessada por uma superfície de vidro transparente. Esta escultura precedia Em Expectativa de uma paisagem de acontecimentos #3 (2009), de Fernanda Fragateiro, uma escultura constituída por 825 paralelepípedos de alumínio suspensos do teto. Nesta peça, coexistiam a representação de um lugar e a efetiva construção do mesmo. Escultura (1971), de Marina Mesquita, trabalho constituído por chapas de aço inoxidável, conjugava noções bidimensionais e tridimensionais do espaço.

De João Paulo Feliciano foi exposto Let there be more light, obra de 1988 que partia da literal iluminação desta frase, através de uma lâmpada de néon acesa, sobre uma tela colocada na parede. Em Azul em Ornans (2006-2007), Pedro Cabral Santo materializou um «sabre de luz», retirado do imaginário da saga de filmes Star Wars, fixando-o de modo a atravessar um objeto de dois metros de altura, constituído por blocos geométricos de placas de metal, onde pintura, escultura e cinema se entrecruzam.

Théâtre des Opérations (2007), de Didier Fiúza Faustino, instalação constituída por três monitores, destabilizava as posições de observador e observado, permitindo visualizar o espaço do CAM e os seus visitantes de uma forma inédita, e estabelecia uma ponte conceptual com o trabalho de Noé Sendas, Eye Cast (2004), no qual o jogo entre perceção e ficção estava também presente. Nesta obra, um banco com um buraco no centro convidava o visitante a espreitar, para apenas encontrar o seu próprio reflexo.

Olhos d'água (2008), de Waltercio Caldas, e S/Título (1968), de Ana Vieira, também expostas, são obras que, segundo Rita Fabiana, «desenham o vazio, por entre linhas e planos [...]. Se na primeira a linha assume um valor positivo, enforma; na segunda, a forma, como um negativo, surge de um cortar n(o) espaço. Cortar, romper, rasgar, separar, fender um espaço, palavras que evocam uma ação que encerra tanto um ato violento com um ato de construção de algo novo, inesperado» (Entre Espaços. Coleção do CAM. 1968-2011, 2012, p. 4).

A relação entre o corpo do visitante, do artista e da obra de arte era desenvolvida em Rotura (1977-2007), trabalho que resultava de uma performance de Ana Hatherly, realizada na Galeria Quadrum, em 1997, centrada num conjunto de treze painéis de folhas de papel de cenário rasgados. A performance e o corpo também fazem parte da obra de Helena Almeida, nomeadamente, em Separação (1976), conjunto de quatro fotografias, e em Corte Secreto (1981), telão suspenso no teto, onde o corpo da artista se divide entre dois espaços e sai daquele que parece coincidir com o do espectador para entrar noutro imaginário.

A fotografia como instrumento para uma reflexão sobre realidade e ficção estava presente em Oddments Room (2009), de Jane & Louise Wilson, que tomava o seu nome de um dos mais antigos e prestigiados alfarrabistas de Londres, local onde a série foi fotografada. Este conjunto de quatro fotografias partiu de um trabalho que as artistas fizeram intitulado Unfolding the Aryan Papers, de 2009, baseado no arquivo de Stanley Kubrick para a realização do filme com o mesmo nome. Este grande conjunto documental foi recriado pelas artistas como se fizesse parte da livraria alfarrabista, pelos corredores da qual passava uma das personagens do filme, que não chegou a ser realizado.

De Vasco Araújo foi exposto Todos os que caem (2010) e Happy Days (2010), e de Julião Sarmento, Pintura Cega (Três Instrumentos de Prazer e um de Morte) e An Involved Story (1998). Na origem da obra Todos os que caem está a deambulação de Vasco Araújo pelo espaço vazio de um hospício, que o conduziu à representação de uma cena de psicose, trauma, abandono e isolamento. Em Happy Days, Julião Sarmento partiu de um texto de Samuel Beckett, cujas didascálias propõe como linhas de orientação. Os trabalhos de Julião Sarmento partem de uma narrativa incompleta, que caracteriza grande parte da sua obra, contada através de elementos iconográficos, parcialmente ocultos ou inacabados, que afastam as figuras de qualquer contexto possível, tornando-as indecifráveis.

272B9 (2011), de Augusto Alves da Silva, era constituído por um tríptico que confundia o espectador pela aparente aleatoriedade de temas representados, e pela descontinuidade que abria caminho a uma multiplicidade de significados possíveis. Nas palavras do artista: «Quero que as minhas imagens, porque aparentemente cristalinas, possam cativar quaisquer pessoas, para depois confundi-las. Se se sentirem confusas é porque estão a raciocinar. Talvez comecem a não tomar como garantido aquilo que está à frente delas.» (Oliveira, «Augusto Alves da Silva», 2012)

Vítor Pomar expôs um conjunto de três fotografias realizadas no seu ateliê em Amesterdão R&B (1972), figuras de frente, de olhos vendados, que evocam a sublimação dos sentidos.

O absurdo da acumulação que caracteriza a sociedade contemporânea de consumo estava representado na fotografia Biological Landscape (1985), de Tim Head, na qual invólucros de pílulas pousam sobre dunas feitas de materiais artificiais como produtos de limpeza doméstica.

A escultura em ferro pintado A Manhã I (1992), de Rui Chafes, evocava tanto uma figura orgânica, como uma arma de fogo. O mesmo diálogo entre orgânico e artificial situava a obra Sem Título (2007) de Rui Sanches. Neste caso, uma composição complexa de materiais diversos, onde a estrutura de um paralelepípedo de metal cerca um paralelepípedo de dimensões inferiores sobre o qual pousa uma cabeça de madeira que encima um pêndulo.

Em S/Título (Round Reversion) (2001), de Armando Ferraz, um homem de fato completo atravessava um rio ou lago com uma mala, sem mostrar indícios da razão de ser da situação.

A exposição terminava com a obra Hello Goodbye (2007), de Bruno Pacheco, um tripé alto e preto sobre o qual se encontrava um ecrã digital e um vidro que o refletia. A partir do ângulo que faziam as duas superfícies, podia ler-se, de forma alternada, as palavras «Hello» e «Goodbye», mimetizando a função do teleponto, embora desta feita colocando o leitor do lado dos profissionais de televisão e não do telespectador habitual.

No âmbito da exposição foi programado um conjunto de visitas guiadas, realizadas pelas curadoras («Encontros ao fim da tarde») e por Sara Franqueira («Domingos com arte» e duas visitas enquadradas na rubrica «Uma obra de arte à hora de almoço», sobre os trabalhos Olhos d'Água, de Waltercio Caldas, e Théâtre des Opérations, de Didier Faustino). Foi publicado um caderno de exposição que contém um texto assinado por Rita Fabiana, a reprodução de algumas obras expostas e o programa de visitas guiadas associadas à exposição.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Sem título

Ana Vieira (1940-2016)

Sem título, Inv. 10E1614

S/Título (Round Reversion) da Série Azul e Rotineiro

Armando Ferraz (1968-)

S/Título (Round Reversion) da Série Azul e Rotineiro, 2001 / Inv. 02FP455

272B9

Augusto Alves da Silva (1963-)

272B9, Inv. FP577 1-3

Hello Goodbye

Bruno Pacheco (1974- )

Hello Goodbye, 2007 / Inv. 07E1489

Théatre des Opérations

Didier Fiuza Faustino (1968-)

Théatre des Opérations, 2007 / Inv. 07E1510

Expectativa de uma paisagem de acontecimentos #3

Fernanda Fragateiro (1962)

Expectativa de uma paisagem de acontecimentos #3, Inv. 09E1599

S/Título #335

Fernando Calhau (1948-2002)

S/Título #335, 2002 / Inv. 04E1340

Corte Secreto

Helena Almeida (1934-2018)

Corte Secreto, Inv. 85FP380

Separação

Helena Almeida (1934-2018)

Separação, Inv. FP13 1-4

Oddments Room I (Camping amongst Cannibals)

Jane & Louise Wilson (1967-)

Oddments Room I (Camping amongst Cannibals), Inv. FE100

Oddments Room VI (My Life in Four Continents)

Jane & Louise Wilson (1967-)

Oddments Room VI (My Life in Four Continents), Inv. FE101

Let There Be More Light

João Paulo Feliciano (1963-)

Let There Be More Light, 1988 / Inv. 04E1263

An Involved Story

Julião Sarmento (1948-2021)

An Involved Story, Inv. 00P1033

Pintura Cega (Três Instrumentos de Prazer e um de Morte)

Julião Sarmento (1948-2021)

Pintura Cega (Três Instrumentos de Prazer e um de Morte), Inv. 93P305

Escultura

Marina Mesquita (1940-2006)

Escultura, 1971 / Inv. 71E1027

Eye Cast

Noé Sendas (1972-)

Eye Cast, 2004 / Inv. 05E1364

Azul em Ornans

Pedro Cabral Santo (1968-)

Azul em Ornans, 2006/07 / Inv. 08E1561

Pari Passu

Pedro Rosado (1950-2018)

Pari Passu, 1985 / Inv. 86E893

A Manhã I

Rui Chafes (1966-)

A Manhã I, Inv. 93E302

Sem título

Rui Sanches (1954-)

Sem título, 2007 / Inv. 08E1573

Biological Landscape

Tim Head (1946-)

Biological Landscape, 1985-1987 / Inv. 90FE25

Todos os que caem

Vasco Araújo (1975-)

Todos os que caem, Inv. FP565

R&B

Vítor Pomar (1949-)

R&B, 1972 / Inv. 98FP331

Olhos d'água

Waltercio Caldas (1946-)

Olhos d'água, 2008 / Inv. EE68


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Encontros ao Fim da Tarde

jun 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Domingos com Arte

jun 2012 – jul 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Uma Obra de Arte à Hora do Almoço

jun 2012 – jul 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00629

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém lista de obras e correspondência entre o Centro de Arte Moderna e os artistas representados. 2012 – 2012

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 6902

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 2012


Exposições Relacionadas

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