Bruno Pacheco. Vasco Araújo

Exposição temporária realizada com o objetivo de apresentar dois trabalhos: Hello Goodbye, de Bruno Pacheco (1974), e A Hand of Bridge, de Vasco Araújo (1975). As duas instalações abordavam questões sobre a comunicação, a sua estruturação social e como se desenvolve na era digital.
Temporary exhibition organised to showcase the works “Hello Goodbye”, by Bruno Pacheco (1974), and “A Hand of Bridge”, by Vasco Araújo (1975). The two installations focused on the social structure of communication and its evolution in a digital era.

Exposição de duas instalações pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian: Hello Goodbye (2007), de Bruno Pacheco (1974), e A Hand of Bridge (2004), de Vasco Araújo (1975). Os dois dispositivos, que interpelavam o público sobre questões relacionadas com a comunicação, estiveram patentes na Sala de Exposições Temporárias entre 21 de agosto e 31 de outubro de 2007.

Influenciada pela ópera homónima de Samuel Barber, A Hand of Bridge, de Vasco Araújo, remete para uma cena onde dois casais se confrontavam numa partida de bridge. No desenrolar desta peça de nove minutos, dois pares de amigos, descontentes com as suas vidas, encontram-se todas as noites para jogar bridge, aproveitando para expressar os seus pensamentos e desejos mais profundos. A ópera de Barber foi pela primeira vez apresentada ao público no Festival of the Two Worlds, em Spoleto, Itália, em junho de 1959, sendo o seu texto publicado dois anos mais tarde, com uma capa desenhada por Andy Warhol.

Constituída por quatro conjuntos de objetos, cada um formado por uma metade de uma mesa de jogo forrada a feltro verde, uma cadeira, um texto e várias fotografias emolduradas, que apresentavam diferentes perspetivas da partida, esta instalação abordava o modo como o bridge reflete as relações humanas e como estas se estruturam em resposta a determinadas convenções sociais.

Através da representação de elementos como a posição das mãos, das pernas e dos pés e da presença de cartas, recurso omnipresente, copos de vinho e cigarros, Vasco Araújo reproduz o clima de tensão que se desenvolve durante a partida de cartas e as realidades psicológicas de cada jogador, colocando-as numa posição de confronto entre as personagens e o espectador. Estes elementos revelam-se fulcrais para o desenrolar da narrativa e para a leitura do jogo duplo que se desenvolve, como Leonor Nazaré descreve: «Paralelamente, há um código gestual e uma série de pequenas acções em que a expectativa amorosa se inscreve: o vestido de noite, os planos do busto e das pernas dela, a troca de olhares, o sapato semidescalço, o pé dela na bainha das calças dele, os copos de vinho.» (Nazaré, Texto para a folha de sala, ago. 2007, Arquivos Gulbenkian, ID: 179566)

Os textos escritos à mão e na primeira pessoa, que acompanhavam estas representações e que revelavam o que cada personagem sentia e pensava, contribuíam para a narrativa que as várias perspetivas do jogo e de cada jogador convocam.

Partindo da ideia de flânerie d'intérieur, Vasco Araújo constrói um ambiente que se transmite ao público, envolvendo-o na partida de bridge e nas tensões psicológicas que dela resultam, um convite que é continuado, apesar de assumir contornos diferentes, com Hello Goodbye.

O dispositivo de Bruno Pacheco, que Leonor Nazaré caracterizou como «simples mas surpreendente» e «robot levantado à altura de um homem», era constituído por um tripé alto e preto, sobre o qual se encontrava um ecrã digital horizontal e um vidro que o refletia. A partir do ângulo que faziam as duas superfícies, podia ler-se, de forma alternada, as palavras «Hello» e «Goodbye», mimetizando a função do teleponto, embora desta vez pondo o leitor do lado dos profissionais de televisão e não do telespectador habitual (Nazaré, Texto para a folha de sala, ago. 2007, Arquivos Gulbenkian, ID: 179565).

A inexistência de uma narrativa que desse sentido à partida e à chegada, implícitas nas duas palavras projetadas no ecrã, remeteria ainda para a fugacidade do encontro entre o observador e a obra exposta. Era igualmente possível ler a abordagem do artista relativamente às diferenças que se estabelecem entre a nossa relação com o mundo digital e com o espelho, elemento que reflete o observador e que faz parte do seu quotidiano, responsável pela imagem que este elabora sobre si: «[…] o espelho é o avesso do que existe mais familiar e inquietante do nosso quotidiano; é um lugar-comum da nossa relação com a imagem mas não da nossa relação com a imagem digital.» (Ibid.)

A museografia da exposição implicou a construção de paredes, que formaram espaços distintos para cada uma das instalações.

Ambas as peças se encontram integradas no acervo da Fundação Calouste Gulbenkian: A Hand of Bridge foi adquirida à Galeria Luís Serpa em 2004; Hello Goodbye, à Galeria Lisboa 20 Arte Contemporânea, após a sua apresentação na exposição «All Together», que esteve patente na Culturgest entre 20 de janeiro e 25 de março de 2007.

A divulgação da exposição pelos media portugueses reforçou a ideia de se tratar de «dois dispositivos aparentemente lúdicos que nos reenviam para problemáticas da comunicação mais profundas e complexas que esse primeiro nível de percepção» («Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. Bruno Pacheco/Vasco Araújo», Time Out, 31 out. 2007, p. 35).

No âmbito da exposição, o Serviço Educativo organizou, durante os meses de setembro e outubro de 2007, várias visitas guiadas para adultos, orientadas por Maria João Romana.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Hello Goodbye

Bruno Pacheco (1974- )

Hello Goodbye, 2007 / Inv. 07E1489

A Hand of Bridge

Vasco Araújo (1975-)

A Hand of Bridge, Inv. 04E1273


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Encontros Imediatos. Conversas à Hora do Almoço

set 2007 – out 2007
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Visitas de Fim-de-Semana

set 2007
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Fotografias


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 01053

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém pedido de aquisição da obra Hello Goodbye assinado por Jorge Molder. 2007 – 2007

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 179546

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2007


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2002 / Sede Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

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