Exposição individual itinerante da obra do artista catalão Antoni Muntadas (1942), organizada pelo Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em colaboração com o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian e com o comissariado de Daina Augaitis.
Solo travelling exhibition of the work of Catalan artist Antoni Muntadas (1942) curated by Daina Augaitis and organised by the Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia in collaboration with the Calouste Gulbenkien Foundation’s Modern Art Centre.
Exposição da obra do artista catalão Antoni Muntadas (1942), organizada pelo Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em colaboração com o Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian. Esteve patente ao público entre 2 de junho e 2 de setembro de 2012, no Hall, Sala A, Sala B, Nave e Galeria (piso 01) do CAM. Parte de um programa maior de apresentações, a exposição seguiu posteriormente para Paris, onde esteve patente no Jeu de Paume entre 16 de outubro e 20 de janeiro de 2012, e depois para o Canadá, onde foi apresentada na Vancouver Art Gallery.
Em Lisboa, foi apresentada uma seleção da mostra internacional, anteriormente exposta no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, que incidiu sobre os primeiros trabalhos de Muntadas, alguns deles desconhecidos do grande público. Realizados na década de 1970, estas obras desenvolvem-se em torno de temas como o espaço e a experimentação do quotidiano através dos sentidos. Foram também expostos trabalhos mais tardios, dos quais Isabel Carlos, diretora do CAM, destacou a instalação Exhibition (1987-2012), «poucas vezes mostrada e uma obra incontornável onde a crítica institucional, o rigor de meios e a reflexão sobre os próprios mecanismos museológicos é levada ao extremo da depuração e da eficácia comunicacional» (Muntadas. Entre/Between, 2012).
Apesar do aparente caráter retrospetivo, foi intuito do artista e da comissária que a exposição não seguisse este propósito, tendo sido construída a partir de núcleos que definiam áreas de reflexão ou temas desenvolvidos na obra de Muntadas. Assim, a exposição dividia-se em nove cosmologias/núcleos expositivos, cuja leitura podia ser aleatória e não obrigatoriamente cronológica: «Microespacios/Microspaces», «Paisaje de los Media/Media Landscape», «Esferas de Poder/Spheres of Power», «La Construcción del Miedo/Domain of Fear», «Espacios de Espectáculo/Places of Spectacle», «Territorio de lo Público/Communal Spaces», «El Archivo/The Archive», «Ámbitos de la Traducción/Field of Translation» e «Sistemas del Arte/Systems of Art». A grande dimensão da exposição levou a que duas destas cosmologias não pudessem ser apresentas em Lisboa: «La Construcción del Miedo/Domain of Fear» e «El Archivo/The Archive».
«Entre/Between» foi comissariada por Daina Augaitis, curadora canadiana de arte contemporânea que, de 1996 a 2017, foi curadora principal e diretora associada da Vancouver Art Gallery. O título da exposição remetia para um conceito recorrente na obra de Antoni Muntadas, como ponto de partida para a produção artística, e que consistia num território ambíguo e antecipador de novas situações, fruto das múltiplas vivências contemporâneas. Este conceito refletia também a biografia do artista, que saiu de Barcelona para Nova Iorque em 1971 e que, desde então, vive e trabalha entre estas duas cidades.
Ao remeter para um local intermédio, a exposição evocava também o conceito de «não-lugares», que o antropólogo francês Marc Augé define como locais de transição que oferecem uma subtil sensação de pertença mas que não se definem ou caracterizam como identitários, relacionais ou históricos. São espaços como salas de espera de aeroportos, quartos de hotel e centros comerciais.
Além destas referências, interessava também a Muntadas a interpenetração entre culturas, línguas e ideologias, que o levavam a centrar-se não na perceção daquilo que as separa ou distingue, mas nos elos de ligação existentes entre si. Assim, «entre» é, complementarmente, um espaço que se opõe ao «não-lugar», no sentido em que é simultaneamente um espaço de união «um território crescente de vias e passagens que oferece possibilidades inexploradas associadas a um espaço inespecífico ou não reclamado; uma zona extremamente ativa e produtiva, que poderia mesmo possuir uma dimensão utópica» (Muntadas. Entre/Between, 2012, p. 2).
Estes conceitos articulavam-se com o modo como Muntadas percecionava a sua prática artística, enquanto estudo de campo e exploração cultural, recorrendo para tal a instrumentos relacionados com as ciências sociais, como a observação e a entrevista, por exemplo. O artista assumia a posição de alguém imparcial no estudo das sensações, gestos, memórias, perceções, interações e representações de indivíduos, lugares, acontecimentos e objetos, conseguindo assim revelar alguma da complexidade do discurso e das estruturas sociais contemporâneos.
O artista visava ainda que os seus trabalhos fossem o resultado de um processo colaborativo, razão pela qual muitos deles contaram com a participação de grupos de cidadãos, estudantes e professores durante o processo construtivo. Desde muito cedo que surgiu no trabalho de Muntadas a preocupação de colaborar com diferentes comunidades, com as quais desenvolveu programas sobre tradições e acontecimentos locais, através do suporte de vídeo.
Com uma forte componente social e política, o trabalho comunicava através de um grafismo muito próprio, retirado de folhetos, posters, jornais, cartazes, televisões, CD, caixas de luz e sinais de trânsito, com o intuito de evocar a técnica e a tecnologia contemporâneas e de revelar, através de um processo de transformação artística, mensagens e valores culturais ocultos, que sugeria dissecando a semântica de símbolos, imagens e slogans.
Nos quarenta anos de trabalho cobertos pela exposição, ficava percetível a utilização de uma mesma abordagem plástica destes temas, nomeadamente através da exploração dos sentidos (como o olfato, o tato e o paladar) para uma vivência mais apurada dos materiais e espaços.
A partir da década de 1980, o trabalho de Muntadas começou a centrar-se na exploração de conceitos dicotómicos, como «público-privado», «subjetivo-objetivo» e «padrão-específico», passando depois a aprofundar as estruturas e os códigos de controlo, especialmente no meio artístico. É o que surge no último núcleo da exposição, com a instalação Exhibition, uma crítica do artista ao mundo hierático da arte, à institucionalização dos museus e ao mercado artístico, através da desconstrução dos sistemas museográficos de exposição.
Ao longo da mostra, a participação do visitante era constantemente convocada. Dele se exigia um despertar da consciência política e social e uma parte ativa na resolução de problemas inerentes à sociedade contemporânea.
Foi desejo do artista e da comissária que os visitantes retivessem da exposição um modo diferente de entender estes espaços de passagem: «A obra de Muntadas sugere que, nessas situações, não podem ser completamente conhecidos, previstos ou controlados, existe a possibilidade de estabelecer uma multiplicidade de relações, em especial se interviermos de forma consciente na descodificação e tradução de "o que estamos a contemplar".» (Muntadas. Entre/Between, 2012, p. 5)
A participação do artista na exposição não seria, no entanto, uma tarefa simples, como lembra Maria Espírito Santo ao citar Muntadas, que gostava de convocar todos os sentidos: «"Tu, como público, tens que fazer um esforço. Não se pode dar tudo mastigado." É com esta premissa no bolso que cada um deveria entrar na nova exposição do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, segundo o conselho do próprio artista. "Entre/Between" não é uma exposição de fotografia mas é para ser observada como tal: de olhar atento e sentidos despertos.» (Santo, Jornal i, 1 jun. 2012, p. 30)
No âmbito da exposição, foi organizado um programa de visitas guiadas, realizadas pelo artista, pela comissária da exposição e por Ana João Romana.
Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00656
Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, correspondência interna e externa, projeto da exposição no Museo Reina Sofía, lista de convidados para a inauguração do Museo Reina Sofía, versões do contrato entre o Museo Reina Sofía e a Fundação Calouste Gulbenkian, listas de obras e formulários de empréstimo.2010 2012
Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00657
Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, versões do contrato entre o Museo Reina Sofía e a Fundação Calouste Gulbenkian, listas de obras e fichas com identificação das obras.2012 2012
Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00658
Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém lista de obras expostas, formulários de empréstimo e fichas do estado de conservação das obras.2011 2012