Ripple. Pedro Campos Rosado

Exposição do artista Pedro Campos Rosado (1950-2018). Nesta exposição, programada por Jorge Molder, foi apresentado o projeto site-specific Ripple: uma estrutura de inox que atravessava toda a sala de exposições, permitindo a circulação por passagens estreitas.
Exhibition of work by artist Pedro Campos Rosado (1950-2018). The exhibition, directed by Jorge Molder, featured the site-specific work Ripple: a stainless-steel structure that extended across the exhibition hall, with narrow passages for people to walk through.

Exposição do artista português Pedro Campos Rosado (1950-2018), organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP). A iniciativa partiu do próprio artista, que dirigiu a proposta ao então diretor do CAMJAP, Jorge Molder. O projeto consistiu num site-specific, que foi integrado na programação do Centro e inaugurado em novembro de 2003.

Pedro Campos Rosado, que se integra na chamada «geração dos anos 80» – uma década marcada pela vontade de renovação da escultura portuguesa –, dividiu a sua atividade profissional entre o ensino artístico e o seu próprio trabalho enquanto escultor. Foi professor do curso de Artes Plásticas e um dos fundadores da ESAD – Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha, onde foi coordenador do Departamento de Artes Plásticas.

Citando um artigo publicado no Público por ocasião da sua morte, Rosado foi também «um dos responsáveis e dinamizadores dos Encontros Luso-Americanos de Arte Contemporânea que, em 1989, trouxeram ao Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, numa parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, alguns dos artistas verdadeiramente essenciais da contemporaneidade internacional» («Em memória de Pedro de Campos Rosado», Público, 21 ago. 2018).

Na exposição agora em análise, Pedro Campos Rosado apresentou o seu então mais recente projeto site-specific, intitulado Ripple. A concretização do projeto foi possível com o apoio do Instituto Politécnico de Leiria (IPLEI), através da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) e da Escola Superior de Tecnologia, Gestão, Arte e Design das Caldas da Rainha (ESAD.CR), integrada no IPLEI.  

A organização da mostra – que se prolongou durante três anos – contou desde o primeiro momento com o apoio e colaboração de Jorge Molder e Nuno Mangas (presidente do Conselho Diretivo da ESTG) e com Carlos Fernando Couceiro Sousa Neves (vice-presidente do Conselho Diretivo da mesma escola), que coordenou a equipa técnica de engenheiros necessários à concretização e aquisição dos materiais e dos equipamentos para a montagem da obra. Também Pedro Rosado colaborou estreitamente na conceção e produção da obra e montagem da exposição.

Como descrito no documento relativo à montagem da peça, Ripple é um objeto com 1,5 metros de altura e 21 metros de comprimento, constituído por três chapas de aço inox polido em sequência, suspenso e colocado a todo o comprimento da diagonal da Sala de Exposições Temporárias do CAMJAP. O posicionamento da peça permitiria a circulação por todo o espaço, através de passagens estreitas entre os extremos do objeto e os dois cantos opostos da galeria. O objeto suspenso dividia a sala em dois espaços, funcionando como um espelho duplo, que refletia a sala e os observadores.

A superfície era «ativada» momentaneamente, provocando uma «onda» que a atravessaria, distorcendo as imagens refletidas e produzindo um ruído característico de uma superfície metálica em vibração. A duração da vibração e da onda provocada era curta, voltando a superfície ao estado de repouso, antes de tornar a ser excitada/ativada após alguns segundos, e assim sucessivamente, alternando períodos de repouso com períodos de ativação. Os ciclos de ativação e de repouso da superfície poderiam ser alterados pelos visitantes ao acionarem voluntária ou involuntariamente sensores colocados na sala (Memória descritiva, 27 out. 2011, Arquivos Gulbenkian, CAM 00513).

Complexa, a obra mexe com algumas das categorias mais determinantes da escultura contemporânea e da arte em geral. Segundo Jorge Molder, isso deve-se aos seguintes efeitos estruturais da obra: «O peso e a sua suspensão […]. O movimento, o tempo e também a massa desse movimento […]. O som; a recomposição de uma forma; sujeita ao movimento, a forma sofre alterações, é desconstruída, e depois recompõe-se, reconstrói-se, configurando um ciclo.» (Ripple. Pedro Campos Rosado, 2003, p. 3) Como refere Molder, a estas considerações poder-se-ia chamar «teoria da onda». O título, Ripple (onda, ondulação), «dá conta da diversidade de implicações e de sentidos» atribuíveis à obra (Ibid.).

Bernardo Pinto de Almeida foi o autor convidado a assinar o texto do catálogo dedicado ao artista. Reverberando o conceito de «obra aberta» de Umberto Eco, Pinto de Almeida classificou Ripple como uma obra mista de instalação (site-specific, performance, escultura), «pela sua natureza ao mesmo tempo específica – isto é, só reconhecível no interior do que se poderia designar como o campo da arte – e múltipla, quer dizer, capaz de diversificar os modos de relação quer com o espaço envolvente quer com o seu espectador» (Ibid., p. 5).

Nesse sentido, afirmando-se enquanto presença no espaço, Ripple é uma peça de escultura com presença tridimensional acentuada, que longitudinalmente ocupa um espaço e o satura dessa mesma espacialidade intensa. Esse aspeto da peça é também abordado no texto de Pinto de Almeida.

Enquanto transformadora do espaço em que se inscreve, «a obra tende a obrigar quem entra nesse espaço a redefinir igualmente as coordenadas de apreensão desse espaço, obrigando o seu visitante a uma circulação diversa daquela que este espaço normalmente lhe permitiria» (Ibid.). Na medida que define um novo tipo de espaço, a obra reclama uma relação física com o espectador – que não é convocado apenas para contemplar a obra, mas para circular em seu redor. Sobre esse efeito-relação, Pinto de Almeida acrescenta: «a peça ganha igualmente a sua dimensão performativa mais acentuada, tanto mais que a performance é, por excelência, uma arte espacial». E continua: «[…] ao obrigar o espectador a uma relação física concreta, e tanto mais que o espelha no próprio momento da sua acção, dado o tratamento do aço polido, a peça coloca-o em posição de performer, de alguém que age motivado, ou embraiado pela sua presença, fazendo desse seu espectador personagem transitória de um teatro íntimo.» (Ibid., p. 6)

No mesmo texto, Pinto de Almeida suporta a sua análise com algumas referências da arte moderna e pós-moderna. Entre elas, o minimalismo de Richard Serra, o trabalho em aço de Donald Judd, a estrutura e caráter mecânico de Ripple associada a Calder – no caso, o motor escondido que faz ondular a peça – e o «humor duchampiano» (Ibid., pp. 7-8). No cruzamento de possibilidades entre as várias disciplinas – performance, pintura, escultura, instalação –, a peça de Campos Rosado configurava «uma das dimensões mais essenciais desta importante obra da nova escultura portuguesa […] a potencialidade semântica» (Ibid., pp. 8-9).

Como atividades complementares, foram organizadas várias visitas guiadas à exposição durante o período em que esteve patente.

O catálogo da mostra, de edição bilingue (português/inglês), foi publicado pelo CAMJAP. Inclui um texto introdutório de Jorge Molder, uma extensa análise assinada por Bernardo Pinto de Almeida e, ainda, a biografia do artista.

O design do catálogo foi realizado em lâminas de vinil cromado, posteriormente coladas sobre cartolina e impressas em serigrafia. Com esta característica espelhada, a publicação pretendeu prolongar a imagem visual da obra Ripple.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Emilio Rui Vilar e Jorge Molder (à dir.)
Emilio Rui Vilar e Jorge Molder (ao centro)
Emilio Rui Vilar (à esq.)
Jorge Molder
Emilio Rui Vilar (à dir.)
Enílio Rui Vilar, Jorge Molder
Jorge Molder (centro) e Emílio Rui Vilar (dir.)
Jorge Molder e Filomena Molder (ao centro)
Manuel Costa Cabral

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00513

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém orçamentos da exposição, textos do catálogo e traduções, convite da exposição e recortes de imprensa. 2001 – 2004

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 110441

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2003

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 121578

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2003


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