A exposição «Três Escultores Portugueses» foi uma das três exposições realizadas no âmbito dos Encontros Luso-Americanos de Arte Contemporânea. As outras duas foram «Arquitectura de Chicago. O Novo Zeitgeist. Em Busca de um Desfecho» e «Escultura Contemporânea Americana. Sinais de Vida». O ciclo foi organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) em parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, tendo sido coordenado por António de Campos Rosado, ex-bolseiro da FCG nos Estados Unidos da América (EUA), de quem partiu a iniciativa para a sua realização.

Os Encontros Luso-Americanos reuniram um grande número de patrocinadores nacionais e internacionais, o que reflete a importância deste projeto e a magnitude da sua organização. Entre os patrocinadores contam-se a Secretaria de Estado da Cultura, a Embaixada dos Estados Unidos da América, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a Comissão Luso-Americana para a Educação, o Chase Manhattan Bank, a Radiotelevisão Portuguesa e a Sociedade Orey Antunes.

Apesar de a sua realização ter sido inicialmente pensada para o ano de 1985, visando celebrar o 25.º aniversário em Portugal do Programa Fulbright, administrado pela Comissão Cultural Luso-Americana, o ciclo não chegou a concretizar-se nesse ano, já que todos os serviços da FCG se encontravam concentrados na realização da «Exposição-Diálogo sobre Arte Contemporânea na Europa», que teve lugar entre 29 de março e 15 de junho de 1985, na Fundação Calouste Gulbenkian.

Nos anos que se seguiram à proposta inicial, o projeto sofreu diversas alterações, alargando-se o âmbito da programação e deixando de estar diretamente associado à comemoração da implementação do Programa Fulbright em Portugal. Como tal, o novo projeto passou a contemplar: uma exposição de arquitetura de Chicago, uma exposição de escultura contemporânea americana e uma exposição de escultura de bolseiros recentes da Fundação Calouste Gulbenkian nos EUA; um ciclo de cinema americano, incluindo produções independentes e experimentais; um programa de seminários dedicados à arquitetura contemporânea americana, especificamente à Escola de Chicago, à escultura contemporânea americana e ao cinema independente e experimental dos EUA; e, finalmente, um workshop de vídeo, em que seria apresentado um panorama das produções de vídeo americano.

O desejo de mostrar a produção artística americana mais recente, pouco divulgada e nunca reunida para apresentação pública, foi materializado através da mostra de diferentes meios artísticos – escultura, arquitetura, cinema e vídeo –, que se associou a seminários e colóquios, num único acontecimento cultural inédito em Portugal.

A exposição «Três Escultores Portugueses» teve lugar no Centro de Arte Moderna e incluiu obras inéditas de três escultores portugueses, ex-bolseiros da Fundação Calouste Gulbenkian, que realizaram pós-graduações nos Estados Unidos da América: Rui Sanches (1954), Pedro de Campos Rosado (1950-2018) e António de Campos Rosado (1952).

A seleção das obras destes três escultores portugueses, levada a cabo por José Sommer Ribeiro e Fernando de Azevedo, procurou estabelecer pontes entre a escultura portuguesa e a escultura americana, em confronto com a exposição «Escultura Contemporânea Americana. Sinais do Tempo», presente na mesma data na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 0).

Sobre os escultores, José Sommer Ribeiro diria: «Os três escultores, notáveis figuras já da arte portuguesa, constituem ainda, com as visíveis diferenças naturalmente devidas às personalidades e procuras próprias, um forte e feliz relacionamento acontecido entre a arte dos dois países, uma referência a salientar sobre a eficiência e o funcionamento de uma pedagogia que propõe e obtém uma plena liberdade na dimensão criativa.» (Encontros Luso-Americanos de Arte Contemporânea. Três Escultores Portugueses, 1989, p. 11)

Num artigo intitulado «Os americanos em Lisboa», publicado no JL, João Pinharanda classifica como «extraordinária a oportunidade de vermos entre nós uma tão completa série de manifestações da contemporaneidade americana» (Pinharanda, no JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 6 mai. 1989).

Quanto à exposição «Três Escultores Portugueses», as obras selecionadas destacavam-se pela diversidade de linguagens utilizadas e permitiam, simultaneamente, dar a conhecer as novas linguagens da escultura portuguesa contemporânea «através de peças que […] marcam momentos decisivos quer nas obras dos escultores quer na escultura nacional» (Ibid.).

Para José Luís Porfírio, se a travessia da exposição de escultura americana se fazia sob o signo da diversão, «com grandes brinquedos, sons estridentes e pouco suportáveis», apresentando-se «como lugar de passagem, como imediatidade do olhar curioso e passeante», a exposição dos três portugueses destaca-se pelo inverso: «Pedro de Campos Rosado constitui uma introdução com objectos tensos e contraditórios, uma sistemática intersecção de espaços que acaba por criar instabilidade e ilusão – mas estas, até pela sua colocação num átrio (do CAM), são ainda objectos de travessia. No interior da pequena galeria, António Campos Rosado e Rui Sanches criam lugares do estar; António Campos Rosado com a instalação de três esculturas num campo próprio e penetrável de lajes de cimento, enquanto as peças de Sanches se instalam mais num tempo, no tempo, na morte, porque não?» (Porfírio, Expresso, 10 jun. 1989, p. 79-R)

O catálogo da exposição apresenta ensaios de João Pinharanda, Bernardo Pinto de Almeida e Alexandre Melo, sobre as obras de António Campos Rosado, Pedro Campos Rosado e Rui Sanches.

Carolina Gouveia Matias, 2018