Luís Neuparth. Escultura e Desenho

Exposição individual de Luís Neuparth (1959), bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian nos Estados Unidos da América entre 1988 e 1989. Como um dos artistas que contribuíram para a renovação da escultura portuguesa na década de 1990, Neuparth conduziu a herança escultórica minimal e pós-minimal por novas interpelações à arquitetura e ao desenho.
Solo exhibition on Luís Neuparth (1959), a Calouste Gulbenkian Foundation grant holder between 1988 and 1989, based in the United States of America. As one of the contributing artists to the renewal of Portuguese sculpture in the 1990s, Neuparth brought the legacy of minimal and post-minimal sculpture into a new confrontation with architecture and drawing.

A 20 de abril de 1993, o Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) inaugurou uma exposição individual do escultor português Luís Neuparth (1959). Foi constituída por instalações escultóricas e desenhos, nos quais ressaltava a relação com a arquitetura.

As esculturas crescem em processos construtivos sistemáticos que dão espaço a um pendor mais orgânico, mediante o qual se vai montando o seu planeamento geométrico. Como o coloca João Miguel Fernandes Jorge, «escolhem o termo "nível" de preferência a módulo» (Luís Neuparth. Escultura e Desenho, 1993), aparecendo como puzzles em que as pequenas irregularidades vão sendo niveladas brick-by-brick.

As matérias usadas são facilmente designáveis como «pobres», conforme foram batizadas e insufladas artisticamente por algumas neovanguardas dos anos 60 do século XX. Predominam as aparas industriais de tarolos de madeira (os «tijolos» destas edificações escultóricas) conjugadas com o carvão em pedra (como se de gravilha se tratasse), ou pedaços de papel resgatado ao desuso ou às lides dos escritórios. Foi sobre aquelas resmas com argolas picotadas, hoje anacrónicas, que o artista imprimiu imagens em preto-e-branco geradas nos computadores primitivos do final dos anos 80. Unidas em cadeia, essas torrentes de imagens habitam algumas das estruturas tridimensionais apresentadas, entram e saem do oco interior que elas arquitetam e dependuram-se nos espaços vazios entre as suas traves e pilares. Fernandes Jorge chama-lhes «línguas de papel coberto de imagens […] [que] envolvem a grande "casa", a grande máquina terrena. […] Fragmentos de uma "fala" da arte que deixam escapar, aqui e além, uma capa de Art in America ou o caído corpo de Marat (David)» (Ibid.).

O desenho surge depois, como digestão gráfica deste pendor construtivo, continuando a desenvolver, à sua maneira, as relações entre cheio e vazio. Vazio, mas positivo, parece passar a ser agora o branco do papel, que dá contorno e definição às pequenas manchas escuras que vão edificando novas construções. Negativos, mas extremamente cheios, parecem ser os fundos que se projetam para primeiro plano, ameaçando engolir estas novas construções gráficas.

Pela sua linguagem e pelos materiais que opera, o trabalho de Neuparth gera afinidades com o de outros artistas portugueses seus contemporâneos, situando-o, como refere José Sommer Ribeiro (então diretor do CAM) na apresentação do catálogo, «entre a geração surgida nos anos 80 que contribuiu largamente para a renovação da escultura portuguesa» (Ibid.). Pense-se em artistas como José Pedro Croft ou Rui Sanches, com obras mais vocacionadas para uma reflexão sobre a escultura em si mesma, ou outros, como Pedro Cabrita Reis, que chegam ao escultórico através de outras investigações sobre a tridimensionalidade.

«Luís Neuparth. Escultura e Desenho» firmava assim uma relação institucional entre a FCG e o escultor, estabelecida aquando da atribuição de uma bolsa de estudo nos EUA, para o período entre 1988 e 1989 (Ibid.). A FCG custearia os materiais para o artista finalizar a produção das obras expostas (Arquivos Gulbenkian, CAM 00268). Adquiriria ainda uma delas, intitulada no catálogo como S/Título ou Espaço de Habitar e que surge hoje com o título Espiral (Espaço de Habitar) (Inv. 93E310), atualmente no acervo do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (Arquivos Gulbenkian, CAM 00824).

Daniel Peres, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Espiral (Espaço de Habitar)

Luís Neuparth (1959-)

Espiral (Espaço de Habitar), 1992/93 / Inv. 93E310

Espiral (Espaço de Habitar)

Luís Neuparth (1959-)

Espiral (Espaço de Habitar), 1992/93 / Inv. 93E310


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Luís Neuparth (à esq.) e Roberto Gulbenkian (ao centro)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00239

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém epistolografia trocada com o artista; orçamentos para a produção e obras a expor, subsidiadas pela Fundação; cópias dos datiloscritos para os textos de catálogo, nomeadamente a apresentação de José Sommer Ribeiro e a versão inglesa do texto de João Miguel Fernandes Jorge sobre a obra do autor. 1993 – 1996

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00824

Pasta relativa a diversas aquisições de obras de arte por parte da Fundação Calouste Gulbenkian realizadas entre 1989 e 1993, com incidência particular sobre este último ano. Entre essas peças, encontra-se a escultura «Espiral (Espaço de Habitar)» (1992; Inv. 93E310), de Luís Neuparth, adquirida na sequência da individual realizada pelo artista no Centro de Arte Moderna, FCG, 1992. 1993 – 1994

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/044-D02941

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 1993


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.