O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França, 1750 – 1775

Exposição coletiva e itinerante, organizada pelo Musée du Louvre com a colaboração do Património Nacional de Espanha e da Fundação Calouste Gulbenkian. A mostra integrou um conjunto de 126 obras (pintura, porcelana, mobiliário, escultura, gravura, entre outras), dando a conhecer o novo gosto «à grega» imposto no século XVIII em França.
Collective travelling exhibition organised by the Musée du Louvre in collaboration with Spain’s Patrimonio Nacional and the Calouste Gulbenkian Foundation. The show included a selection of 126 works (featuring paintings, chinaware, furniture, sculptures, etchings, among others) showcasing the new “Greek” taste prevalent in eighteenth-century France.

Exposição coletiva e itinerante organizada pelo Musée du Louvre, com a colaboração do Património Nacional de Madrid. Integrou cerca de 126 obras, entre as quais pinturas, esculturas, gravuras, porcelanas orientais de Sèvres, bronzes, peças de mobiliário e ourivesaria, apresentando ao público os 25 primeiros anos da história do Neoclassicismo francês. Após ter sido realizada no Palácio Real de Madrid, a mostra viajou até Lisboa e esteve patente na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).

A exposição fez parte de uma iniciativa levada a cabo pelo Musée du Louvre, que, após ter encerrado o seu Departamento de Artes Decorativas devido a uma campanha de obras, decidiu pôr em itinerância três exposições que viajaram pelos Estados Unidos da América, Japão e Espanha, com o intuito de divulgar a sua coleção. Devido às relações culturais existentes entre a FCG e as referidas instituições, o Museu Calouste Gulbenkian foi a última paragem da mostra dedicada ao renascimento do gosto clássico em França (Comunicado de imprensa, 2008, Arquivos Gulbenkian, MCG 03488).

Entre as obras apresentadas, maioritariamente provenientes do espólio do Louvre, contavam-se igualmente peças de outras coleções francesas, a par das da coleção do Património Nacional de Madrid e da Coleção Calouste Gulbenkian. Uma das mais significativas coleções presentes na mostra, a coleção de Edmond de Rothschild (composta por cerca de 40 mil gravuras e três mil desenhos) esteve representada com 25 exemplares (Robalo, Expresso, 23 fev. 2008).

O processo conducente à apresentação em Lisboa iniciou-se em 2007, cerca de quatro meses antes da exposição em Madrid, tendo o Louvre contactado a FCG com vista ao empréstimo de algumas peças da Coleção para enriquecer a mostra. Da coleção pessoal de Calouste Sarkis Gulbenkian, salientavam-se peças de mobiliário, como uma secretária, uma estante e um escritório da autoria do ebanista Pierre Garnier; diversos objetos de ourivesaria; uma pintura realizada segundo uma gravura do artista francês Jean-Baptiste-André Gautier-Dagoty (1740-1786), Retrato de Madame du Barry e do pajem Zamore (final do século XVIII); e um desenho de Charles-Nicolas Cochin (1715-1790), Retrato do Marquês de Marigny (1781).

Comissariada e concebida por Marie-Laure de Rochebrune, conservadora do Departamento de Objetos de Arte do Louvre, a exposição apresentou, por um lado, o período de rutura com o estilo rocaille de 1750, conhecido pelos seus excessos decorativos e existente nos meios cultos mais próximos de Luís XV, e, por outro lado, o papel decisivo das descobertas arqueológicas das cidades italianas do Império Romano de Herculano, em 1738, e de Pompeia, em 1748, ambas destruídas pelo Vesúvio em 79 d.C. (Ibid.).

Estes acontecimentos marcaram o início da implantação do gosto «à grega», que envolvia os mais diversos tipos de arte, da pintura ao mobiliário, da tapeçaria à ourivesaria, da gravura à porcelana. De acordo com Manuela Fidalgo, uma das coordenadoras executivas da exposição e conservadora do Museu Calouste Gulbenkian, «não se tratava de produzir imitações, mas de recriar, com base nos elementos decorativos dos objectos descobertos nas escavações» (Robalo, Expresso, 23 fev. 2008). Posteriormente, este estilo expandiu-se ao resto da Europa, entre meados do século XVIII e a primeira metade do século XIX.

França e o retorno a um novo classicismo foram os dois focos da exposição, compreendendo igualmente a época de Luís XIV, «considerada então como a idade de ouro das artes e das letras» («O gosto "à Grega" nas artes decorativas francesas», Newsletter. Fundação Calouste Gulbenkian, n.º 90, fev. 2008, p. 13).

Este regresso ao passado, que se manifestou, em primeiro lugar, nos estudos históricos e em particular na arqueologia, deu a conhecer a inclusão de elementos clássicos da arquitetura grega em modelos do século XVIII, ou seja, em porcelanas, relógios de mesa, candelabros ou castiçais com ornamentos ricos em grinaldas, colunas e capitéis jónicos, folhas de acanto, caneluras torsas, serpentes e cabeças de animais, com temas báquicos, representações de deuses, de sátiros ou bacantes (Saraiva, Sol, 16 fev. 2008, p. 45). O novo estilo fez-se acompanhar, da mesma maneira, pela preferência por materiais como o mármore, as pedras duras e o pórfiro, todos eles representados na exposição.

Foi graças à profusão de inúmeras gravuras da época que arquitetos, escultores e pintores conseguiram recriar e encontrar inspiração para conceber as suas peças. Fizeram parte da exposição objetos de influência oriental (é importante relembrar o interesse pelo exótico ao longo do século XVII), associados ao gosto clássico. Foi o caso de uma peça de porcelana chinesa decorada com dragões, encimada por uma figura de um Buda sentado e que se unia, na sua base, com uma grinalda de folhas de loureiro.

O projeto expositivo, a cargo do designer Mariano Piçarra e elogiado na imprensa pela sua criatividade e eficácia, salientou três momentos definidores deste novo gosto: o primeiro, dedicado às figuras que contribuíram para a instituição do novo estilo, com destaque para o papel de Madame de Pompadour e do seu irmão, o marquês de Marigny, de Madame du Barry, de Diderot e d'Alembert, autores da famosa enciclopédia e dos duques de Choiseul e de Aumont; o segundo apresentou obras que espelhavam já o seu domínio; por fim, um terceiro núcleo que destacava as obras da coleção de Madame du Barry, uma das preferidas do rei Luís XV, principalmente a pintura La Marchande d’Amours (1763) e o busto da própria condessa, executado por Augustin Pajou (1730-1809) em 1773, todas elas realizadas para o seu Pavilhão de Música, projetado pelo arquiteto neoclássico Claude-Nicolas Ledoux, no Parque de Louveciennes.

A obra La Marchande d’Amours, de Joseph-Marie Vien (um dos pintores mais entusiastas do período), deve a sua importância e destaque ao facto de ter sido realizada a partir da descrição de um quadro encontrado em Herculano e por conseguir «sintetizar e reproduzir o gosto clássico que encontrou maior repercussão nas artes decorativas». Outra das pinturas que mereceram grande atenção por parte do espectador foi a obra de Louis-Jean-François Lagrenée Psyché surprend l’Amour endormi (1768) (Reis, L+Arte, n.º 47, abr. 2008, p. 25).

O catálogo, publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian, conta com vários ensaios de diversos especialistas deste período e permite um estudo aprofundado sobre a matéria. Nesses textos, fica particularmente sublinhada a elite social e intelectual enquanto precursora do gosto «à grega». Além dos textos assinados por Marc Bascou, diretor do Departamento de Objetos de Arte do Louvre, ou por Vincent Droguet, conservador do Musée National du Château de Fontainebleau, destaca-se o texto redigido por Nuno Gonçalo Monteiro, investigador-coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, no qual o autor disserta sobre as relações entre Portugal e França durante esta época de vários conflitos e mudanças.

A exposição foi complementada pela realização de um ciclo de conferências, que abordou os seus vários temas e contou com a participação de João Castel-Branco Pereira, diretor do Museu Gulbenkian, e de Nuno Gonçalo Monteiro – que se debruçaram sobretudo sobre os temas do neoclassicismo em Portugal e a sua relação com França –, de Marie-Laure de Rochebrune, comissária da mostra, e de Marc Fumaroli, membro da Academia Francesa e professor no Colégio de França, que falou sobre o papel do conde de Caylus no surgimento deste novo estilo.

Para acompanhar a temática expositiva, o grupo musical Delos Ensemble apresentou a sua interpretação de várias obras de compositores franceses entre os anos de 1750 e 1775. O concerto, realizado no dia 6 de abril de 2008 no Átrio da Biblioteca de Arte, foi integrado na programação do evento «Concertos de Domingo» e contou com a colaboração do Serviço de Música da FCG.

A inauguração, no dia 13 de fevereiro de 2008, trouxe a Lisboa um conjunto de ilustres convidados, entre eles a rainha Sofía de Espanha. A galeria do museu reuniu membros das várias instituições que fizeram parte da organização, como a comissária Marie-Laure de Rochebrune, as coordenadoras executivas Manuela Fidalgo e Clara Serra, João Castel-Branco Pereira, o designer Mariano Piçarra, o presidente da FCG, Emílio Rui Vilar, entre muitos outros.

Um mês após a abertura de «O Gosto à Grega», a Fundação Calouste Gulbenkian recebeu a visita oficial do presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono. Foi conduzido por João Castel-Branco Pereira na visita a vários locais da Fundação Gulbenkian e à exposição.

Joana Atalaia, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Retrato do Marquês de Marigny

Charles Nicolas Cochin, filho (1715-1790)

Retrato do Marquês de Marigny, 1781 / Inv. 458

Retrato de Mme. Du Barry e do pajem Zamore

Desconhecido

Retrato de Mme. Du Barry e do pajem Zamore, Final do Séc. XVIII / Inv. 435

J. N. Roettiers (maître 1765)

c.1772-1773 / Inv. 1075A/B

Louis Lenhendrick (maître 1747)

c. 1769-1770 / Inv. 1089A/B

Martin Carlin (me.1766)

Inv. 2267

Paul Charvel (maître 1777 )

1769 / 70 / Inv. 1087A/B

Pierre Garnier (me. 1741)

Inv. 37

Traité des Pierres Gravées

Pierre-Jean Mariette (1694-1774)

Traité des Pierres Gravées, 1750 / Inv. LA195A/B


Eventos Paralelos

Visita oficial

[O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França, 1750 – 1775]

11 mar 2008
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal
[Em revisão]

[O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França, 1750 – 1775]

13 fev 2008
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal
Ciclo de conferências

[O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França, 1750 – 1775]

7 abr 2008 – 28 abr 2008
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Concerto

Delos Ensemble

6 abr 2008
Fundação Calouste Gulbenkian / Biblioteca de Arte – Hall
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Visita de Amyn Aga Khan à exposição «O Gosto à Grega» no dia da inauguração da exposição «A Educação do Príncipe». Manuela Fidalgo, Emílio Rui Vilar, Amyn Aga Khan e João Castel-Branco Pereira
Visita de Amyn Aga Khan à exposição «O Gosto à Grega» no dia da inauguração da exposição «A Educação do Príncipe». Manuela Fidalgo, Emílio Rui Vilar, Amyn Aga Khan e João Castel-Branco Pereira
Visita de Amyn Aga Khan à exposição «O Gosto à Grega» no dia da inauguração da exposição «A Educação do Príncipe». Luis Monreal, Amyn Aga Khan, Manuela Fidalgo e Khaliya Aga Khan
Visita de Amyn Aga Khan à exposição «O Gosto à Grega» no dia da inauguração da exposição «A Educação do Príncipe». Luis Monreal, Manuela Fidalgo, Amyn Aga Khan, Emílio Rui Vilar e João Castel-Branco Pereira
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Marie-Laure Rochebrune
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Marie-Laure Rochebrune
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Marie-Laure Rochebrune
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Marie-Laure Rochebrune
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Marie-Laure Rochebrune
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Marie-Laure Rochebrune
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Marie-Laure Rochebrune
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Marc Fumareli
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Marc Fumareli
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Marc Fumareli
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Marc Fumareli
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Nuno Gonçalo Monteiro
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Nuno Gonçalo Monteiro
Conferência «O Gosto «à Grega». Nascimento do Neoclassicismo em França», proferida por Nuno Gonçalo Monteiro
Visita oficial
Visita oficial
Visita oficial
Visita oficial
Emílio Rui Vilar (centro)
João Castel-Branco Pereira, Emílio Rui Vilar (esq.)
João Castel-Branco Pereira (centro) e Emílio Rui Vilar (dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos

Sol

Lisboa, 16 fev 2008


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03169

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém folheto do ciclo de conferências, convite, folha de sala e recortes de imprensa. 2008 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03584

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém recortes de imprensa, documentação e correspondência trocada relativa ao catálogo, prints de fotografias das obras do Louvre com textos de tabela, planta da sala de exposições, «facility reports», correspondência com o Património Nacional de Espanha sobre a organização da exposição, lista de peças, apontamentos de trabalho, entre outros. 2007 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03484

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, pedidos de empréstimos de obras, notas para reunião em Madrid sobre a organização da exposição, apólices de seguro, convite para exposição, entre outros. 2007 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03487

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência de caráter organizativo entre as várias instituições, orçamentos de seguros, transporte de peças, lista de convidados, exemplares convites, folheto de ciclo de conferências, jornal da exposição, entre outros. 2007 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03488

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém material de divulgação e recortes de imprensa. 2008 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03485

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência com o Musée du Louvre. 2007 – 2009

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / Sem cota

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2008


Exposições Relacionadas

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