• 1976
  • Papel Fotográfico
  • Fotografia
  • Inv. 04FP441

Fernando Calhau

S/Título #86 (de um ponto ao infinito)

A série de um ponto ao infinito é constituída por oito fotografias a preto e branco, nas quais Fernando Calhau  apresenta a ampliação de um fragmento de vegetação. São close ups sucessivos como aqueles que revelam a Thomas, o fotógrafo de Blow up de Antonioni, o assassinato no jardim, e que, neste caso, desvendam a Fernando Calhau o monocromatismo negro. É o mesmo negro ao qual  o artista já havia chegado a partir do filme Destruição, de 1975, onde o gesto do artista pintor vai escondendo o ecrã até o cobrir completamente. Nesta obra, o artista efetua uma aproximação fotográfica correspondente à ampliação de um detalhe da primeira fotografia, que vai perdendo gradualmente definição, até ficarem apenas pontos brancos a contrastar com um fundo negro onde já não se distingue a figura, ou que poderá sugerir uma pintura abstrata.

 

Fernando Calhau vai encobrindo a realidade, ocultando-a, tornando apenas visível a noite – encontramos já o negro da noite que parece anunciar a exposição Night Works, de 1978. É a transformação da luz do dia na luz da noite, que começa a surgir aqui de forma subtil, como se o artista não conseguisse guardar o apelo romântico que insiste em transparecer. Estepercurso, que nos leva da vegetação para a noite, parece ser também um caminho que nos transporta da fotografia para a pintura. O plano negro ainda é fotografia, mas poderia ser uma pintura monocromática reduzida aos seus elementos mínimos, sem ruído, ou como refere Calhau relativamente ao negro: “é uma maneira de expor a ideia o mais claramente possível, sem comentários nenhuns, sem outras coisas que possam distrair daquilo que quero expor”*–como se de uma homenagem à pintura se tratasse. Importa referir que Calhau era um pintor, como gostava de sublinhar, mesmo quando utilizava outros suportes (gravura, fotografia, vídeo ou escultura).

 

Diz-nos o subtítulo ou a legenda desta série que o plano negro é o infinito, o ilimitado, o indefinido, mas é curioso notar que só existe um ponto, efetivamente, no infinito; e, de facto, a primeira imagem também remete para o indefinido, para a espacialidade sem limites. Ao fragmento de vegetação que é mostrado na fotografia foi-lhe retirado a possibilidade de constituir uma paisagem, já que a linha do horizonte foi suprimida, parecendo sugerir que a  folhagem se poderia prolongar para além dos limites do enquadramento. Estas vistas da natureza correspondem, para Fernando Calhau, ao rebatimento para um plano horizontal das superfícies verticais dos quadros. Estes rebatimentos introduzem um novo conceito: o tempo, já que passam a ser percorríveis, passam a apontar para uma proximidade e uma lonjura, que implica um percurso que demora um certo tempo a percorrer. O tempo é também aqui o tempo de realização da obra, da ampliação gradual até ao infinito.

 

* Fernando Calhau in RATO, Vanessa – “Todos os pintores contam a mesma história durante toda a vida”: entrevista com Fernando Calhau. Público. (21 Out. 2001) 39.

 

 

Mafalda Brito

Junho 2015

TipoValorUnidadesParte
Altura27cmSuporte
Altura27cmObra
Largura362cmObra
Largura40cmSuporte
TipoDoação
Data15-07-2004
Fernando Calhau, Convocação I e II, (Modo Menor e Modo Maior), Obras no Acervo do CAMJAP, Colecção CAM/JAP
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007
ISBN:972-635-186-3
Catálogo de exposição
Fernando Calhau, Convocação I e II, (Modo Menor e Modo Maior), Obras no Acervo do CAMJAP, Colecção CAM/JAP
CAM/FCG
Curadoria: CAM/FCG
2006-11-22 a 2007-02-04
CAM / FCG
2007-02-13 a 2007-04-22
CAM / FCG
Curadoria de Nuno Faria e programação de Jorge Molder. Convocação I: 22 Novembro 2006 – 4 Fevereiro 2007, Convocação II: 13 Fevereiro – 22 Abril 2007
Atualização em 23 janeiro 2015

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