• 1975
  • Tela
  • Tinta acrílica
  • Inv. 04P1325

Fernando Calhau

S/Título #477

O monocromatismo está para a pintura de Fernando Calhau como a tela está para o pincel, equação simples que define um trabalho complexo. A restrição da cor a gradações de negro em grande parte da sua pintura fazem-nos questionar a origem da série de quadros verdes nos anos 70. O artista afirmou neste sentido: «Nunca percebi. Sei que tinha uma simpatia pela cor verde (…). Lembro-me muitas vezes que quando, por exemplo, tinha de escolher um marcador de cor, escolhia o verde. Não percebi nunca porquê.»* A série de pinturas verdes, de formas quadradas, pintadas a spray e com variações de tonalidade, tem como premissa a redução ao essencial. Partindo do minimal a sua pintura desenvolve-se numa linguagem conceptual em que a dimensão define a proximidade com o espectador e o trabalho em série revela uma deliberação formal.

 

 

* Fernando Calhau em entrevista com Delfim Sardo, in Work in Progress, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 73.

 

 

 

JSH

Maio de 2010

 

 

 

 

Fernando Calhau ingressa na Escola de Belas-Artes de Lisboa em 1967 para frequentar o curso de Pintura, que conclui em 1973. É ainda estudante (em 1972) quando inicia a série dos quadros verdes, pesquisa que prossegue até 1975.

 

Desde cedo que Calhau encara o processo criativo como o desenvolvimento de séries de obras relacionadas. É o que podemos encontrar nestas pinturas onde são definidos aspectos que se mantém inalterados, como as dimensões, a forma quadrada ou uma variação cromática muito reduzida, que permite explorar um outro conjunto de características variáveis: gradações tonais e alterações da composição. Não parece existir aqui qualquer conteúdo narrativo, mas sim um explorar das possibilidades de variação dentro da estrutura da série, num sistema de repetição no qual uma pequena variação acrescenta algo ao trabalho anterior.

 

O percurso artístico de Calhau desenvolve-se em torno de questões relacionadas com o espaço e o tempo. Nesta série parece ser já a noção de espaço, mais concretamente de espaço bidimensional, que está em causa. São pinturas que correspondem a fragmentos de superfícies verticais caracterizadas por uma altura e uma largura. Por vezes distinguimos uma cruz em X (S/ Título #478) (que reaparece frequentemente nas gravuras, nos desenhos ou nos filmes), que assinala o espaço, ou uma margem a circundar a tela, coincidindo com uma espécie de moldura do espaço que enquadra.

 

São quadros que necessitam de grandes superfícies brancas à suavolta para serem correctamente experienciados pelo espectador. O artista utiliza um verde ácido, frio, “evitando as cores primárias, com as suas conotações sensoriais de espacialização e com uma imediata definição psicológica”*, que mistura com amarelo ou branco. Muitas das telas que compõem esta série apresentam variações de tonalidade muito subtis podendo parecer monocromáticas numa primeira observação apressada, facto que anuncia as suas preocupações posteriores com o monocromatismo: primeiro branco (gravuras), depois verde e, por fim, negro.

 

Por questões técnicas, que resultam do facto do acrílico secar demasiado rápido criando manchas impossíveis de controlar com o pincel, Fernando Calhau executa estas telas utilizando pistola de spray, que permitia também o acabamento industrial que lhe interessava e que o aproxima das premissas da arte minimal.

 

* FRANÇA; José-Augusto – Fernando Calhau. Colóquio/Artes. Lisboa 13 (1973) 13.

 

 

Mafalda Brito

Junho 2015

 

 

TipoValorUnidadesParte
Altura145cmSuporte
Largura145cmSuporte
Tipo assinatura
Posiçãoverso
Tipo data
Texto1975
Posiçãoverso
TipoDoação
Data15-07-2004
Work in Progress, Fernando Calhau,
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2001
ISBN:972-635-137-5
Catálogo de exposição
Fernando Calhau, Convocação I e II, (Modo Menor e Modo Maior), Obras no Acervo do CAMJAP, Colecção CAM/JAP
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007
ISBN:972-635-186-3
Catálogo de exposição
Exposição Permanente do CAM
CAM/FCG
Curadoria: Jorge Molder
18 de Julho de 2008 a 4 de Janeiro de 2009
Centro de Arte Moderna
Exposição Permanente entre 18 de Julho de 2008 a 4 de Janeiro de 2009.
Work in Progress, Fernando Calhau
Delfim Sardo
Curadoria: CAM/FCG
2001-10-18 a 2002-01-05
Lisboa, CAM / FCG
Exposição comissariada por Delfim Sardo e apresentada na Galeria do Piso 1 do Centro de Arte Moderna.
Fernando Calhau, Convocação I e II, (Modo Menor e Modo Maior), Obras no Acervo do CAMJAP, Colecção CAM/JAP
CAM/FCG
Curadoria: CAM/FCG
2006-11-22 a 2007-02-04
CAM / FCG
2007-02-13 a 2007-04-22
CAM / FCG
Curadoria de Nuno Faria e programação de Jorge Molder. Convocação I: 22 Novembro 2006 4 Fevereiro 2007, Convocação II: 13 Fevereiro 22 Abril 2007
Atualização em 23 janeiro 2015

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