Posicionada diretamente no pavimento, e estabelecendo desde logo uma relação de paridade com o espetador, Sem Título #335 é constituída por uma sequência de três módulos – de secção retangular e executados em aço –, que se formaliza como um percurso aberto, cujos topos são marcados por uma composição em néon.

 

Configurada como um corredor metálico, e assumindo-se como uma construção que, simultaneamente, ocupa um espaço e cria um espaço, esta peça segue uma lógica espacial que, tal como a escala humana que adota, aponta para a possibilidade do seu atravessamento. Contudo, contrariando essa primeira impressão, o interior definido não pode ser percorrido, mas apenas visualizado a partir dos limites da estrutura, tratando-se de um espaço que se apresenta como uma área misteriosa, inacessível e obscurecida, mas parcialmente iluminada pelos néons – que, reclamando uma dimensão imaterial, agenciam, como parte da obra, a escuridão que iluminam. Com efeito, são esses néons que, em vez de se constituírem como elementos que assinalam os dois pontos de entrada na escultura, marcam os limites do espaço que essa contém, ao mesmo tempo que se afirmam enquanto barreiras, impossibilitando o acesso ao seu interior.

 

Funcionando afinal como um espaço invertido, estamos assim na presença de uma obra que, apesar de revelar uma área interna, somente pode ser experienciada como um volume, em torno do qual o espetador se desloca, tomando consciência das diferentes possibilidades de perceção que essa deslocação introduz.

 

 

 

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Junho de 2012