• 1988
  • Tela e Aço
  • Tinta acrílica e Construção
  • Inv. 90P183

Fernando Calhau

sem título

Em 1987 Fernando Calhau descobre chapas de ferro já oxidadas num estaleiro onde se vendia sucata de construção naval. Este material interessou-o pela textura e pelo peso. Começa por adaptar as chapas ao seu trabalho, acabando por usar a matéria tal como vinha do estaleiro. A sua intervenção consistia na pintura monocromática sobre o metal (além desta obra, pode-se também ver outra sem título com o número de inventário 03P1279). Mais tarde, inclui palavras escritas com o azul cintilante de lâmpadas néon; azul que reflete a noite e o luar, como indicam as palavras «DARK» [escuro] e «BLUE» [azul] na obra #59, ou «THIS IS NOT A LANDSCAPE» [isto não é uma paisagem], em #308.

 

A força de cada palavra, escrita em inglês, é acentuada pela condensação, pela síntese e pela recorrente menção ao espaço e ao tempo, como nas obras Timeless [Intemporal], Endless [Sem fim], #337 ou #336, onde encontramos referências aos quatro pontos cardeais.

 

Esta série de obras caracteriza-se, no conjunto, pela organização arquitetónica do espaço, em formas escultóricas simétricas, alinhadas e minimais que nalguns casos se autonomizam da parede (#335). Mas mesmo quando Fernando Calhau usa diferentes suportes e técnicas, todo o seu trabalho encontra a sua génese na pintura: «Eu digo que não sou artista, sou pintor. Posso fazer outras coisas mas, sobretudo, faço pintura.»*

 

 

* Fernando Calhau em entrevista a Delfim Sardo, in Work in Progress, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 181.

 

 

 

JSH

 

Maio de 2010

 

 

 

Em 1987 Fernando Calhau encontra um estaleiro onde se vendia sucata para construção naval, com chapas de ferro já oxidadas, tendo oportunidade de começar a trabalhar com este material, que sempre o tinha interessado. Nas peças S/ Título (inv. 03P1279) e S/ Título (inv. 90P183), o artista contrapõe as chapas de ferro com telas pintadas de negro monocromático, executadas com espátula, deixando visível a textura, o gesto do artista a sobrepor as camadas de tinta, o que reforça a ideia de um objeto pesado, como se o peso do metal passasse para a tela. Calhau refere, neste contexto: “Eu tinha em mente uma imagem mais figurativa – para mim, era como o movimento de espatular óleo numa chapa metálica, ou como aplicar um primário de revestimento que fosse grosso e que tivesse que cobrir um determinado suporte. Por isso é que a pintura dessa época tinha um ar espesso e viscoso, quase como um óleo. Por uma questão técnica, de velocidade de secagem, nunca deixei de trabalhar com tintas acrílicas, mas a tipologia do trabalho aproxima-o de uma figuração de uma matéria oleaginosa”.*

O artista apresenta telas configuradas, com uma configuração arquitetónica, característica, aliás, muito associada ao ferro. Introduz-se aqui uma dimensão objetual com a utilização ostensiva do metal, das três dimensões e da preponderante espessura, conferindo-se ao espaço envolvente um papel determinante e de integração na própria obra.

Calhau apresenta um jogo entre telas pintadas e superfícies metálicas, numa justaposição de cheios e vazios, onde as chapas parecem molduras que nada emolduram. A questão do espaço é, aqui, duplamente abordada. Por um lado, as telas recortam-se no espaço branco da parede, por outro, o espaço vazio no interior das estruturas metálicas é parte integrante da obra. O ferro utilizado apresenta já as marcas do tempo, da sua história, destituindo estas peças do carácter agressivo que seria espectável. Estas marcas de vida, que contrariam a rigidez geométrica e que nos indiciam que há algo a comunicar, afastam estas obras das de Donald Judd, por exemplo, nas quais qualquer “distração” contrariaria o propósito da sua realização. Nestas peças de Fernando Calhau, de grandes dimensões, verifica-se uma economia estrita de meios, a redução ao essencial e uma austeridade de valores que nos recordam a arte minimal, contrariada pela mão do artista que ficou registada nas telas ou pelo percurso do ferro que não foi apagado.

 

* CALHAU, Fernando; SARDO, Delfim – Sem rede: uma conversa com Fernando Calhau em quatro noites de Fevereiro de 2001. In SARDO, Delfim [et al.] – Work in progress: Fernando Calhau. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 183.

 

 

Mafalda Brito

Junho 2015

TipoValorUnidadesParte
Altura160cm
Largura204cm
Tipo assinatura
TextoCalhau
Tipo data
TipoAquisição
DataMarço de 1990
Linhas de Sombra
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e Centro de Arte Moderna, 1999
ISBN:972-635-115-4
Catálogo de exposição
Work in Progress, Fernando Calhau,
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2001
ISBN:972-635-137-5
Catálogo de exposição
Fernando Calhau, Convocação I e II, (Modo Menor e Modo Maior), Obras no Acervo do CAMJAP, Colecção CAM/JAP
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007
ISBN:972-635-186-3
Catálogo de exposição
Linhas de Sombra
Fundação Calouste Gulbenkian
Curadoria: Fundação Calouste Gulbenkian
29 de Janeiro de 1999 a 18 de Abril de 1999
Lisboa
Exposição comissariada por João Miguel Fernandes e Maria Helena de Freitas e programada por Jorge Molder e Rui Sanches.
Work in Progress, Fernando Calhau
Delfim Sardo
Curadoria: CAM/FCG
2001-10-18 a 2002-01-05
Lisboa, CAM / FCG
Exposição comissariada por Delfim Sardo e apresentada na Galeria do Piso 1 do Centro de Arte Moderna.
Fernando Calhau, Convocação I e II, (Modo Menor e Modo Maior), Obras no Acervo do CAMJAP, Colecção CAM/JAP
CAM/FCG
Curadoria: CAM/FCG
2006-11-22 a 2007-02-04
CAM / FCG
2007-02-13 a 2007-04-22
CAM / FCG
Curadoria de Nuno Faria e programação de Jorge Molder. Convocação I: 22 Novembro 2006 4 Fevereiro 2007, Convocação II: 13 Fevereiro 22 Abril 2007
Atualização em 23 janeiro 2015

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