Embora partilhe o mesmo interesse pela vida da cidade, esta imagem distingue-se do conjunto de Lisboa “Cidade Triste e Alegre”. O álbum privilegia sobretudo os bairros ou as zonas históricas da capital, bem como os retratos personalizados dos seus habitantes, eclipsando os subúrbios, concedendo ao automóvel uma presença fugaz. Essa escolha parcial e consciente, assumida pelos autores de Lisboa, oferece um contra-ponto à alteração radical da cidade no pós-guerra (que teve em Victor Palla um agente activo, a nível teórico e prático). Ao contrário, o parque de estacionamento onde ocorre este diálogo não deixará de crescer nas décadas seguintes. Envolvido pelo negro nocturno, recortado pelo clarão difuso da luz eléctrica, o casal em contraluz, desfocado, toma uma aparência fantasmagórica. Os espaços vazios e desconectados que surgem com frequência no cinema neo-realista ajudaram a criar uma zona onde a realidade e o imaginário se tornam indiscerníveis. A fotografia do pós-guerra, que esteve muito próxima deste tipo de cinema, também teve os seus momentos altos: certas fotografias de Rome, de William Klein, por exemplo, ou esta imagem anterior de Victor Palla.

 LH