Exposta pela primeira vez na galeria Quadrum, em Lisboa, Percursos na paisagem (memória de um corpo sobre a terra), pode considerar-se uma obra inaugural de um “ciclo de retornos”, como o caracterizou Bernardo Pinto de Almeida. Após alguns anos de afastamento do seu percurso original, de um trabalho manual sobre a madeira e com árvores, o artista retoma-as, com uma nova consciência, feita de profunda reflexão e experiência, dando início ao tal “ciclo” ou “círculo” – como prefere o artista e como lembra Isabel Carlos, porque círculo “pressupõe avanços e recuos, o passado e o futuro na elaboração do presente que é acima de tudo um durante”.

 

Percursos na paisagem… é uma escultura de grandes dimensões (2,50 x 2,30 x 2,30 m), em madeira de tola, talhada em pequenos elementos justapostos que se ligam e multiplicam num desenho harmonioso e sedutor. Reconhece-se no afeiçoamento das superfícies e arestas, boleadas ou inexistentes, o labor das mãos que procuram no talhe as formas da natureza segunda, de que fala o artista, e que ele distingue da natureza natural; reconhece-se também, a par com a delicada execução plástica, a complexidade da elaboração formal e conceptual. Na individualidade das diferentes peças que se agrupam “em subtil monumentalidade”, cheios e vazios interpenetram-se e consubstanciam-se “numa única resolução de profundo encontro” (Bernardo Pinto de Almeida). Este regresso à memória de uma natureza que é outra e se identifica na matéria surge logo evidenciada na nominação da obra …memória de um corpo sobre a terra. Corpo-árvore fragmentado em elementos simples que depois se reconstroem num outro corpo, corpo-obra, que já não pertence à natureza natural mas sim a uma natureza segunda – a arte.

 

 

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