A sensualidade, o desejo, a transgressão, foram temas fundamentais no Surrealismo que, na sua expressão fotográfica, celebrou o nu feminino quer em enquadramentos e tomadas de vistas inusitadas em Man Ray (1890-1976) ou Brassai (1899-1984), quer na utilização dramática da luz ou em efeitos de solarizações executadas na câmara escura, explorados também por Man Ray ou Raoul Ubac (1910-1985), ou ainda nas distorções das formas femininas, nas fotografias de André Kertész (1894-1985).

Nesta imagem Lemos não só explorou a demarcação da luz intensa para iluminar a nudez do corpo feminino, mas também a dupla exposição que opera, nesse mesmo corpo, a sua ocultação/revelação através de um hábil jogo de luz e sombra projectada no panejamento que se estende na parede de fundo.

O aparente resguardo a que é sujeita a segunda figura pela primeira, é o que permite ligar as duas expressões e, através de uma relação claro-escuro, estabelecer uma estratégia da sensualidade que é latente no movimento de uma imagem que se furta ao olhar, para a outra que a ele se revela.

É a percepção desse movimento que eventualmente justificam os títulos «Mudança de Pele», que Lemos deu a esta imagem quando a expôs na FCG em 1982 (Os Anos 40 na Arte Portuguesa), ou «A Sensualidade que Avança», título atribuído por Lemos quando a apresentou no Museu de Arte Moderna de Sintra, em 2005.

JO
Maio de 2010