Na exposição de Fernando Azevedo, Fernando Lemos e Marcelino Vespeira, na casa de móveis Jalco, em 1952, os três artistas fizeram intervenções em quatro manequins (Vespeira recriou dois manequins), que expuseram, numa iniciativa idêntica à que tinha acontecido em Paris na Exposition Internationale du Surrealisme (1938), em que, de igual modo, foi pedido a alguns artistas que interviessem em manequins para apresentação.

Na imagem, Fernando Lemos fotografou o seu próprio trabalho, um meio corpo de manequim decapitado e sem braços, com uma espécie de turbante de tecido e um rasgão na «pele» produzido pelas mãos tintadas do autor que se espalham pelo corpo, numa aparente violência e violação destruidora.

A génese deste trabalho é referida pelo próprio Lemos, «… retrato falado e gestual, ele (o manequim) quis dar o alerta da sensualidade maliciosa e juvenil do apalpão tipicamente urbano e lisboeta. Exercício apetitoso e inevitável dos corpos apertados dentro dos eléctricos (quando cheios), na minha carreira da habitualidade: Campolide-Carmo.»* Foi por esta razão que denominou esta fotografia de «Manequim Assediado» quando a expôs no Museu de Arte Moderna de Sintra em 2005.

JO
Maio de 2010

* Colóquio / Artes, Lisboa, FCG, número 94, Setembro de 1992, p.12.