As séries que constituem o conjunto da obra pictórica de Lapa foram diversas vezes objecto de exposições individuais, justificando o artista quando afirmava “pintar mais exposições do que quadros”. Quixote na Bastilha é o título da exposição apresentada na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em 1993, e da série a que pertence Francisco de Assis. Exemplo da metodologia utilizada por Lapa, na ligação entre a pintura e literatura, este conjunto de obras é composto por oito quadros que se relacionam como uma narrativa, não no sentido diegético, mas numa combinação aparentemente aleatória e desordenada. Francisco de Assis torna-se o primeiro quadro de uma encenação que envolve outras personagens históricas e literárias tão díspares como Cléopatra ou Sinbad. Esta obra afasta-se das características e da coerência estilística que a crítica aponta em Lapa. O autor reutiliza como suporte uma sua pintura; a superfície creme, lisa, dividida por um traço amarelo, oculta Os treze cartões de «art moderne», presente na Exposição 73, também na SNBA, que se descobre nas formas sugeridas no plano superior do quadro. Lapa vai associar a Francisco de Assis, e a cada quadro desta série, um pequeno texto-legenda que não nos esclarece nem ajuda na compreensão das obras; ele funciona antes como uma cifra, fragmento de ficção, criando na obra uma relação ambígua entre a escrita e a imagem.

AS