Julião Sarmento

Lisboa, Portugal, 1948 – Estoril, Portugal, 2021

Julião Sarmento é um dos artistas portugueses com maior projecção internacional, tendo, desde a década de 1970, constituído um percurso singular em torno da representação da figura humana no âmbito de um território ambíguo, geralmente associado ao desejo, à violência, à compulsividade e à sexualidade, utilizando e combinando diferentes suportes como a fotografia, o vídeo, a instalação, a pintura e a gravura. Depois de uma estadia em Londres (1964-1965), o trajecto de Julião Sarmento inicia-se com a frequência do curso de Arquitectura da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa (ESBAL), entre 1967 e 1974, que não chega a terminar.

Os seus interesses, fortemente influenciados pela cultura anglo-saxónica, concentram-se na gestação de temas e imagens proporcionadas pela literatura e cinema, quase sempre presentes nas suas obras através de citações, montagens e manipulações processuais. É num ambiente configurado pelas heranças pós-minimais, pós-pop e pós-conceptuais que o trabalho de Julião Sarmento inscreve de forma original os seus primeiros traços.

O seu percurso, geralmente organizado em fases distintas, tem dialogado com as várias correntes plásticas dominantes, sem prejuízo da sua singularidade. Inicialmente, nos anos 1970, a imagem é reprodutível e as relações de significado entre texto e imagem são prioritárias, evoluindo, aos poucos, para a formação de um discurso sobre o desejo, a partir de dispositivos pictóricos geralmente associados a «um regresso à pintura», característico dos anos 80, para a qual convoca texturas e contrastes acentuados pela matéria do suporte da pintura. A depuração dos elementos de composição irá definir a evolução de uma obra que insiste sobre a negatividade da representação, sobre a inscrição do traço sobre o fundo branco, num enigmático jogo, entre sedução e violação, fragmentando e diluindo, aos poucos, a imagem obtida por entre as frestas da imaginação. Sucedem-se e ramificam-se os beijos, o toque e a perfuração da carne, as facas que ameaçam o corte, as mesas, os vestidos que ocultam, as mãos e os pés, as luvas, a arquitectura, o espaço interior e exterior, as marcas de uma presença, os indícios da transgressão.

Julião Sarmento realiza a sua primeira exposição individual em 1976, na Galeria de Arte Moderna da Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA), e em 1983 é um dos artistas participantes na fracturante exposição colectiva Depois do Modernismo, também na SNBA. Em 1997 representa Portugal na 47ª Bienal de Veneza. Do seu percurso destacamos, ainda, a participação nos grandes eventos da arte contemporânea: as Documenta 7, de 1982, e 8, de 1987, a XI Bienal de Paris, de 1980, a 49ª Bienal de Veneza, em 2001, a 25ª Bienal de S. Paulo, em 2002, entre outros projectos que lhe permitiram uma grande visibilidade internacional. Igualmente importantes, são as colaborações com Atom Egoyan, na 48ª Bienal de Veneza, em 2001, e com John Baldessari e Lawrence Weiner num filme realizado em 2004.

Amplamente reflectido pela crítica dos últimos trinta anos – Germano Celant, Alexandre Melo, Nancy Spector, Delfim Sardo, Hubertus Gabner, James Lingwood, Adrian Searle, Louise Neri, entre outros –, Julião Sarmento tem mostrado a sua obra em importantes instituições nacionais e internacionais: Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação de Serralves, Museo de Bellas Artes de Málaga, Fundação Luís Cernuda, em Sevilha, IVAM, em Valencía, Guggenheim, em Nova Iorque, e Van Abbemusem, Witte de With e Stedelijk Museum, na Holanda.

 

Pedro Faro
Maio de 2010

Atualização em 16 abril 2023

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