- França, c. 1858
- Óleo sobre tela
- Inv. 395
- Assinada: Ed. Manet
O Rapaz das Cerejas
O retrato esconde por detrás da alegria irreverente do modelo a trágica sorte do seu destino. Alexandre, que trabalhou para Manet lavando pincéis e ocasionalmente posando para ele, acabou por se suicidar com apenas quinze anos, no ateliê do pintor, na rue Lavoisier. Charles Baudelaire encontrou neste episódio inspiração para um conto dedicado a Manet, La Corde, inicialmente publicado em Le Figaro, a 7 de fevereiro de 1864, e posteriormente editado na compilação Le Spleen de Paris.
Esta obra de juventude, cuja inspiração deriva de Caravaggio e da pintura holandesa de género do século XVII, inscreve-se numa tradição realista de representação, com parapeito de pedra a delimitar o espaço da composição. Ao tema imediato do quadro, um retrato, Manet associa um outro, a natureza-morta, constituindo as cerejas uma alegoria dos sentidos. Existe, por outro lado, um conceito de modernidade subjacente à representação do quotidiano como tema de pintura, conceito que se inscreve numa ótica baudelaireana de afirmação da realidade contemporânea. Parece certo, entretanto, que Manet tenha refeito as mãos do rapaz, já que estas evidenciam a qualidade plástica e estilística característica de trabalhos de execução posterior.
Eugène Manet; Venda dos herdeiros Manet, 4-5 de maio de 1884 (n.º 23); Durand-Ruel; Coleção Maurice Leclanché. Adquirida por Calouste Gulbenkian por intermédio de Bernheim Jeune, 19 de abril de 1910.
A. 65,5 cm; L. 54,5 cm
Rouart e Wildenstein 1975
Denis Rouart e Daniel Wildenstein, Édouard Manet. Catalogue raisonné. Lausanne/Paris: La Bibliothèque des Arts, 1975, vol. I, pp. 38-39, n.º 18.
Paris 2000
Manet, les natures mortes, catálogo da exposição. Paris: Musée d’Orsay, 2000, pp. 72-75, n.º 8, 167.
Sampaio 2009
Luísa Sampaio, Pintura no Museu Calouste Gulbenkian. Lisboa/Milão: Museu Calouste Gulbenkian, 2009, pp. 216-217, cat. 97.