- China, final do século XVII
- Madeira de pinho ocidental
- Inv. 1023
Biombo «Coromandel»
O biombo «Coromandel» parece ter sido realizado como uma sumptuosa prenda para um alto dignitário local – um marechal ou general, provavelmente – por ocasião do seu quinquagésimo aniversário (conforme nos é revelado por uma inscrição, mas não a que se conserva na sua parte posterior, que parece ter sido «artisticamente» retocada numa data posterior). Composto por doze painéis de madeira (de pinho ocidental), articulados através de dobradiças também de madeira, este painel não se destinaria à exportação, como acontecia tantas vezes na China com peças que representavam personagens orientais e ocidentais. Toda a estrutura foi revestida de uma camada de argila em pó, protegida por fibras têxteis adicionadas para criar uma base consistente para as numerosas camadas de laca que irá receber. Após a laca estar completamente seca a peça foi incisa de acordo com os desenhos subjacentes previamente executados e os espaços daí resultantes foram preenchidos com pigmentos de cores vivas (vermelho, amarelo, turquesa, azul, entre outros) antes de receber o polimento final. Este biombo bastante incomum foi decorado com pinturas em papel, uma característica bastante rara. Todos os painéis, excepto os dois de ambas as extremidades, apresentam duas molduras – uma retangular no centro e uma circular no topo – nas quais as pinturas, baseadas em lendas e contos populares chineses, foram executadas. A margem em volta dos painéis retangulares é decorada por motivos geométricos em forma de feijão, intercalados com animais mitológicos entrelaçados, como dragões e fénix.
A parte inferior dos dez painéis centrais mostra um dignitário de elevada condição – aquele que pressupomos ser o marechal ou general, revelado pelos personagens de caráter militar junto às bandeiras na entrada do palácio – sentado num dos pavilhões do que presumimos ser o seu palácio e observando uma dança, enquanto nas outras áreas da residência são representadas cenas do quotidiano, a par de outras especificamente relacionadas com a celebração do seu aniversário, como a chegada de alguns convidados importantes (à direita); jogos e actividades desportivas – incluindo tiro com arco – são também representados e, numa cena em particular, vemos uma criança pequena num tapete rodeado por brinquedos que ditarão o seu futuro (como era a crença chinesa): dado que o rapaz parece preferir a arma, isso revelará que ele acabará por se tornar um soldado, como o seu presumível pai (ou avô), o homem cujo aniversário se celebra.
Outras cenas representam o que poderão ser os criados, ocupados com as celebrações, e uma considerável variedade de espécies de árvores e flores figuradas numa sequência de molduras. Estas espécies vegetais eram uma característica da iconografia chinesa da época e têm um importante significado alegórico. Por exemplo o pinheiro e o bambu – respectivamente símbolos da sabedoria e do amor – são reproduzidos ao lado de peónias e magnólias, símbolos da beleza feminina e do inverno e primavera.
Adquirido por Calouste Gulbenkian a J. Duveen, Londres, dezembro de 1920.
A. 283,5; L. 618; Prof. 2,5 cm