Irmãos Duveen

Calouste Gulbenkian começou a adquirir obras de arte no final do século XIX, conduzido sobretudo pelo seu gosto pessoal. Contudo, muitas das suas compras foram concretizadas após longas conversações com especialistas e negociantes de arte.
Ana Teresa Santos 30 out 2020 3 min
Uma Coleção com Histórias

Um dos nomes mais importantes na constituição da Coleção, com ligações a várias obras-primas adquiridas pelo colecionador, é Duveen. Joseph Joel Duveen (1843-1908) deixou a sua cidade natal de Meppel nos Países Baixos para se instalar em Hull, no Reino Unido. Juntamente com o seu irmão Henry, iniciou um negócio de venda de antiguidades e, posteriormente, de obras de arte, a Duveen Brothers. A loja conheceu grande êxito – o príncipe e a princesa de Gales terão sido clientes –, permitindo-lhes expandir o seu negócio a Londres, a Paris e a Nova Iorque.

Joseph Joel Duveen apoiou vários museus e galerias, tendo financiado uma extensão da Tate Gallery (atualmente Tate Britain), conhecida como a Ala Turner, por ter sido construída para expor obras do pintor inglês Joseph Mallord William Turner. No início do século XX, o seu filho Sir Joseph Duveen (1869-1936) juntou-se à Duveen Brothers, tornando-se um dos mais influentes negociantes de arte do século XX e dando continuidade ao negócio após a morte do seu pai.

Graças a Sir Joseph Duveen, a empresa prosperou nos Estados Unidos, vendendo sobretudo arte europeia, e teve um papel fundamental na criação de várias famosas coleções, como a Frick Collection. Além de Henry Clay Frick, na sua lista de clientes constavam nomes como Andrew Mellon e John D. Rockefeller. Aquando da morte do ilustre colecionador Rodolphe Kann, Sir Joseph Duveen comprou a sua coleção, que incluía importantes pinturas holandesas, de artistas como Vermeer, Van Dyck e Rembrandt.

Duveen foi de tal forma bem-sucedido que, a certa altura, a simples menção do seu nome relacionada com as obras acrescentava-lhes valor. O negociante terá ainda doado obras a alguns museus britânicos e financiado a construção de uma galeria no British Museum, erguida para instalar os «Mármores Elgin», uma coleção de esculturas em mármore oriundas do Parthenon de Atenas.

Domenico Ghirlandaio, «Retrato de uma Jovem», c. 1490. Têmpera sobre madeira. Museu Calouste Gulbenkian
Giuliano Bugiardini, «Retrato de uma Jovem», c. 1516-1525. Óleo sobre tela. Museu Calouste Gulbenkian
Relógio, século XVIII. Bronze e mármore. Museu Calouste Gulbenkian
Jarro, c. 1750-1755. Porcelana com guarnição em bronze fundido cinzelado e dourado. Museu Calouste Gulbenkian

Mais de cem das obras da Coleção Gulbenkian foram adquiridas através de Sir Joseph Duveen: o negociante não só vendeu peças a Gulbenkian, como o aconselhou em várias áreas da sua coleção, como o núcleo de arte egípcia, o que contribuiu para o desenvolvimento de uma relação próxima entre os dois – o colecionador referia-se a Sir Joseph pelo diminutivo «Joe».

Jarro executado para Ulugh Beg, 1417-1449, período timúrida. Jade branco (nefrite). Museu Calouste Gulbenkian

Entre as obras compradas através de Duveen contam-se objetos de diferentes tipologias, como livros, pinturas, peças de mobiliário, cerâmicas, esculturas, com destaque para o jarro em jade branco, realizado para Ulugh Beg, que pertenceu a Xá Jahan.

Série

Uma Coleção com Histórias

Por onde passaram as obras antes de chegarem às mãos de Calouste Gulbenkian? Quem foram os seus autores e os seus protagonistas? Que curiosidades escondem? Descubra nesta série as várias histórias por trás da coleção do Museu.

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