Charles Carpeaux
Filho do célebre escultor francês Jean-Baptiste Carpeaux, Charles Carpeaux (1870-1904) conviveu desde cedo com a arte da moldagem, posando para o seu pai regularmente, tanto sozinho como na companhia da sua mãe.
Apesar de Jean-Baptiste ter falecido quando o filho tinha apenas cinco anos, algumas das suas obras mais famosas são retratos de Charles. Uma das mais interessantes obras da sua autoria que Calouste Gulbenkian adquiriu foi Cupido Ferido. Quando Charles se feriu num braço, a mãe, para o consolar, ofereceu-lhe uma pomba. Este episódio inspirou Carpeaux, que terá obrigado a criança, à época com cerca de três anos, a posar durante várias sessões. Outra inspiração poderá ter sido uma pintura do seu contemporâneo William Bouguereau com o mesmo título.
Charles teve um papel importante na valorização da obra do pai, trabalhando numa monografia sobre a sua carreira, intitulada La galerie Carpeaux. Simultaneamente, foi assistente no Museu Indochinês do Trocadéro. A arqueologia acabou por se tornar a sua grande paixão e Charles viajou até à Ásia em várias expedições pelo Cambodja e pelo Vietname, onde realizou trabalho científico e fotografou as ruínas do santuário de Mỹ Sơn e do templo de Bayon, entre outros sítios arqueológicos. As suas memórias foram publicadas postumamente pela sua mãe, Amélie Carpeaux.
Contudo, embora as escavações tenham permitido descobertas incríveis, como templos e artefactos, as condições eram difíceis e os colaboradores estavam expostos a elevadas temperaturas e não tinham acesso a grandes cuidados de higiene. Várias pessoas adoeceram, entre as quais Carpeaux, que acabou por morrer com apenas 34 anos, sem regressar a França.
Grande parte dos originais das suas fotografias encontra-se atualmente no Museu Guimet. Em 2005, cerca de 100 anos após a sua morte, este museu organizou uma exposição sobre os tesouros do Vietname, restaurando e digitalizando as fotografias de Charles e dando-as a conhecer ao público.
Em memória do seu filho, Amélie ofereceu o modelo original de Cupido Ferido à Ny Glyptotek Carlsberg, de Copenhaga, cuja coleção inclui também uma versão em mármore. Em 2018, as duas obras foram apresentadas ao lado da edição em bronze da Coleção Gulbenkian na exposição Pose e Variações. Escultura em Paris no tempo de Rodin.
Uma Coleção com Histórias
Por onde passaram as obras antes de chegarem às mãos de Calouste Gulbenkian? Quem foram os seus autores e os seus protagonistas? Que curiosidades escondem? Descubra nesta série as várias histórias por trás da coleção do Museu.