Gestos, movimentos, rostos
«O autor destas páginas também desenha e não sabe expressar por palavras a extraordinária impressão que recebe sempre que copia o perfil de qualquer pessoa. A natureza chega tão complexa às feições de cada um, que somos forçados a não poder aceitar cada qual resumido ao lugar em que a sociedade o põe. Através dos séculos, uma linha única e incessantemente seguida acabou por tornar inimitável o perfil de cada um. Essa linha passa agora desde o alto da testa até por baixo do queixo, e às vezes lembra a de outros, mas é intransmissível.»
José de Almada Negreiros, Nome de Guerra, 1925
Em várias reflexões artísticas e políticas transmitidas em conferências e ensaios, Almada defende que a universalidade humana e a vida coletiva dependem do reconhecimento do particular de cada um. Na produção artística de Almada, o traçado dos rostos e corpos revelou-se também meio de experimentação, para além da representação dos retratados: o desenho dos gestos e movimentos foi pretexto quer para explorar a oscilação, a contorção e a flexibilidade da linha sinusoidal, quer para, noutros casos, jogar com a fragmentação geometrizada da representação, ou ainda para se expressar por via de uma linguagem ora realista ora neoclássica.
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