Esta exposição retrospetiva da obra de António Ole (Luanda, 1951) estabelece uma geografia vivencial, percorrendo ou criando pontes entre as cidades determinantes para o seu percurso artístico. Com formação em Cinema no American Film Institute de Los Angeles (1975) e em Cultura Afro-Americana na Universidade da Califórnia (1981-1985), o artista realizou a sua primeira exposição internacional no Museum of African Art de Los Angeles iniciando uma reflexão sobre a escravatura e o colonialismo.
Figura tutelar de toda uma geração de artistas contemporâneos angolanos, Ole afirmou-se internacionalmente através de uma obra que vai da escultura à instalação, da pintura e colagem ao desenho, da fotografia ao filme, em diálogo permanente com a cidade, e antes de mais com a cidade de Luanda, com a sua arquitetura e os seus habitantes. A hibridez e a junção de materiais diversos, as temáticas da ilha e do mar, bem como uma forte consciência social, são as linhas determinantes desta produção artística que teve o seu início em 1967.
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Paisagem Doméstica
«Paisagem Doméstica». Luanda, 1974. Guache sobre papel e lápis de cor. 24 x 24 cm. Coleção Sílvia Campelo. Fotografia: Carlos Azevedo
Sem Título (III)
«Sem Título (III)». Luanda, 1998. Fotografia montada em alumínio. 90 × 120 cm. Coleção do artista. Fotografia: António Ole
Margem da Zona Limite
«Margem da Zona Limite». Luanda, Joanesburgo, Lisboa, 1994-1995. Instalação (ferro, tijolos, corvos embalsamados, papel, pastas de arquivo, televisores). Dimensões variáveis. National Museum of African Art, Smithsonian Institution, museum purchase, 2009-9-1. Fotografia: Franko Khoury National Museum of African Art Smithsonian Institution
António-Ole
«O Mural de Maculusso». Luanda, 2014. Técnica mista e colagem sobre plástico. 152 × 281 cm. Coleção ACCA. Fotografia: JG.photography
À Conversa com António Ole
(Excertos da entrevista publicada no catálogo da exposição)
Por: Isabel Carlos
Isabel Carlos (IC): Talvez começarmos pelo título da exposição. São três cidades, que são a tua geografia de algum modo.
António Ole (AO): Sim, exato. Este triângulo: Luanda, Los Angeles, Lisboa.
IC: E a sensação que eu tenho, e me dirás se estou correta ou não, é que até à tua ida para Los Angeles, tu estavas sobretudo a olhar e a dialogar com a arte europeia, a Pop Art, o Surrealismo. E em Los Angeles, parece-me, olhando cronologicamente para as tuas obras, de repente encontras a tua africanidade.
AO: É verdade. Isso é correto!
IC: E porquê Los Angeles?
AO: Eu comecei muito cedo, por razões familiares mas também por causa do meu professor de desenho no liceu, o Eduardo Zinc, um apaixonado pelo Cubismo. Com dezasseis anos estava muito influenciado pelo Picasso e tentava repetir os cubistas. Quando chegou o 25 de Abril de 1974, tive a perceção de que deveria tentar uma paragem em relação à pintura e àquilo que fazia até então. Embora tenha feito uma infinidade de capas e ilustrações para livros de autores angolanos.
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