Cândido Costa Pinto. Retrospectiva: 1911 – 1977

Exposição itinerante e individual retrospetiva do pintor surrealista Cândido Costa Pinto (1911-1977), comissariada por Maria Rosa Figueiredo. A exposição permitiu o estudo e consequente apresentação da vasta e desconhecida obra de Cândido Costa Pinto, tendo alguns trabalhos vindo do Brasil, da coleção de Laurentina Simões Pinto.
Travelling retrospective exhibition on surrealist painter Cândido Costa Pinto (1911-1977) curated by Maria Rosa Figueiredo. The exhibition allowed for the study and subsequent presentation of Cândido Costa Pinto’s vast and unknown body of work, with some works having been flown in from Brazil, on loan from the collection of Laurentina Simões Pinto.

Exposição retrospetiva da obra de Cândido Costa Pinto (1911-1977), comissariada por Maria Rosa Figueiredo, concretizada em duas exposições: primeiro na Figueira da Foz, terra natal do artista, no Museu Municipal Dr. Santos Rocha (pintura e desenho) e na Assembleia Figueirense (obra gráfica), de 28 de março a 30 de junho de 1995, e, a seguir na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01), de 20 de julho a 30 de setembro de 1995.

A importância desta exposição é demonstrada pela composição da Comissão de Honra, constituída por Mário Soares, presidente da República Portuguesa, José Manuel Frexes, subsecretário de Estado da Cultura, Laurentina Simões Pinto, viúva do artista, António Arruda Ferrer Correia, presidente do Conselho Administrativo da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), Manuel Alfredo Aguiar de Carvalho, presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Joaquim Manuel Barros de Sousa, presidente da Assembleia Figueirense, José Alarcão Troni, presidente do Conselho Administrativo dos CTT, e Luís de Melo Biscaia, vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Figueira da Foz.

A Comissão Executiva da exposição foi constituída por Isabel Pereira e Ana Paula Cardoso, do Museu Municipal Dr. Santos Rocha, Jorge Molder, diretor do CAMJAP, Joaquim José Cerqueira da Rocha, da Direção da Assembleia Figueirense, António Augusto Menano, chefe de divisão da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Fernando António Baptista Pereira, presidente da Direção da APOM, e Madalena Brás Teixeira, museóloga.

A exposição foi uma iniciativa da APOM – Associação Portuguesa de Museologia, e justificou-se pela vertente de «promoção de todas as acções tendentes ao desenvolvimento da museologia em Portugal, nomeadamente através de iniciativas de carácter científico e técnico que assegurem um mais profundo conhecimento e divulgação do Património e, nessa dimensão, contribuam para um crescente diálogo intercultural», que esta entidade tem nas suas bases (Cândido Costa Pinto. Retrospectiva: 1911-1977, 1995, p. 11).

Neste sentido, ao selecionar o Museu Municipal Dr. Santos Rocha para ser a sede do seu colóquio anual, a APOM associou-se às comemorações do primeiro centenário da fundação do museu, no âmbito das quais propôs à sua diretora a realização de uma exposição retrospetiva de Cândido Costa Pinto, em conjunto com o Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Figueira da Foz.

A necessidade de reunir no mesmo espaço a totalidade da obra de Costa Pinto, assim como de realizar um estudo aprofundado da sua prática artística, foi defendida pelo diretor do CAMJAP, que lembrou a falta de reconhecimento do papel do pintor surrealista para as artes plásticas portuguesas, além da existência de um conjunto de ideias preconcebidas e de memórias imprecisas que lhe eram associadas e que precisavam de ser desconstruídas, nomeadamente a existência de «imagens vagas de um surrealismo paradigmático, algo estereotipado, e, inevitavelmente, o universo fascinante e inesquecível das capas que fez para a famosa coleção de livros policiais Vampiro» (Ibid., p. 9).

O grande desconhecimento do público em relação à obra do artista foi também referido pelo presidente da Direção da APOM, que elogiou a investigação feita para a exposição (com coordenação de Maria Rosa Figueiredo), que permitiu a descoberta de obras inéditas, algumas julgadas perdidas ou de paradeiro desconhecido, e contribuiu para uma definição mais fiel da produção artística multifacetada de Cândido Costa Pinto.

A dispersão e o desconhecimento da localização das obras de Cândido Costa Pinto e a perceção de que se tratava de uma figura-chave do surrealismo português não só justificavam a necessidade de investigar a fundo a sua obra, como seriam fatores determinantes para que o Serviço de Belas-Artes da FCG acedesse ao pedido da APOM e apoiasse a realização da exposição e do seu catálogo. Este apoio permitiria, nomeadamente, a deslocação da comissária ao Brasil, com o propósito de identificar e registar fotograficamente os trabalhos de Costa Pinto que se encontravam na posse da viúva do pintor.

Segundo Manuel Alfredo Aguiar de Carvalho, presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, esta exposição pretendia não apenas apresentar a totalidade do espólio artístico de Costa Pinto ao público português, mas também homenagear todas as instituições e colecionadores particulares que contribuíram com a cedência de obras para a mostra. De facto, foram numerosas as entidades e os colecionadores privados que contribuíram para esta exposição, que reuniu um total de 174 peças.

Já o texto assinado pela Direção da Assembleia Figueirense, presente no catálogo da exposição, lembra a importância da preservação e transmissão da memória de um local, neste caso, a Figueira da Foz, e das suas figuras mais importantes: «A ideia de fazer a retrospectiva da obra de Cândido Costa Pinto é uma tentativa de oferecer aos mais novos um estímulo espantoso, mostrar a obra de um grande pintor e de dizer aos outros que apesar, ou contra eles, alguns de nós, muito poucos, mas exemplarmente, acabam sempre por ultrapassar todos os bloqueios.» (Ibid., p. 7)

Além da apresentação do conjunto artístico de Costa Pinto, a produção da exposição pretendeu a elaboração de um catálogo raisonné, que reúne, graças à investigação exaustiva de Maria Rosa Figueiredo, a reprodução fotográfica de desenhos, gravuras, pinturas, pinturas murais, tapeçarias, caricaturas e ilustrações de humor, selos, capas e ilustração de livros, trabalhos de publicidade, cartazes e filmes produzidos pelo artista. O catálogo apresenta ainda ensaios assinados por José-Augusto França, Osvaldo de Sousa, Lídia Fernandes e Lima de Freitas, e uma compilação de textos de Costa Pinto reunida por José-Augusto França.

O conjunto de trabalhos selecionados deu a conhecer ao público uma obra marcada pelo grande interesse do pintor na sua contemporaneidade. Costa Pinto sentia ser sua obrigação o estudo da sociedade, retratando-a, o que explica o grande número de caricaturas que produziu desde os doze anos. O seu trabalho é ainda um reflexo da preocupação em saber mais sobre o modo técnico das artes plásticas, expressado através da escrita de vários textos, nos quais se incluem ensaios sobre o «Complexo Conceptual» e sobre o «Biomorfismo», ou sobre as técnicas a óleo produzidas pelos pintores flamengos. O grande interesse sentido pelo grotesco da Idade Média é também algo presente nas suas pinturas surrealistas e nos desenhos que assinava como Costa Pinto, Cândido, Tapim, Pin e Didinho, em jornais como O Piririsca, Diário de Notícias, Acção, Jornal da Tarde, A Noite, Sempre Fixe, República, Tempo Presente, e Vida Mundial Ilustrada.

Sobre a museografia da exposição e numa carta enviada a Laurentina Simões Pinto, Maria Rosa Figueiredo afirmou: «Estou francamente satisfeita com o resultado. Por haver mais espaço e este ser mais compartimentado, conseguiu-se uma distribuição das obras muito mais lógica, segundo critério cronológico e de afinidades. A obra gráfica de Cândido também ficou muito valorizada, não só os selos como os livros e a obra publicitária. As pessoas elogiaram bastante a exposição.» (Carta de Maria Rosa Figueiredo para Laurentina Simões Pinto, 25 jul. 1995, MCG 003316, Arquivos Gulbenkian)

Como forma de agradecimento pelos esforços envolvidos na produção da exposição e pelo reconhecimento do trabalho de Costa Pinto, Laurentina Simões Pinto doou dois trabalhos do pintor à APOM, Imaginando Música (s.d.) e Fado. Evasão (s.d.), com o objetivo de esta instituição os distribuir pelos museus que considerasse mais adequados. A escolha da APOM recaiu na Fundação das Comunicações, opção justificada pela colaboração intensa ao longo de várias décadas entre Costa Pinto e os CTT – Correios de Portugal e pelo patrocínio desta Fundação na exposição.

A crítica portuguesa viu esta exposição como uma iniciativa de necessidade inquestionável, nomeadamente a revista Colóquio/Artes, onde se escreveu: «Esta retrospectiva permitiu-nos conhecer melhor a personalidade singular e estranha de Cândido Costa Pinto, que investigava o segredo da pintura flamenga, e se fazia auto-retratar com símbolos, embora envolvido em polémicas que nos reportam para uma outra época da vida portuguesa, e que inevitavelmente o conduziram a uma certa insatisfação e isolamento.» (Tavares, Colóquio/Artes, out.-dez. 1995, p. 65)

Por sua vez, a montagem da exposição foi contestada. Embora mais bem conseguida que o momento expositivo da Figueira da Foz, segundo João Pinharanda, a mostra da FCG pecou por excesso de obras, o que terá contribuído para a perda de impacto de cada uma: «Esta retrospectiva permite, no método adoptado, questionar a solução das obras recenseadas de um autor. Trata-se de uma questão de gestão da imagem: mostrar tudo pode reduzir tanto a eficácia de uma obra que o espectador é levado a perguntar se o artista mereceria, afinal, uma retrospectiva; seleccionar momentos de excelência pode distorcer o sentido global da obra, elevando-a a níveis que, objectivamente, não atinge.» (Pinharanda, Público, 5 ago. 1995, p. 21)

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Composição surrealista

Cândido Costa Pinto (1911-1976)

Composição surrealista, 1962 / Inv. 81P426

Iniciação

Cândido Costa Pinto (1911-1976)

Iniciação, Inv. 81P1420

Mulher da época

Cândido Costa Pinto (1911-1976)

Mulher da época, 1941 / Inv. 83P117

s/título

Cândido Costa Pinto (1911-1976)

s/título, 1945 / Inv. 83P116

Composição surrealista

Cândido Costa Pinto (1911-1976)

Composição surrealista, 1962 / Inv. 81P426

Iniciação

Cândido Costa Pinto (1911-1976)

Iniciação, Inv. 81P1420

Mulher da época

Cândido Costa Pinto (1911-1976)

Mulher da época, 1941 / Inv. 83P117

s/título

Cândido Costa Pinto (1911-1976)

s/título, 1945 / Inv. 83P116


Publicações


Fotografias

Jorge Molder (à esq.) e Pedro Tamen(ao centro)
Maria Rosa Figueiredo (ao centro) e Pedro Tamen (à dir.)
Maria Rosa Figueiredo (frente, dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00336

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, apólices de seguro, listas provisórias de obras, orçamentos, recortes de imprensa e material para o catálogo. 1994 – 1996

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03316

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém lista de emprestadores e correspondência entre Maria Rosa Figueiredo, comissária da exposição, e os emprestadores. 1994 – 1999

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03317

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém lista de emprestadores e correspondência entre Maria Rosa Figueiredo, comissária da exposição, e a equipa de produção da exposição. 1994 – 1996

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03320

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém reproduções a preto-e-branco de obras de Cândido Costa Pinto. 1995 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03321

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém folhetos, programa de atividades culturais da Fundação Calouste Gulbenkian (julho/agosto/setembro 1995), recortes de imprensa, reprodução a cores e fotografias de algumas obras de Cândido Costa Pinto, correspondência com os emprestadores e fotocópia de «A Primeira Família», de Jules Supervielle. 1995 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03325

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência externa, apólices de seguro, recibos e formulários de empréstimo de obras. 1994 – 1996

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03326

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém cópias parciais e a preto-e-branco do catálogo do «1.º Salão de Estudantes de Coimbra em Lisboa» (1939), do catálogo da «Exposição Geral de Artes Plásticas» (1946), «14.ª Exposição de Arte Moderna» (1951) «V Exposição de Arte Contemporânea de Aguarela e Desenho» (1954) e da «Exposição dos Artistas Premiados pelo Secretariado Nacional da Informação» (1952), recortes de imprensa variados sobre Cândido Costa Pinto e material para o catálogo. 1994 – 1996

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 07363

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém material relacionado com a concessão de subsídios para realização a exposição e correspondência externa e interna. 1994 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG/03-S001-P0004/07-D00068

Coleção fotográfica: inauguração (Museu Municipal Dr. Santos Rocha; Assembleia Figueirense, Figueira da Foz) 1995


Exposições Relacionadas

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