«Talentos e Consciências da Europa. Fotografias de Jaydie Putterman» foi o título escolhido para dar nome à exposição de fotografia de Jaydie Putterman (1945), comissariada por Rosalynde Lesur, diretora da associação Fatjapublishing. A exposição teve o alto patrocínio da Comunidade Económica Europeia e esteve patente na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01), entre 13 de julho e 8 de agosto de 1993.

Originalmente intitulada de «Europe: Le Nouvel Humanisme», esta exposição fez parte de um projeto homónimo que consistiu na edição de um livro de arte reunindo mais de uma centena de fotografias de eminentes figuras do humanismo europeu. O livro foi publicado pela Fatjapublishing, em cinco línguas, nos finais de abril de 1992, e financiado por diversas entidades europeias. Neste volume são identificadas as personalidades e organismos oficiais cujo apoio foi considerado imprescindível para a realização do projeto (Talents and Consciences of Europe. Photographs by Jaydie Putterman, 1992, p. 240).

Jaydie Putterman pretendeu selecionar pessoas «boas» representativas de «todas as profissões e da população dos países europeus», pedindo a jornalistas de cada país que o auxiliassem nesta tarefa, já que não pretendia retratar «gente muito conhecida internacionalmente». Mas não foi sempre o caso, como o fotógrafo reconhece na entrevista que deu ao JL: «O caso de Madre Teresa de Calcutá é uma das excepções. Mas interessava-me escolher pessoas pelo seu mérito e não pelo facto de serem ou não conhecidas. Interessava-me, fundamentalmente, gente sincera, positiva.» (Nunes, JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 27 jun. 1993, p. 17)

A exposição passou por 19 países: Bélgica, Luxemburgo, Estados Unidos da América, Espanha, Portugal, Grécia, França, Checoslováquia, Itália, Holanda, Polónia, Suíça, Alemanha, Hungria, Inglaterra, Dinamarca, Áustria, Irlanda e Japão. Um dos objetivos dos organizadores foi que todo o lucro gerado pela exposição e pela venda de catálogos revertesse a favor de uma instituição de caridade de cada país. Em Portugal, a instituição escolhida foi a das Irmãzinhas dos Pobres.

José de Azeredo Perdigão, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, foi umas das 111 personalidades fotografadas, juntando-se a Jacques Delors, Juan Carlos I, Mary Robinson, Willy Brandt, Vaclav Havel, Peter Ustinov, Niki Goulandris, Victor Vasarely, Richard von Weizsäcker, o juiz Giovanni Falcone, a Madre Teresa de Calcutá, Juan Luis Cebrián, Alexandre Dubcek, Pierre Székely, Olga Havel, entre outros. Além de Azeredo Perdigão, outras personalidades portuguesas foram retratadas, como José Saramago, Maria de Lourdes Pintasilgo e Eduardo Lourenço.

Cada uma das 111 fotografias expostas foi acompanhada de uma legenda contendo o nome do retratado, uma referência ao seu papel na Europa e a bandeira da Comunidade Económica Europeia. Envolveram o mínimo de meios técnicos possível, e os retratados puderam escolher o local onde seria realizada a fotografia. Nestas condições, o fotógrafo pretendia captar expressões espontâneas e genuínas, num contexto de grande liberdade criativa. O meio utilizado – película de 35 mm (24 × 36 mm) – contribuiu para este objetivo, abrindo caminho ao improviso, à casualidade e à independência do fotógrafo, que declarou: «Alguns destes retratos foram feitos em quartos extremamente escuros, alguns em noites de Inverno, um num avião privado, outro na entrada de um convento, de madrugada, muitos em vulgares escritórios. Por último assinalo ainda que no caso de alguns retratos não dispus sequer do pouco tempo que havia solicitado. A Madre Teresa esteve na minha frente menos de um minuto e, para fotografar o presidente Vaclav Havel, desloquei-me à Checoslováquia para ter com ele um encontro que durou cinco minutos.» (Talentos e Consciências da Europa. Fotografias de Jaydie Putterman, p. 44)

A exposição foi divulgada na revista Colóquio/Artes e no Jornal de Letras. Na entrevista a Jaydie Putterman conduzida por Maria Leonor Nunes para o JL, o fotógrafo afirmou que a exposição pretendeu «transmitir "esperança" e dar a conhecer a pele de algumas "boas pessoas" do Velho Continente» (Nunes, JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 27 jun. 1993, p. 17).

Carolina Gouveia Matias, 2018