Stéphane Duroy. Portugal Terre d’Exils

No ano de 2006, foi realizada a exposição de fotografias do artista tunisino, naturalizado francês, Stéphane Duroy (1948). João Pedro Garcia, o então diretor do Centre Culturel Calouste Gulbenkian, programou e assegurou a realização da exposição e assinou o texto do catálogo.
In 2006, an exhibition of photographs by Tunisian-born French artist Stéphane Duroy (1948) was arranged and curated by João Pedro Garcia, director of the Centre Culturel Calouste Gulbenkian at the time, who also wrote the text for the exhibition catalogue.

No ano 2006, foi realizada a exposição de fotografia do artista tunisino, naturalizado francês, Stéphane Duroy (1948), por iniciativa do Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG), em Paris. O então diretor, João Pedro Garcia, assegurou a organização da mostra.

Stéphane Duroy vive e trabalha em Paris. Dedicado ao fotojornalismo, Duroy procura com as suas fotografias prestar tributo a uma Europa do século XX, atravessada por duas guerras mundiais e vários conflitos sociais, culturais e políticos. Ao longo da sua carreira, fotografou diversos momentos cruciais da história do continente europeu, como o período da Guerra Fria e a cisão entre Europa Ocidental e Oriental, os costumes da velha Europa ou a Queda do Muro de Berlim, em 1989.

No ano de 2003, o CCCG tinha já organizado uma exposição de Duroy, da série Héritages, constituída por fotografias a cidades europeias e americanas.

Através da delegação em França, a presente exposição visou cumprir um dos objetivos programáticos da Fundação Calouste Gulbenkian, o de promover o diálogo entre a diversidade cultural e artística da Europa. Como refere João Pedro Garcia, na introdução que assina no catálogo da exposição: «La Fondation Calouste Gulbenkian souhaite que sa Délégation en France soit, de plus en plus, un véritable lieu d'échanges entre cultures européennes.» (Stéphane Duroy. Portugal Terre d'Exils, 2006)

Subordinado ao tema «Portugal terre d'exils», Duroy esclarece o propósito do projeto, que, inicialmente, passava exclusivamente por um retrato da cidade de Lisboa, «un portrait libre de Lisbonne». Todavia, a ideia evoluiu para um sentido mais aprofundado do contexto português, anexo a uma ótica europeia: «Mais parce qu'une capitale ne donne qu'une idée partielle d'un pays, j'ai décidé d'approfondir mon travail photographique en traitant l'ensemble du Portugal dans une perspective européenne.» (Duroy, Memória descritiva, 24 nov. 2003, Arquivos Gulbenkian, PRS 05364)

Posteriormente, esta série de Portugal veio a ser incluída em dois projetos mais amplos do artista, alusivos à Europa do século XX e à consequente formação da União Europeia. A escolha de Portugal prendeu-se igualmente com a necessidade do fotógrafo de redimensionar as suas pesquisas geográficas (tendencialmente direcionadas para as regiões da Europa do norte, leste e centro) para um panorama sul-europeu. A par disso, Stéphane Duroy considerou as alterações políticas nacionais de então como fatores que acrescentavam valor ao seu trabalho (o fim da ditadura, o acesso à democracia, as reformas rurais e a entrada na UE).

Parafraseando Duroy: «Ces aspects de l'Europe que sont la mémoire et la construction de l'Union, m'ont orienté jusqu'à vers l’Europe du nord, de l’est, et du centre, de Berlin à Liverpool en passant par Paris, Verdun, puis Lotz (Pologne), Bratislava et d'autres. Le Portugal, situé au sud, rééquilibrera ce parti pris géographique. D'autres angles enrichiront l'étude, en particulier les grandes évolutions de la politique portugaise au cours du vingtième siècle, comme la fin de la dictature, l'accès en douceur à la démocratie et l'adhésion à l'Union Européenne, sans oublier l'évolution du monde rural bousculé par toutes ces réformes.» (Ibid.)

Para a exposição foram selecionadas maioritariamente fotografias de vários pontos das cidades do Porto e de Lisboa: vistas urbanas, o mar, parques, ruas, montras, interiores de lojas e cafés, teatros, objetos, etc. As fotografias – a cores, sépia e preto-e-branco – datam dos anos de 2002 a 2005.

Segundo o artista, os seus registos fotográficos de Portugal apoiavam-se sobretudo num olhar sensível do mar da costa portuguesa: «Par-delà les légendes, j'ai regardé l'Océan pour trouver un visage au Portugal. Car l'Océan hypnotise, captive, comme le vertige, installe les rêves de la fuite et de l'exil, abandonnant les restes d'un peuple dispersé.» (Duroy, [Texto avulso], abr. 2003, Arquivos Gulbenkian, PRS 05364)

No catálogo da exposição, Stéphane Duroy decidiu complementar a reprodução das suas fotografias com excertos de textos de Antoine de Saint-Exupéry (Lettre à un otage, 1943) e Charles Baudelaire (Le Spleen de Paris, 1869), com referências a Portugal e Lisboa. Sobre esse detalhe, notou João Pedro Garcia que o mesmo seria dispensável, tendo em conta a qualidade das fotografias: «Il a choisi un passage trop méconnu de Saint-Exupéry sur le Portugal pour “illustrer” ses photographies. En vérité cela n'était pas nécessaire, car elles parlent d'elles-mêmes. A la fois tendres et sans complaisance.» (Stéphane Duroy. Portugal Terre d'exils, 2006).

Editado pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian em língua francesa, o catálogo da mostra contém uma introdução do diretor, os excertos das obras já referidas e as reproduções de algumas das fotografias que integraram a exposição.

Na sequência da exposição, e a título ilustrativo, recolhemos uma crítica dedicada à série Portugal Terre d'Exils. O autor considerou Portugal um importante mote associado aos interesses e trabalho de Duroy: «Pour Stéphane Duroy, le Portugal est le lieu de tous les exils, de tous les espoirs: ceux des explorateurs du XVe siècle, ceux d'un peuple fuyant la dictature, ceux des chercheurs de terres meilleures pour travailler… C'est aussi un lieu de passage entre son travail sur l'histoire de la vieille Europe (le quotidien en Anglaterre depuis les années Thatcher, les lieux de mémoire à l'Est depuis la chute du Mur) et la découverte des États-Unis. Grâce à une bourse de la Fondation Gulbenkian, le photographe mêle comme toujours le noir et blanc et la couleur pour observer les respirations de cette terre et ses signes.» («Portugal, exils et espoirs», Le Monde 2, 20 mai. 2006, p. 13)

Como atividades paralelas da mostra, foram organizadas várias visitas guiadas à exposição.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05364

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, recortes de imprensa, correspondência oficial, fotografias da inauguração impressas e maquete do catálogo e do material gráfico da exposição. 2006 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05624

Pasta com folhetos de exposições organizadas no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris. 2003 – 2006

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05364

Coleção fotográfica, cor: inauguração (CCCG, Paris) 2006


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