Krzysztof Pruszkowski. Fotosynteza, 1975 – 1988

Exposição itinerante do fotógrafo polaco Krzysztof Pruszkowski (1943), organizada pelo Musée de l’Elysée de Lausanne. A mostra oferecia um panorama do seu trabalho a partir do momento em que este começara a explorar uma nova técnica de sobreposição de imagens, com resultados diversos e interessantes. O trabalho lançava questões de identidade do ser humano, da sociedade e da natureza.
Travelling exhibition on Polish photographer Krzysztof Pruszkowski (1943) organised by the Musée de l'Elysée de Lausanne. The show offered a panoramic overview of the artist's work from the time he started to explore a new technique of superimposing images, with diverse and interesting results. The work raised issues related to human identity, society, and nature.

Exposição individual do artista polaco Krzysztof Pruszkowski (1943), organizada pelo Musée de l'Elysée, de Lausanne, e apresentada na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna. Antes de chegar a Lisboa, esta mostra itinerante tinha estado patente em Lausanne e na Fundació «la Caixa» de Barcelona.

Radicado em Paris desde 1967, onde depois de trabalhar em gabinetes de arquitetura ingressou na carreira de fotógrafo de moda e publicidade, Pruszkowski começa a explorar a técnica de sobreposição de imagens a partir de 1975, iniciando assim as suas «fotossínteses», imagens fotográficas que vão para além do tempo e do espaço. A fotografia mais antiga apresentada nesta exposição data precisamente de 1975; nela estão sobrepostos os rostos de 8 Mannequins de l'agence Christa Modeling, remetendo para um estereótipo de beleza. Com este trabalho, o fotógrafo desafia o espectador a refletir sobre aquilo que é captado numa fotografia e a verdade que esta transmite.

No texto «Savoir, voir, vouloir, avoir, pouvoir, devoir» (1985), incluído no dossiê de imprensa criado pelo Musée de l'Elysée, da autoria de Pruszkowski, o fotógrafo enuncia o seu conceito de fotografia e o papel que esta assume na sociedade contemporânea, para justificar o seu posicionamento e os seus métodos de trabalho: «La photographie, avec sa capacité de représenter "tout, tout de suite", et exactement, est en elle-même l'image réduite de la société moderne de consommation. […] Ces images en trompe-l'œil (où l'objet périssable se fixe sur une surface plane, multipliable, transportable, stockable), parfaitement intégrées à nos modes de vie contemporains, nous fascinent jusqu'à nous dicter nos comportements, et leur pouvoir magique nous aveugle et nous empêche d'en voir les manipulateurs. […] Il est donc important de faire un travail rigoureux d'étude des photolangages avec leurs structures et leurs composants. […] ce procédé optico-chimique, doit être utilisé non pas dans son sens classique réducteur à deux dimensions, mais au contraire doit s'élargir à d'autres dimensions.» (Pruszkowski, «Savoir, voir, vouloir, avoir, pouvoir, devoir», jun. 1985, Arquivos Gulbenkian, CAM 00196)

Pruszkowski usa a fotografia como processo de reflexão e de crítica, e como chamada de atenção sobre o modo manipulador e enganador como este medium é usado na sociedade contemporânea. A sua proposta consiste em criar, por via da técnica, realidades improváveis, em que a veracidade do registo fotográfico na representação do real é questionada e ultrapassada através da exaltação da capacidade da fotografia em revelar o invisível, o irreal, o inexistente. Por isso o artista a afirma: «Faço fotografias de coisas que não existem, que nunca existiram, que nunca existirão, que nunca imaginei e que ninguém mais imaginou.» (Krzysztof Pruszkowski. Fotosynteza, 1975-1988, 1990)

Esta mostra constituiu uma retrospetiva da atividade de Pruszkowski ao longo de treze anos, remontando ao momento em que o fotógrafo decidiu explorar as potencialidades do que designou como «fotossíntese», processo inspirado nas experiências do fotógrafo Arthur Batut (1846-1918), que por sua vez refletem as teorias do antropólogo Francis Galton (1822-1911).

Como a exposição revela, Pruszkowski começou por aplicar as mesmas técnicas dos seus antecessores, mas com distintos pressupostos estéticos e ideológicos. Aos seus retratos de figuras marcantes – cf. Jean-Paul Sartre et Simone de Beauvoir (1984), President and Mrs. Reagen (1984), De Gaule, Pompidou, Giscard, Mitterrand: le Président de la Ve République française (1984), entre outros –, seguiram-se fotografias de nus femininos, esculturas, cenas do quotidiano, paisagens urbanas e jardins. Diferentes tempos e espaços condensados numa só imagem. Os resultados alcançados são diversos e apontam para questões distintas de identidade e condição do ser humano, da sociedade e da natureza. Em alguns casos, as imagens denunciam ironia, como no retrato-tipo do presidente da V República Francesa, noutros crítica, como no retrato 14 Terroristes libanais recherchés par la police allemande.

A receção da mostra pela imprensa escrita não foi consensual. António Cerveira Pinto salienta «o risco de esta exposição evidenciar pouco mais do que uma filiação historicista na fotografia construtivista das primeiras vanguardas do século», e considera que «a conversa de aproximação com o conceptualismo soa a falso» (Pinto, O Independente, 14 set. 1990, p. 41).

Alexandre Pomar assinala que a obra de Pruszkowski «felizmente […] não leva a sério a tese "científica" de partida», referindo-se às investigações de Galton, e afirma que «Pruszkowski não é um criador maníaco, obcecado pelo cumprimento de uma qualquer regra que identificou com a verdade revelada; é um jogador que se diverte a fabricar imagens insólitas». Pomar contrapõe ainda as fotografias das esculturas – que «conseguem envolver-se de um mistério bem-sucedido, que lembra tentativas iniciais do registo fotográfico» – à série En attendant Ludwik, que considera «apenas uma concessão mal defendida a emoções privadas» (Pomar, Expresso, 1 set. 1990, p. 11).

Num artigo publicado no jornal Público, Carlos Vidal, estabelecendo também um paralelo com Galton e com o modo como este «intentava chegar a um retrato ou imagem-tipo através da sobreimpressão de uma série de imagens», reflete acerca do conceito de «fidelidade» no trabalho de Pruszkowski: «Uma excessiva "fidelidade" tende a redundar num virtuosismo tecnicista, mais que programático ou ideológico; por isso o processo da sobreimpressão que é aqui aplicado, quer em referentes em movimento quer em estáticos, tende para o virtuosismo.» Todavia, a sua opinião diverge da de Pomar na apreciação da série En attendant Ludwik, em cujos «registos intimistas» e «menos retóricos que os anteriores» vê «alguns dos mais curiosos resultados deste trabalho [de sobreimpressão]» (Vidal, Público, 7 set. 1990, p. 15).

Esta exposição foi acompanhada por catálogo coproduzido pelo Musée de l'Elysée e pelo Centro de Arte Moderna, e para o qual Cerveira Pinto chamara a atenção, considerando-o um «objecto de colecção» (Pinto, O Independente, 14 set. 1990, p. 41).

Mariana Roquette Teixeira, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00196

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência; lista de obras; contrato de exposição entre o Musée de l'Elysée e o Centro de Arte Moderna; catálogos de exposições sobre a fotossíntese, de Krzysztof Pruszkowski, produzidos pela Centrum Sztuki Studio (Varsóvia), Galerie Frédéric Bazille – Ville Montpellier (Montpellier), Mala Galeria – Zwiazek Polskich Artystów Fotografików (Varsóvia); lista de itinerâncias da exposição; dossiê de imprensa criado pelo Musée de l'Elysée; material para o catálogo; convites. 1988 – 1991


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