Peregrinações. De Portugal ao Japão. Artes Decorativas entre os Séculos XVI e XIX. Homenagem a Maria Helena Mendes Pinto

Exposição que apresentou ao público a longa carreira de Maria Helena Mendes Pinto, especialista em arte indo-portuguesa e Namban. Ao longo de 18 núcleos e de 55 peças, a mostra apresentou o maior número de trabalhos realizados pela investigadora.
Exhibition presenting the long career of Maria Helena Mendes Pinto, a specialist in Indo-Portuguese and Nanban art. The show consisted of an impressive 18 sections displaying 55 works studied by the researcher.

Organizada pelo Serviço Internacional da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a exposição «Peregrinações. De Portugal ao Japão. Artes Decorativas entre os Séculos XVI e XIX» homenageou Maria Helena Mendes Pinto, considerada uma das maiores especialistas do mobiliário português e da arte Namban ao longo de quarenta anos. Reuniu cerca de 55 peças (provenientes de coleções públicas e privadas), por ela anteriormente selecionadas, que fizeram parte de um vasto número de exposições para as quais deu o seu contributo.

A organização da mostra ficou a cargo de Maria Fernanda Passos Leite, conservadora do Museu Calouste Gulbenkian, Maria Madalena Ataíde Garcia, conservadora do Museu de Arte Popular, e Maria da Conceição Borges de Sousa, conservadora da Coleção de Mobiliário e Arte Oriental do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), com as quais a homenageada partilhava uma relação especial. De acordo com a opinião das três comissárias, o essencial desta mostra seria homenagear a personalidade de Maria Helena, conhecida por ser «uma pessoa de um raro rigor científico e com uma enorme capacidade de trabalho» e também «muito perfeccionista e exigente» («Uma vida dedicada às artes», Correio da Manhã, 16 jul. 2003).

Patente na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 0), a mostra dividiu-se em «18 núcleos cronológicos que pretendem abarcar o maior número de trabalhos realizados pela investigadora». Entre os objetos apresentados, o visitante teve a oportunidade de apreciar um conjunto de peças de mobiliário, têxteis, ourivesaria e vidro «que reflectem as influências culturais entre Portugal, o Oriente e África» (Ibid.).

Nascida em 1923, após ter tirado o curso de Enfermagem, Maria Helena Mendes Pinto decide ingressar em Artes Decorativas na Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, tendo em 1959 começado a sua formação no Museu Nacional de Arte Antiga, onde, sob a orientação de João Couto, «organizou a colecção de mobiliário e a oficina de restauro de móveis». De acordo com a opinião da homenageada, o seu maior feito no MNAA foi ter conseguido, a partir de 1993, quando ficou com o cargo de gestora de projetos e do inventário do mobiliário indo-português, «arranjar espaço no Museu, salas que comportassem essas secções independentemente das outras» (Carvalho, Diário de Notícias, 12 jul. 2003).

A sua primeira colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian dá-se em 1981 quando trabalha na organização da exposição «Arte Namban», promovida pela Secretaria de Estado da Cultura. No mesmo ano, participa no grupo que organiza o conjunto de visitas guiadas intituladas «A Herança Francesa no Mobiliário Português» e, no ano imediato, realiza o seu primeiro grande trabalho para a FCG: a criação do Museu de Arte Sacra Indo-Portuguesa em Rachol, participando na elaboração do guião do programa expositivo do museu e na seleção das peças que iriam integrar o espaço expositivo.

Em 1995, faz parte da construção de raiz do Museu Indo-Português de Cochim e fica encarregada da exigente tarefa de selecionar e organizar a coleção de arte indo-portuguesa. Três anos mais tarde será cocomissária da exposição «Vasco da Gama e a Índia», que esteve patente na Chapelle de la Sorbonne, em Paris, e, a partir de 2001, será oficialmente nomeada consultora do Serviço Internacional da FCG (Peregrinações. De Portugal ao Japão…, 2003).

A exposição «Peregrinações» conduzia o visitante pelos vários projetos nos quais a homenageada participara, como a «XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura», em 1983, a exposição «Arte Namban», em 1989, o Festival Europália em 1991, as exposições «Vasco da Gama et l'Inde», em 1998, e «Artes Tradicionais de Portugal», em 2002, entre outros tantos projetos igualmente notáveis (Comunicado de imprensa, jun. 2003, Arquivos Gulbenkian, MCG 03280).

O visitante iniciava o seu percurso junto da primeira obra publicada por Maria Helena em conjunto com o seu marido, Victor Mendes Pinto, As Misericórdias do Algarve, na qual reuniu um trabalho exaustivo de levantamento de todo o património artístico presente nas Santas Casas da Misericórdia do Algarve, representado nesta exposição por um conjunto de três esculturas e duas bandeiras reais, tal como eram «designados os estandartes de Nossa Senhora das Misericórdias». Esta obra nasceu após Maria Helena ter passado férias no Algarve, onde foi abordada por um senhor que lhe falou sobre as cerca de vinte Misericórdias que lá existiam, tendo tido a oportunidade de estudar estas peças a partir das fotografias tiradas pelo seu marido (Peregrinações. De Portugal ao Japão… [Folheto], 2003).

A partir deste núcleo inicial, o visitante continuava o seu percurso, passando por outros projetos estudados e organizados pela homenageada, bem como pelo seu trabalho desempenhado no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), que recebeu em 1979 a exposição «Artes Decorativas Portuguesas no Museu Nacional de Arte Antiga. Séculos XV-XVIII», representada por peças de mobiliário, têxteis, ourivesaria e vidro, todas elas escolhidas criteriosamente por Maria Helena.

Foi no MNAA que atingiu o topo da carreira e que fez parte do comissariado de grandes exposições, como os núcleos dos Jerónimos e da Casa dos Bicos da «XVII Exposição de Arte, Ciência e Cultura», ou as exposições «Via Orientalis» e «De Goa a Lisboa», no âmbito do Festival Europália, que em 1991 escolheu Portugal como país-tema. Para Maria Helena, ambas as exposições realizadas no âmbito da Europália estiveram em «pé de igualdade» no que toca ao seu grau de importância, defendendo a ideia de que todas as mostras eram «filhas da XVII Exposição» (Carta de Emílio Rui Vilar para José Manuel Durão Barroso, 17 jun. 2003, Arquivos Gulbenkian, INT 04396).

O percurso terminava com a referência à exposição «Artes Tradicionais de Portugal», que, entre maio e julho de 2002, levou até ao Museu dos Têxteis de Jacarta vários objetos que testemunharam as artes tradicionais portuguesas. Esta exposição foi mais uma das colaborações entre a Fundação Calouste Gulbenkian e Maria Helena Mendes Pinto, consultora do Serviço Internacional da FCG, que «assinalou o restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países» (Peregrinações. De Portugal ao Japão… [Folheto], 2003).

Em suma, estas «Peregrinações» serviram como «pretexto para ver uma mistura inédita e variada de peças raras (na sua grande maioria do Museu Nacional de Arte Antiga), desde tapeçarias indo-portuguesas do século XVII até móveis (verdadeiras obras de arte em formas de arcas, cadeiras ou contadores), de proveniências e épocas diversas» (Almeida, Visão, 17 jul. 2003).

O projeto museográfico ficou a cargo de Mariano Piçarra, que, desde logo, percebeu que a sala que tinha sido inicialmente designada para albergar a exposição não reunia as condições necessárias para conseguir apresentar todas as peças selecionadas. De acordo com o testemunho de Maria da Conceição Borges de Sousa, foi o «entusiasmo» que levou à escolha de um maior número de peças (Uma Vida nas Artes Decorativas em Portugal. Homenagem a Maria Helena Mendes Pinto, 2003, Arquivos Gulbenkian, CDVD 1044).

O catálogo que acompanha a exposição apresenta um testemunho redigido pelo marido da homenageada, Victor Mendes Pinto, bem como textos de José Luís Porfírio, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga; Pedro Canavarro, comissário-geral da «XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura»; Simonetta Luz Afonso, diretora das exposições na Europália de 1991; e João Pedro Garcia, diretor do Serviço Internacional da FCG.

Além do catálogo, em 2005 a Fundação Calouste Gulbenkian produziu o documentário Maria Helena Mendes Pinto. Uma Vida nas Artes Decorativas em Portugal, com produção executiva de Paulo Seabra, do qual constam entrevistas realizadas às comissárias da exposição, a João Pedro Garcia, a José Blanco, administrador da FCG, ao designer Mariano Piçarra e à própria Maria Helena Mendes Pinto. Com uma duração de 72 minutos, o vídeo aborda, de um modo sucinto, as várias exposições e estudos realizados pela homenageada, bem como as várias peças apresentadas na exposição «Peregrinações. De Portugal ao Japão. Artes Decorativas entre os Séculos XVI e XIX».

«Não imagina a alegria que foi ter ido mostrar a exposição uma semana antes de ela abrir», afirmou João Pedro Garcia logo no início do documentário. Esta exposição, além de uma homenagem, foi uma prenda de aniversário para Maria Helena Mendes Pinto, que completaria 80 anos de vida nesse ano (Documentário Maria Helena Mendes Pinto. Uma Vida nas Artes Decorativas em Portugal, 2005).

A homenageada começa a falar do seu percurso de trabalho, confessando a «sorte» que tivera por «quase sempre» ter feito aquilo de que gostava. Demonstra igualmente o seu amor por móveis, principalmente por cadeiras: «Eu gosto sempre mais das cadeiras do que qualquer outro móvel», afirmou a especialista em arte indo-portuguesa e Namban (Ibid.).

No dia 18 de julho de 2003, no Auditório 3 da Sede da FCG, Mariano Piçarra deu uma aula aos alunos de mestrado em Museografia e Museologia da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, na qual explicou todo o processo de conceção da exposição.

Antes da inauguração da mostra, no dia 14 de julho de 2003, foi organizada uma visita guiada pré-inaugural para os jornalistas, orientada pelas comissárias da exposição, Maria Fernanda Passos Leite, Maria Madalena Ataíde Garcia e Maria da Conceição Borges de Sousa, bem como pelo diretor do Serviço Internacional da FCG, João Pedro Garcia.

Finalmente, no dia da inauguração estiveram presentes várias personalidades ligadas ao mundo da política e da arte, entre elas o primeiro-ministro de Portugal, José Manuel Durão Barroso, e a sua mulher, Margarida Durão Barroso. Nesse mesmo dia, além de ter sido surpreendida com esta prenda de aniversário, Maria Helena Mendes Pinto recebeu uma condecoração por parte do primeiro-ministro.

Joana Atalaia, 2019


Ficha Técnica


Coleção Gulbenkian

Tapete "Português"

Desconhecido

Tapete "Português", Inv. T99


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Peregrinações. De Portugal ao Japão. Artes Decorativas entre os Séculos XVI e XIX. Homenagem a Maria Helena Mendes Pinto]

18 jul 2003
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03280

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém folheto, dossiê de imprensa, documentação preparatória da exposição, empréstimo, transporte e seguro das peças, textos para catálogo e textos de parede, resumo da reunião com as comissárias da exposição, texto para folheto, desdobráveis sobre a exposição e convite. 2002 – 2003

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 04396

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentação sobre a montagem, inauguração e desmontagem, despesas com o material de divulgação, convites, pagamentos, textos da exposição e catálogo e correspondência trocada com as entidades que cederam as suas obras. 2003 – 2003

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 145840

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2003

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / SI-S038-P0010-D00127

Coleção fotográfica.: aspetos e inauguração (FCG, Lisboa) 2003

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / SI-S038-P0010-D00125

Coleção fotográfica: inauguração (FCG, Lisboa) 2003

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / SI-S038-P0010-D00128

Coleção fotográfica: visita de estudo (FCG, Lisboa) 2003


Exposições Relacionadas

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