Alex Flemming (1954) tinha marcado presença na coletiva «Cor e Desenho no Brasil», apresentada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) em 1985. É no final desse ano que se encetam conversações quanto à possibilidade de realização de uma exposição individual produzida pela Fundação (Carta de José Sommer Ribeiro para Flemming, 10 mar. 1986, Arquivos Gulbenkian, SEM 00381).

Contudo, foi apenas durante uma deslocação de José Sommer Ribeiro ao ateliê do artista, já em 1986, que o então diretor do Centro de Arte Moderna terá manifestado um interesse mais sólido por parte da FCG em avançar com a produção da mostra (Carta de Flemming para José Sommer Ribeiro, 24 nov. 1986, Arquivos Gulbenkian, SEM 00381).

A derradeira confirmação de José Sommer Ribeiro terá no entanto acontecido durante a inauguração da 19.ª edição da Bienal Internacional de São Paulo (2 de outubro a 23 de dezembro de 1987), já no final de 1987, reafirmando o papel preponderante desse certame para a programação expositiva da FCG no final da década de 1980 (Carta de Flemming a José Sommer Ribeiro, 3 nov. 1987, Arquivos Gulbenkian, SEM 00381).

Inaugurada a 16 de março de 1988, na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG, a exposição contava com 23 pinturas, marcadas por uma incursão de Flemming por passados iconográficos de diversas proveniências históricas. Do Antigo Egito ao Ocidente da Idade Moderna, o modo como o artista brasileiro vai beber às suas diversas fontes baseia-se num cruzamento de citações que se dá a ver numa miscelânea de figuras exóticas, metamórficas e monstruosas. Todas realizadas a tinta acrílica sobre tela, as 23 peças contaminam temas mitológicos e ancestrais com a saturação elétrica dos pigmentos industriais. Será assim que, nas palavras de Jean-Claude Bernardet, as suas «arqueologias» poderão provocar no espectador uma «vivência sensual e exuberante da história» (Alex Flemming, 1988).

O trabalho que Alex Flemming apresentou em Lisboa ecoa um pendor remotamente pop, transgredido por uma mestiçagem estilística que migra dos valores plásticos de cada imagem para os temas abordados. De forte impacto gráfico, ramificado a partir da gramática da gravura, as suas telas ensaiam uma estética energicamente urbana mas declaradamente seduzida por um certo etnicismo (síntese que várias correntes artísticas pós-modernas estavam então a tecer).

Atualmente, Flemming continua a dar seguimento ao seu percurso artístico a partir São Paulo, com um significativo palmarés de exposições a nível internacional.

Daniel Peres, 2018