A apresentação desta exposição em Lisboa nasceu de uma proposta da Diputación Provincial de Pontevedra à Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), servindo o duplo propósito de divulgar a arte galega contemporânea e estreitar os laços com Portugal. Foi comissariada pelo historiador Xosé Antón Castro, diretor da Secção de Artes Plásticas da Dirección Xeral de Patrimonio Cultural da Xunta de Galicia e professor na Facultade de Belas Artes de Pontevedra.

Seguindo uma sequência cronológica, esta mostra desdobrava-se em três núcleos – «Memória», «Uma geração em trânsito» e «Última geração» –, tendo os dois primeiros sido apresentados na Galeria de Exposições Temporárias da FCG e o último no Salão Nobre da Sociedade Nacional de Belas-Artes.

Com «Memória» e «Uma geração em trânsito», recuava-se até ao final da década de 1920, de modo a mostrar-se como, desde então, a arte galega vinha revelando uma contínua atualidade, sem perder os seus traços identitários e diferenciadores. Assiste-se nestes núcleos a uma fusão entre reflexões críticas sobre a realidade sociocultural galega e as preocupações da vanguarda. Aos artistas-chave da vanguarda histórica galega (Manuel Colmeiro, Manuel Torres, Laxeiro e Eugenio F. Granell) seguiam-se algumas propostas artísticas de neovanguardistas (Leopoldo Nóvoa, Manuel Ruibal, Ánxel Huete, Silverio Rivas), nas quais se reconheciam contributos para a arte contemporânea: «El espacialismo abstracto de Nóvoa (1919), las implicaciones pops e informales de Huete (1944), las figuraciones galego-parisinas de Ruibal (1942) y las articulaciones espaciales de la escultura de Silverio-Ribas (1942), ilustrarán la transición a la última generación.» (Memória Descritiva, 1987, Arquivos Gulbenkian, SEM 00367)

O último núcleo, apresentado na Sociedade Nacional de Belas-Artes, dava a conhecer a vasta e diversificada produção da geração «del atlantismo»: o seu experimentalismo nos campos da pintura, da escultura, do vídeo, da fotografia e da arquitetura, bem como o seu impacto a nível nacional e internacional. Por outro lado, este núcleo revelava o forte interesse dessa geração pelo cruzamento de elementos identitários (com a apropriação de símbolos e signos de caráter mítico e a exploração de materiais tradicionais) com aspetos, preocupações e meios da atualidade.

Mariana Roquette Teixeira, 2017