Imaxes da Arte en Galicia
Ciclo «Panorâmica da História da Arte em Portugal»
No início de 1990, a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) assina um convénio com a Fundación Pedro Barrié de la Maza (FPBM), em articulação com o Museo de Pontevedra. Destinava-se à mútua divulgação do património artístico e cultural português e galego em ambas as regiões ibéricas. De matriz bienal, o acordo seria prorrogado por diversas vezes, promovendo várias iniciativas até ao ano de 2001.
As duas fundações começariam por realizar, logo nesse ano de 1990, o ciclo «Panorâmica da História da Arte em Portugal», que integraria a exposição «Imagens da Arte em Portugal». Surgia como a atualização de uma itinerante homónima de 1983, também concebida pelo Serviço de Belas-Artes da FCG, e igualmente de documentação fotográfica. Registava a arte e o património arquitetónico e monumental em Portugal, da pré-história ao século XX, e seria apresentada nas cidades de Pontevedra (Museo de Pontevedra) e Corunha (Kiosco Alfonso), alargando-se ainda à vila de Lérez, todas povoações galegas. Em Portugal, a mostra passaria pelo Museu de Lamego e pela Câmara Municipal de Melgaço.
Homologamente, a exposição «Imaxes da Arte en Galicia» integraria, agora em 1991, o programa «Panorama da História da Arte na Galiza», segundo momento do intercâmbio entre a FCG e FPBM. A mostra seria inaugurada no dia 14 de novembro, na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 01), onde permaneceria até 13 de dezembro. Tal como acontecera com «Panorama da História da Arte em Portugal», o ciclo sobre a Galiza foi multifacetado (programa «Panorâmica da História da Arte na Galiza», 1991). Em Lisboa, somar-se-ia à exposição um ciclo de conferências, que teve lugar de 12 de novembro e 2 de dezembro de 1991, na Sala 3 da Zona de Congressos da FCG. Esses colóquios contariam com nove comunicações, uma por cada interveniente no catálogo então lançado, abordando a área temática que cada um tratara nessa publicação.
A componente musical do programa seria iniciada a 15 de novembro, dia seguinte à inauguração da mostra, com o mezzo-soprano Conchita Fraga e o pianista Javier Chau como protagonistas de um recital de música medieval galega, no átrio da Biblioteca de Arte da FCG. O enfoque na música continuaria a 2 de dezembro de 1991 na Sé Patriarcal de Lisboa, com um concerto de música sacra intitulado «Os Sons do Pórtico da Glória». Seria interpretado pelo Grupo Universitario de Cámara de Compostela, usando réplicas dos instrumentos representados nas esculturas do Pórtico da Glória da Catedral de Santiago de Compostela, um dos muitos elementos arquitetónicos que estariam em foco na exposição «Imaxes da Arte en Galicia». Os arquivos Gulbenkian conservam uma planta da zona do transepto da Sé Patriarcal de Lisboa, com anotações métricas, tendo em vista a realização dessa apresentação musical (Arquivos Gulbenkian, SBA 11326).
De entre todas as iniciativas programadas no âmbito do convénio assinado entre as duas Fundações, caberia à exposição «Imaxes da Arte en Galicia» a itinerância por Portugal. Foi planeada originalmente para a FCG, em Lisboa, e para o Porto, onde seria apresentada na Antiga Cadeia e Tribunal da Relação. Antes de terminar aí a sua circulação, acabaria também por ser apresentada, embora apenas parcialmente (núcleos referentes ao Românico e ao Barroco), no Museu Nogueira da Silva – Centro de Arte Visuais da Universidade do Minho.
Aí, foi também acompanhada por conferências de dois dos oradores participantes em Lisboa, o comissário da mostra, Xosé Carlos Valle Perez (diretor do Museo de Pontevedra), a cargo do estudo do Românico, e Xosé Filgueira Valverde, a quem tinha cabido a introdução à história da arte na Galiza (Ofício de César Valença para Artur Nobre Gusmão, 13 jan. 1992, Arquivos Gulbenkian, SBA 11326).
Tanto em Portugal como em Espanha, as mostras basearam-se em documentação fotográfica do património cultural de cada uma das regiões ibéricas, sempre com uma preocupação historicista no modo como coligiram e contextualizaram os seus conteúdos. No caso de «Imaxes da Arte en Galicia», o suplemento apenso ao catálogo lista 198 peças fotográficas, na sua maioria transparências montadas em caixas de madeira retroiluminadas. Mostraram arquitetura, objetos artísticos e achados arqueológicos da região da Galiza, desde a Pré-história ao século XX. Xurxo S. Lobato (1956) surge como o autor de 194 das 198 fotografias, sendo as restantes da autoria de quatro outros fotógrafos galegos.
O catálogo, de grande densidade científica, organiza sistematicamente esse longo trânsito pela história da arte na Galiza através de oito núcleos, nutridos pelos registos fotográficos apresentados na mostra. Curioso será notar que essa publicação dispensou uma tradução portuguesa, versando apenas em castelhano e galego – língua cuja percetividade para o público português terá sido provavelmente reconfirmada. Intencionalmente ou não, essa particularidade acaba por surgir como sintoma de uma confluência cultural que se pretendeu destacar com o convénio entre a FCG e a FPBM.
Com bastante êxito, esse protocolo manter-se-ia em anos futuros, oferecendo ao público iniciativas como as exposições «Arte de Cister em Portugal e Galiza», em 1998, e «Arte Românica em Portugal e Galiza», em 2001, ou ainda, no espectro da arte moderna e contemporânea, «Arte Portugués desde 1960 en la Colección del Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdição de la Fundação Calouste Gulbenkian» – esta última mostra foi apresentada em 1998 na sede da FPBM, na cidade da Corunha.
De relembrar que a FPBM conta atualmente com várias obras de artistas portugueses na sua «Colección de Arte Contemporáneo Internacional», sensibilização para a qual as cooperações com a FCG não terão sido alheias.
Daniel Peres, 2018
Ficha Técnica
- Iniciativa
- Organizador / Serviço responsável
- Organizador / Serviço envolvido
- Organizador / Parceiro institucional
- Programação
- Coordenação geral
- Equipa de museografia e montagem
Artistas / Participantes
Eventos Paralelos
Panorama da História da Arte na Galiza
Música I. Recital de Canto e Piano
Panorama da História da Arte na Galiza
Publicações
Material Gráfico
Documentação
Periódicos
Colóquio. Artes
Lisboa, dez 1991
Fontes Arquivísticas
Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 11326
Pasta com documentação referente à produção da exposição e da restante programação do ciclo de que fez parte ao abrigo do convénio celebrado entre a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundación Pedro Barrié de la Maza, do qual consta uma fotocópia. Esse acordo bienal prorrogável visou a divulgação mútua, entre cidades portuguesas e galegas, da arte de ambas as regiões e culturas, concertação que frutificou noutras ocasiões futuras. 1990 – 1992
Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 11327
Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentos de contabilidade interna (orçamentos e cálculos de despesa e receita, reservas de hotel, transportes). 1990 – 1992
Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25159
Pasta com programa do ciclo «Panorama da História da Arte na Galiza», que integrou a exposição. 1991
Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00487
Pasta com documentação referente à produção da exposição. 1991 – 1991
Exposições Relacionadas
Antropologia e Memória. Visão Actual da Arte Galega
1987 / Sede Fundação Calouste Gulbenkian; Sociedade Nacional de Belas-Artes, Lisboa
Presente da Cerâmica Espanhola
1990 / Itinerância [organização externa]
Do Tardo-Gótico ao Maneirismo. Galiza e Portugal
1995 – 1996 / Itinerância Espanha, Portugal
Arte de Cister em Portugal e Galiza
1998 – 1999 / Itinerância Portugal, Espanha