Exposição coletiva de cerâmica contemporânea espanhola, organizada pela Direção-Geral das Relações Culturais e Científicas do Ministério dos Assuntos Exteriores de Espanha.

Empenhada em divulgar a produção artística espanhola, nos seus mais variados campos, a Direção-Geral das Relações Culturais e Científicas procurava com esta exposição dar a conhecer os desenvolvimentos contemporâneos da cerâmica espanhola, que até então não tinha gozado da merecida atenção. Esta iniciativa não se circunscreveu ao território espanhol, vindo a prolongar-se numa itinerância internacional.

Apresentada pela primeira vez no Museo de Arte Contemporáneo de Madrid, esta mostra passou por diversas cidades europeias, como Frechen (Stiftung Keramion), Paris (Casa de España), Roma (Academia Española), chegando a Lisboa em 1990, e prosseguindo para Quioto (MoMAK – The National Museum of Modern Art, Kyoto), Siracusa (Everson Museum of Art) e Edimburgo (Richard Demarco Gallery).

Rosario Casso, comissária da exposição e conservadora-chefe do Departamento de Cerâmica do Museo Español de Arte Contemporáneo (MEAC), terá proposto a apresentação desta mostra ao Centro de Arte Moderna com o objetivo de dar continuidade, como a própria afirma, ao «testimonio de intercambios culturales tan frutíferos como las exposiciones que presentamos en el Centro de Arte Moderno de la Fundação y el Museo Español de Arte Contemporáneo en 1986» (Carta de Rosario Casso para José Sommer Ribeiro, 29 jan. 1988, Arquivos Gulbenkian, SEM 00433). Casso referia-se às exposições «Arte Contemporânea Espanhola. Reservas do MEAC» (1986) e «Arte Contemporáneo Portugués» (1987), com as quais o CAM e o MEAC haviam, anos antes, estreitado os laços entre ambos os países e divulgado a arte e a cultura ibéricas através das suas coleções.

Esta exposição reunia o trabalho de artistas com reconhecimento internacional, como Arcadio Blasco (1928-2013) e Elena Colmeiro (1932-2021), aos quais se juntavam Enrique Mestre (1936), Ángel Garraza (1950), Xavier Toubes (1947), Rosa Amorós (1945), Maria Bofill (1937) e Madola (1944), a maior parte deles representados com projetos recentes.

A Galeria do piso 01 do Centro de Arte Moderna foi dividida em espaços de diferentes dimensões, opção muito provavelmente motivada pela diversidade de escalas das peças selecionadas. Peças de pequenas dimensões como Enigma (1987), Encruzilhada (1988) ou Lugar para Brumas (1988), de Rosa Amorós, contrastavam fortemente, por exemplo, com a obra de cariz escultórico Fragmento (1987-88), de Xavier Toubes, com 172 cm de altura.

O uso da cerâmica por estes artistas ia muito além da criação de objetos utilitários e decorativos, como acontecia no passado, assumindo algumas vezes um caráter escultórico e monumental, como as peças Memória (1989), Muro (1988) e Sio II (1988), de Madola. Outro aspeto curioso eram os efeitos alcançados: as peças de Amorós exploravam formas toscas, imperfeitas; já os trabalhos de Enrique Mestre caracterizavam-se por um extremo rigor, e nelas imperavam as linhas retas; nos de Xavier Toubes encontramos uma predominância de superfícies irregulares pintadas livremente, salientando a qualidade plástica da cerâmica.

A exposição foi acompanhada por um catálogo em sete línguas (espanhol, alemão, francês, inglês, português, italiano e japonês), para melhor se ajustar aos locais da sua itinerância.

Mariana Roquette Teixeira, 2018